O Natal da Margarida e da Constança - Pegada-de-papel
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Conto <strong>de</strong> <strong>Natal</strong><br />
Era assim todos os Natais… Acor<strong>da</strong>va cedo, vestia a sua melhor roupa e ficava à janela com um olhar<br />
penetrante em todos aqueles que iam passando na rua. Depois ia com a mãe comprar os presentes para a<br />
noite. Eram às <strong>de</strong>zenas naquela casa! Mas não eram apenas os presentes que faziam a festa.<br />
A noite <strong>de</strong> <strong>Natal</strong> <strong>de</strong> Maria baseava-se sempre no mesmo: um gran<strong>de</strong> banquete em casa <strong>de</strong> um importante<br />
diplomata inglês, com uma <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> convi<strong>da</strong>dos que teriam a função <strong>de</strong> substituir a família. Mas tal era impossível,<br />
pois <strong>de</strong> todos apenas conhecia três ou quatro. Fazia-lhe falta o pai, que falecera, os avós e os primos, que viviam na<br />
zona pobre e não falavam com a mãe, fazia-lhe falta amor e afecto, um sorriso <strong>da</strong> mãe, nem que fosse com o olhar.<br />
– Menina Maria, já chegou o seu vestido para a noite <strong>de</strong> hoje. Pu-lo em cima <strong>da</strong> sua cama – disse a cria<strong>da</strong>,<br />
sorrindo. Era uma <strong>da</strong>s poucas pessoas <strong>de</strong> quem Maria gostava naquela casa.<br />
Apetecia-lhe rasgar o tal vestido e não ter <strong>de</strong> fingir adorar aquela festa natalícia sem ponta <strong>de</strong> alegria e na<strong>da</strong><br />
espontânea. Mas, para felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> sua queri<strong>da</strong> mãe, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a morte do seu marido estava triste e chorosa,<br />
tinha <strong>de</strong> ir.<br />
Foi para o quarto. Longe estavam os tempos<br />
em que costumava ficar empolga<strong>da</strong> com o vestido<br />
novo. Agora o vestido, a festa e os presentes não tinha<br />
sentido, só queria po<strong>de</strong>r ter um <strong>Natal</strong> normal.<br />
Vestiu-se. Estava mesmo bonito! O vestido<br />
vermelho <strong>de</strong> se<strong>da</strong> combinava com os enfeites <strong>de</strong> <strong>Natal</strong><br />
que tinham sido colocados na casa do Sr. Smith, o<br />
anfitrião <strong>da</strong> festa.<br />
Era agora <strong>de</strong> noite e os convi<strong>da</strong>dos iam<br />
chegando, os homens <strong>de</strong> smoking e as mulheres <strong>de</strong><br />
vestido. Era tudo tão perfeito, quase parecia retirado<br />
<strong>de</strong> um filme; mas era tão artificial! Eram poucos os que se conheciam bem ou eram amigos.<br />
– Maria, vamos para a mesa – anunciou a mãe, que envergava um longo vestido preto, <strong>de</strong> tecido brilhante.<br />
Dirigiu-se para a mesa sem sequer respon<strong>de</strong>r. Aproveitou o aglomerado <strong>de</strong> pessoas junto à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> sala<br />
<strong>de</strong> jantar e esgueirou-se para a cozinha, <strong>de</strong> modo a sair pela porta <strong>da</strong>s traseiras. Quando saiu, arrepiou-se com a<br />
massa <strong>de</strong> ar gélido que engrossava o ar. Viu alguém sentado sobre a neve, encostado à pare<strong>de</strong> <strong>da</strong> casa do vizinho.<br />
Não se lhe conseguia ver a cara, pois tinha o capuz enfiado pela cabeça abaixo, tapando-lhe os olhos.<br />
Aproximou-se para ver quem era. No momento em que ia falar, a pessoa <strong>de</strong>stapou a cara. Soltou um<br />
pequeno grito <strong>de</strong> admiração e <strong>de</strong>pois tomou a palavra.<br />
– Olá! Quem és tu e o que fazes aqui na noite <strong>de</strong> <strong>Natal</strong>? – perguntou Maria.<br />
O rapaz tinha um ar pensativo e compenetrado. Os seus olhos azuis, parecidos com cristais, percorriam<br />
Maria <strong>de</strong> alto a baixo.<br />
– Hummm… O meu nome é Franz. Estou aqui porque não tenho mais nenhum sítio para on<strong>de</strong> ir, não achas!?<br />
– respon<strong>de</strong>u com um tom <strong>de</strong> voz agressivo, que não parecia correspon<strong>de</strong>r àquela pessoa que ali estava senta<strong>da</strong>.<br />
Maria sentou-se ali com ele. Olhavam para a pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> tijolo sem propósito. Maria olhou Franz nos olhos e<br />
abriu a boca para falar.