A dimensão <strong>de</strong> Proust Con<strong>de</strong> Robert <strong>de</strong> Montesquiou-Fezensac Retrato <strong>de</strong> Lucien Doucet, 1879. Musée national du château <strong>de</strong> Versailles. 323
Antonio Olinto eliminar logo esses concorrentes. Naquele começo <strong>de</strong> século, tudo já estava mais ou menos distribuído: valor, fama, prestígio – quem era esse Proust que vinha agora perturbar a paz dos escolhidos? Repito: quem era esse Proust que conseguia perturbar a paz dos escolhidos naquele segundo <strong>de</strong>cênio do século? Era um homem que vinha fazer uma revolução e mudar os caminhos do pensamento das gentes através <strong>de</strong> um relato <strong>de</strong> ficção-realida<strong>de</strong>. Comentando o Prêmio Goncourt, conquistado por Proust em 1919 com À l’Ombre <strong>de</strong>s Jeunes Filles en Fleur, dizia Jacques Rivière que há revoluções mais profundas que os falsos revolucionários, os puramente políticos, não vêem. Assim, enquanto muitos na França, naquele período que foi <strong>de</strong> 1910 a 1920, procuravam ser vanguarda apenas através <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sobediência (<strong>de</strong>sobe<strong>de</strong>cer às leis da gramática – <strong>de</strong> qualquer gramática, lingüística ou social – e combater em tudo o que hoje chamamos <strong>de</strong> Estabelecimento), enquanto escritores engajados em movimentos políticos insistiam em <strong>de</strong>terminar os possíveis caminhos que a literatura <strong>de</strong>vesse seguir – eis que aparecia um homem <strong>de</strong>sligado <strong>de</strong> tudo, um talvez bon-vivant, um componente da melhor socieda<strong>de</strong> local, um amador, diziam, que lançava um livro reacionário. Foi com esse adjetivo que praticamente toda a imprensa francesa da época rotulou a obra. Como podia esse amador ganhar o Prêmio Goncourt <strong>de</strong> 1919 concorrendo contra Roland Dorgelès, que escrevera um romance <strong>de</strong> guerra, participante, político, chamado La Croix <strong>de</strong> Guerre? Em <strong>de</strong>z votos, Proust obtivera seis contra quatro dados a Dorgelès. Foi um <strong>de</strong>us-nos-acuda. L’Humanité chegou a dizer que Proust era “um amador medíocre” que a direita francesa lançava contra os revolucionários. Contudo, a revolução estava em Proust e não em Dorgelès. Sob quase todos os aspectos, o livro <strong>de</strong> Dorgelès era bem-comportado, como bem-comportados são tantos livros aparentemente revolucionários <strong>de</strong> nosso tempo. A revolução <strong>de</strong> Proust nada tinha a ver com os interesses políticos do momento: a sua era uma revolução por <strong>de</strong>ntro. Vinha provar que a obra <strong>de</strong> arte vale por si, vale por si como religião, como razão <strong>de</strong> viver, como elemento impulsionador da hominização do próprio homem. Era, inclusive, obra edificante, no sentido <strong>de</strong> 324