VÁRIOS AUTORES - Projeto de Mão em Mão
VÁRIOS AUTORES - Projeto de Mão em Mão
VÁRIOS AUTORES - Projeto de Mão em Mão
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
33<br />
A Fera – Um caso <strong>de</strong> invectiva<br />
rado. E estr<strong>em</strong>eceu. “Com um urro <strong>de</strong> cortar o coração,<br />
Charley mergulhou no mesmo instante atrás <strong>de</strong>la. Mas,<br />
Deus do céu, ele não viu n<strong>em</strong> sombra da boina vermelha<br />
<strong>de</strong>la <strong>de</strong>ntro da água. Nada! Nada mesmo. Num momento<br />
havia meia dúzia <strong>de</strong> barcos ao redor <strong>de</strong> nós, e Charley foi<br />
içado para um <strong>de</strong>les. Eu, com o contramestre e o carpinteiro,<br />
largamos <strong>de</strong>pressa a outra âncora e paramos o navio<br />
<strong>de</strong> qualquer maneira. O piloto estava abobalhado. Andava<br />
para cima e para baixo pela cabeceira do castelo <strong>de</strong> proa<br />
torcendo as mãos e resmungando para si mesmo: ‘Agora<br />
ele mata mulheres! Agora ele mata mulheres!’. E não era<br />
possível tirar <strong>de</strong>le nenhuma outra palavra.<br />
“O crepúsculo <strong>de</strong>sceu, <strong>de</strong>pois uma noite negra como<br />
piche; e, perscrutando o rio, ouvi uma baixa e lamentosa<br />
chamada, ‘Ó <strong>de</strong> bordo!’. Dois agua<strong>de</strong>iros 18 <strong>de</strong> Gravesend<br />
<strong>em</strong>parelharam conosco. Tinham uma lanterna na<br />
catraia 19 e olharam pelo costado do navio acima, segurando<br />
a escada s<strong>em</strong> dizer palavra. Vi, lá <strong>em</strong>baixo, numa nesga<br />
<strong>de</strong> luz, um feixe <strong>de</strong> cabelos louros, soltos.”<br />
Ele estr<strong>em</strong>eceu <strong>de</strong> novo.<br />
“Depois que a maré mudou, o corpo da pobre Maggie<br />
havia utuado, soltando-se <strong>de</strong> uma daquelas gran<strong>de</strong>s boias<br />
<strong>de</strong> atracação”, explicou. “Eu me arrastei até a popa, sentindo-me<br />
meio morto, e consegui disparar um foguete – para<br />
que os outros, que procuravam no rio, soubess<strong>em</strong>. Então<br />
avancei furtivamente para vante como um cão vadio e passei<br />
a noite sentado no calcanho do gurupés, <strong>de</strong> modo a car<br />
o mais longe possível do caminho <strong>de</strong> Charley.”<br />
“Pobre hom<strong>em</strong>!”, murmurei.<br />
“É. Pobre hom<strong>em</strong>”, repetiu ele, pensativo. “Aquela fera<br />
não <strong>de</strong>ixaria que ele – n<strong>em</strong> mesmo ele – a impedisse <strong>de</strong><br />
pegar sua presa. Mesmo assim ele a amarrou ao cais na<br />
manhã seguinte. Não trocáramos uma só palavra – aliás,