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Capitulo 2 - Alessandro Tirloni - Famiglia Tirloni

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parda de Covo), que entrou desde logo a fazer parte de nossa família. Sobre esta<br />

personagem convém abrir um parênteses.<br />

Ela era uma ex-obstetra a quem, por motivos envoltos em mistério,<br />

provavelmente dos albores do Fascismo ou até mesmo antes, tinha sido cassada a sua<br />

liberdade de exercer profissão. Era uma mulher dotada de indubitável cultura, e foi<br />

ela quem ensinou a alguns rapazes da família <strong>Tirloni</strong> a ler e escrever. Seu pai era uma<br />

pessoa “incômoda” e, por isso mesmo, ela também havia sido colocada na berlinda.<br />

A Bígia (a parda, a escurinha) era famosa sobretudo como uma poderosa<br />

“curandeira” (dita em linguagem bergamasca “La settimina” ou “la segnuna”(= a<br />

benzedeira). A sua habilidade e os seus conhecimentos dos remédios naturais eram<br />

indiscutíveis, mas o seu aspecto exterior voluntariamente desarrumado ao extremo,<br />

fazia dela uma pessoa que podia muito bem ser aproximada das “bruxas” dos contos<br />

de fada.<br />

Vestida com mais saias, uma por cima da outra, tinha sempre os cabelos<br />

envoltos em variados e bizarros gorros. Contava-se que nunca tomava banho e que<br />

também a casa onde vivia – atualmente reduzida a poucas ruínas, chamadas de<br />

Fazenda Itália – bem espelhava, quer na desarrumação, quer no descuido das coisas,<br />

que tipo de dona de casa ela era.<br />

Como toda curandeira, também a Bígia estava cercada por um elo de mistério e<br />

de sobrenatural que alimentava ainda mais a sua fama de “bruxa”, e naquele tempo as<br />

pessoas, sobretudo por causa da pouca instrução, eram muito propensas a crer nestas<br />

magias e sortilégios, também porque existiam mais curandeiros do que médicos.<br />

Provavelmente ela era mais temida do que respeitada, mas era uma pessoa<br />

muito boa e procurava só ajudar – a seu modo – às pessoas em dificuldade. Jamais<br />

negava os seus serviços a quantos pedissem socorro. Ainda agora, os velhos de Covo<br />

contam de uma família que, por medo dela, a haviam expulsado de forma agressiva, e<br />

ela teria lançado sobre aquela família uma maldição, dizendo: “Agora vós me<br />

expulsais, mas virá o dia em que vós me procurareis” A profecia aconteceu, e quando<br />

naquela família ocorreu um grave caso de doença, logo mandaram chamar a Bígia<br />

que imediatamente se dirigiu para aquela casa para socorrer a pessoa doente.<br />

Com mais de oitenta anos a Bígia começou a ceder sob o peso dos seus anos e<br />

de sua falta de cuidados. Foi levada para o hospital - contra a sua vontade - e ali, a<br />

primeira coisa que os enfermeiros fizeram foi lavá-la, depois de decênios. A coisa<br />

não foi nada fácil porque se conta que a sua combinação estava já completamente<br />

grudada à pele, e não se conseguia tirá-la do seu corpo. A Bígia não queria que a<br />

lavassem e continuava a dizer: “Se me lavais, far-me-eis morrer”!<br />

Também desta vez a sua profecia foi verdadeira e na manhã seguinte a Bígia foi<br />

encontrada sem vida no seu leito de hospital. Depois do funeral religioso foi<br />

sepultada no cemitério de Covo, e até os nossos dias sobre a sua sepultura não faltam

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