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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SILVESTRINI Da paixão ao ...

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estam apenas lágrimas, o leitor entende que nada restou a não ser a saudade daquele que<br />

tanto amou:<br />

Ai! Os meus (olhos) estão privados da única luz que os alumiava, só<br />

lágrimas lhes restam, e chorar é o único uso que faço deles, desde que<br />

soube que havias decidido a um afastamento tão insuportável que me<br />

matará em pouco tempo. (ANEXO A)<br />

Num relacionamento amoroso, ser desejado pelo outro é fundamental, mas,<br />

contraditoriamente, esse desejo implica em sentimento de vulnerabilidade, de estar à mercê<br />

do outro e sujeito <strong>ao</strong>s seus caprichos e desejos. Desta forma, surge a ambivalência ligada<br />

<strong>ao</strong>s sentimentos de amor, ódio, ciúme, inveja, desejo e rejeição, sempre presentes nas<br />

relações amorosas. O destino desses sentimentos dependerá de como o par consegue<br />

administrá-los. Se prevalecerem os sentimentos positivos, sobressairá a tolerância e não a<br />

frustração; a energia poderá ser empregada construtivamente no relacionamento.<br />

Esses sentimentos opostos estão explícitos na primeira Carta:<br />

Uma <strong>paixão</strong> de que esperaste tanto prazer não é agora mais que um<br />

desespero mortal, só comparável à crueldade da ausência que o causa.<br />

(ANEXO A, p.89). 14<br />

Os sentimentos de Mariana, declaradamente, não deixam dúvidas quanto à decepção<br />

sofrida. Uma declaração de amor é algo profundo que poderá atingir o desejo de morrer,<br />

quando não correspondido surge o ódio, sentimento contrário. Na primeira carta, a<br />

expressão “vai ser muito desgraçado” revela esses sentimentos de desejo e rejeição:<br />

Mal te vi a minha vida foi tua, e chego a ter prazer em sacrificar-ta. Mil<br />

vezes <strong>ao</strong> dia os meus suspiros vão <strong>ao</strong> teu encontro, procuram-te por toda a<br />

parte e, em troca de tanto desassossego, só me trazem sinais da minha má<br />

fortuna, que cruelmente não me consente qualquer engano e me diz a todo<br />

o momento: Cessa, pobre Mariana, cessa de te mortificar em vão, e de<br />

procurar um amante que não voltarás a ver.(ANEXO A, p.89)<br />

No fragmento acima, Mariana deseja ardentemente estar com seu amado. Os seus<br />

pensamentos estão ligados à sua figura, e a sua vida está vinculada a alguém que não<br />

responde as suas cartas, causando-lhe profundo desgosto e a certeza da rejeição.<br />

14 Grifo nosso<br />

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