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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SILVESTRINI Da paixão ao ...

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separação e dúvida com relação <strong>ao</strong> reatamento do amado; depois a perda desta esperança e,<br />

finalmente, o ressentimento por não ter tido em momento algum palavras tênues para<br />

amenizar a dureza do abandono.<br />

Acrescenta Delgado (1973) que as Cartas são compostas de frases soltas, expressão<br />

de sentimentos que rapidamente se contradizem, em certos casos na luta tremenda entre o<br />

amor e o ressentimento. Constituem-se pintura admirável duma alma atormentada por uma<br />

<strong>paixão</strong> muito violenta, considera o autor.<br />

O reconhecimento das Cartas vem em primeira mão, de Paris, a partir de uma<br />

tradução de José Maria de Sousa Botelho, em 1669. Filinto Elísio foi o primeiro tradutor<br />

das Cartas que aceitou sem objeção nem reserva a tradição de que eram originalmente<br />

portuguesas.<br />

Jaime Cortesão, em seu esboço crítico da edição de 1920 das Cartas Portuguesas,<br />

questiona sobre um tradutor francês que curioso dos segredos amorosos das Cartas,<br />

preocupou-se com sua versão perfeita, deixando escapar alguns portuguesismos de forma,<br />

por incompreensão do sentido, ou pela incapacidade de reduzi-las <strong>ao</strong> gênio da própria<br />

língua. Abadade St Leger, assim responde (1920, p.11) “Não se faz tolerar não pelo fundo<br />

das idéias que pertencem <strong>ao</strong> original, abstrahindo dos innumeraveis defeitos de translação”.<br />

Morgado Matheus, tão conhecedor das duas línguas dirá por sua vez: “a construção de<br />

muitas phrases é tal que retraduzindo-as, palavra a palavra, em português, encontrar-se-hão<br />

inteiramente no gênio e no caracter desta língua”(p.20)<br />

Acrescenta Cortesão (1920, p.20):<br />

Nós iremos mais longe: há na traducção francesa phrases obscuras,<br />

incoherentes ou artificiosas pela clara insufficiência do traductor.<br />

Citaremos esta “...je vous remercie dans lê fond de mon coeur, du<br />

desespoir...”expressão inusitada no francês, mas que tenta<br />

incomprehensivamente traduzir o modismo português: agradeço-lhe do<br />

fundo do coração...E é tão flagrante o conjunto dessas phrases que só por<br />

si constitue uma das mais concluentes provas a favor da authenticidade<br />

das Cartas.<br />

Maurice Paléologue no esboço crítico da edição de 1920 faz o seguinte comentário<br />

sobre as Cartas: “Uma obra de arte ou de litteratura, ainda quando muito perfeita, não passa<br />

duma cópia da vida: as Cartas são a própria vida”.<br />

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