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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SILVESTRINI Da paixão ao ...

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eligiosa: que vous m’estes dur! 25 .<br />

Na litografia do anexo X permanece a deformidade nos traços. A<br />

expressão do olhar mais aliviada, uma vez que está concluindo a quarta<br />

carta e o desabafo. Mesmo expressando todos os seus dissabores,<br />

revelando do mais profundo da alma todo seu sofrimento, ainda não se<br />

encontra conformada com sua situação de abandono e rejeição, o amor<br />

fala mais alto. Atestam as palavras que acompanham a figura da<br />

Ah, como eu te amo, e como tu és cruel! Nunca me escreves; não consigo<br />

deixar de te dizer ainda isto. Recomeço, e o oficial partirá. [...]O tamanho<br />

desta carta vai assustar-te: não a lerás. Que fiz eu para ser tão desgraçada?<br />

Porque envenenaste a minha vida? Porque não nasci noutro país. Adeus!<br />

Mariana procura encontrar as razões desse sofrimento que a consome e não se<br />

conforma de não ter sido correspondida. A dor ainda corrói seu coração e é expressa na<br />

litografia de Matisse: os traços do rosto, o olhar questionador e a expressão dos lábios<br />

corroboram esse questionamento: “Não esperava ser tratada assim por ninguém: devias<br />

lembrar-te do teu pudor, da minha confusão, da minha vergonha, mas tu não te lembras de<br />

nada que possa levar-te contra vontade a amar-me”. Sua decepção com o abandono e a<br />

indiferença de Chamilly, tema principal da narrativa das cartas, está refletida nos traços,<br />

linhas e contornos das litografias que ilustram essa edição das Cartas Portuguesas.<br />

Na quinta e última carta, o narrador, pela última vez declara o fim do seu<br />

relacionamento com Chamilly, convencida de que tudo foi um grande engano. Devolve, por<br />

intermédio de Dona Brites, o retrato e as pulseiras recebidas de presente, depois de imensas<br />

lágrimas e hesitações, revelando, finalmente, que havia tentado de todas as maneiras curar-<br />

se da <strong>paixão</strong>, mas não livrara-se dela. Contraditoriamente, suplica que permaneça em<br />

silêncio, único meio de esquecê-lo. Num tom fortemente magoado pede que Chamilly não<br />

mais interfira no seu destino (Não se meta pois no meu caminho), chegando a pensar que<br />

poderia ter conhecido outro “amante melhor e mais fiel”, provocando-lhe inúmeros<br />

questionamentos sobre a experiência vivida. Essa idéia provoca-lhe, mais uma vez, a<br />

autocomiseração (é tal a pena que sinto por mim), sentimento negativo que a leva <strong>ao</strong><br />

desespero final. Assume toda a culpa da <strong>paixão</strong> e da desgraça que foi abatida, reiterando as<br />

razões para odiá-lo e expressa o desejo de entregá-lo à vingança da família. Nesta última<br />

25 Tradução segundo Eugênio de Andrade Como eu te amo! E tradução de Jaime Cortesão Quanto me és caro!<br />

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