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VÁRIOS AUTORES - Projeto de Mão em Mão

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19<br />

A Fera – Um caso <strong>de</strong> invectiva<br />

uma fera malvada. Ou, talvez, fosse pura e simplesmente<br />

louco.”<br />

Ele proferiu essa suposição num tom tão sincero que<br />

não pu<strong>de</strong> impedir-me <strong>de</strong> sorrir. Ele parou <strong>de</strong> mor<strong>de</strong>r o<br />

lábio inferior para me <strong>de</strong>saar.<br />

“E daí? Por que não? Por que não haveria algo <strong>em</strong> sua<br />

estrutura, <strong>em</strong> suas linhas que correspon<strong>de</strong>sse a… O que<br />

é a loucura? Apenas alguma coisa lev<strong>em</strong>ente errada no<br />

nosso cérebro. Por que não existiria um navio louco – quero<br />

dizer, louco <strong>de</strong>ntro da maneira <strong>de</strong> ser dos navios? De<br />

modo que, <strong>em</strong> circunstância alguma, você pu<strong>de</strong>sse ter certeza<br />

<strong>de</strong> que ele ia fazer o que qualquer outro navio ajuizado<br />

faria naturalmente para você? Há navios que avançam<br />

<strong>de</strong>scontrolados; outros cuja estabilida<strong>de</strong> não é conável;<br />

outros que precisam <strong>de</strong> vigilância cerrada quando navegam<br />

sob vendaval; e também po<strong>de</strong> haver navios que se<br />

comportam como se estivess<strong>em</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po borrascoso a<br />

cada ventinho. Mas nesses casos já se sabe que eles vão<br />

agir assim o t<strong>em</strong>po todo. Torna-se parte da personalida<strong>de</strong><br />

do navio, exatamente como se levam <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as<br />

peculiarida<strong>de</strong>s do t<strong>em</strong>peramento <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> ao lidar<br />

com ele. Mas com aquele navio, impossível. Ele era imprevisível.<br />

Se não fosse louco, então era a fera mais malévola,<br />

dissimulada e selvag<strong>em</strong> jamais lançada ao mar. Vi aquele<br />

navio navegar serenamente sob vendaval durante dois<br />

dias e, no terceiro, panejar 5 até duas vezes na mesma tar<strong>de</strong>.<br />

Da primeira vez jogou o timoneiro <strong>de</strong> um só golpe por<br />

cima da roda do l<strong>em</strong>e, mas como não conseguiu matá-<br />

-lo, tentou novamente cerca <strong>de</strong> três horas <strong>de</strong>pois. Encheu-<br />

-se <strong>de</strong> água na proa e na popa, estourou toda a lona que<br />

havíamos colocado, <strong>de</strong>ixou todos os marujos <strong>em</strong> pânico, e<br />

amedrontou até mesmo a senhora Colchester, lá <strong>em</strong>baixo,<br />

naquelas bonitas cabines da popa, <strong>de</strong> que tanto se orgu-

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