Capitulo 2 - Alessandro Tirloni - Famiglia Tirloni
Capitulo 2 - Alessandro Tirloni - Famiglia Tirloni
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Esta carta não precisa de comentários! É o triste desabafo de uma jovem<br />
senhora desanimada pelas injustiças perpetradas pelo próprio pai, em nome do deus<br />
dinheiro. Uma vez pago o dote, a filha pertencia toda ao marido, como se fosse uma<br />
mercadoria, e ele – <strong>Alessandro</strong> - já não tinha mais obrigações de qualquer tipo, em<br />
relação a ela. Graças a esta carta endereçada à irmã Rosa, de Nova Trento, e<br />
conservada por ela, carta que chegou até os nossos dias, a figura do velho <strong>Alessandro</strong><br />
foi desmascarada e legada ao juízo dos parentes futuros, em toda a sua real crueldade.<br />
Não sabemos o que sucedeu logo após esta carta. Não sabemos como se<br />
comportaram os irmãos do Brasil. Não sabemos se o velho <strong>Alessandro</strong> se converteu<br />
de suas absurdas convicções. Mas já não havia mais tempo para fazer nada: dois<br />
meses depois, na manhã do dia 22 de abril, depois de ter recebido o conforto<br />
religioso, Francesca chegou à paz eterna, com apenas 26 anos.<br />
Quem sabe se <strong>Alessandro</strong> foi atingido por algum sentimento de culpa...<br />
Uma coisa que nos deixa estupefatos é o fato de que alguns dias antes da morte<br />
de Francesca, ter chegado outra carta ao Brasil, escrita por Eliseu no dia 30 de março.<br />
Ele iniciou a carta assegurando a todos os irmãos brasileiros que todos os<br />
componentes da família gozavam de perfeita saúde. Escreveu textualmente:<br />
“Ficamos todos muito contentes de saber que a vossa saúde está perfeitamente ótima,<br />
assim também posso assegurar-vos da parte de todos nós, na família.<br />
Estas notas, de fato, eram usadas como pura formalidade no início da<br />
correspondência, mas causa espanto pensar que, enquanto Eliseu escrevia estas<br />
coisas, Francesca estava vivendo o seu último mês de vida. É provável que com essa<br />
declaração, Eliseu quisesse referir-se somente aos residentes na Battagliona, e<br />
portanto não incluía Francesca, que já não vivia na casa paterna.<br />
A desesperada carta de Francesca nos oferece a oportunidade de descobrir uma<br />
coisa interessante, porque a revelação do testamento nos permite quantificar a riqueza<br />
do velho <strong>Alessandro</strong>, que em 1920 possuía uma fazenda e 275.000 liras. A fazenda<br />
era pequena, mas a liquidez que tinha à disposição era, de fato, naquele tempo, muito<br />
considerável!<br />
Se nos dias de hoje nos causa uma má impressão a disparidade de tratamento<br />
entre os filhos homens e as filhas mulheres, é preciso dizer que, naqueles tempos, era<br />
tudo muito diferente, e era praxe deixar às filhas só uma cota chamada “a legítima”.<br />
Não sabemos se essa cota era um percentual fixo bem preciso, mas no caso em<br />
questão, as filhas receberam somente 8,5% da cota destinada aos filhos homens. A<br />
diferença entre as duas cifras é muito grande!<br />
Ainda conforme a carta que Eliseu escreveu para o Brasil, no dia 30 de março<br />
de 1920, chegou-se a saber que, no Brasil, os nossos parentes se movimentavam para<br />
mandar os filhos para a escola, e Eliseu se alegrou com a escolha. Mas aproveitou<br />
para reprovar o pai <strong>Alessandro</strong> que, pelo contrário, nunca cuidou de dar cultura aos<br />
filhos, destinado-os a se tornarem “grandes e asnos”!