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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SILVESTRINI Da paixão ao ...

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A obra de arte é comunicativa, por isso mesmo é que depende do leitor para que seu<br />

sentido seja constituído. Na verdade, a presença do leitor é exigida pelo próprio texto<br />

literário ou ficcional. O texto literário é comunicação e a leitura que se faz dele apresenta-se<br />

como uma relação dialógica. Iser (1996, p. 123) esclarece que<br />

[...] os textos ficcionais não explicam suas próprias decisões seletivas, de<br />

modo que o leitor precisa motivar as decisões seletivas do texto <strong>ao</strong><br />

transcodificar os valores que conhece. Nesse processo se realiza a<br />

comunicação do texto, em que se cumpre a mediação entre leitor e uma<br />

realidade que não lhe é mais dada sob condições conhecidas.<br />

Como leitor das Cartas, na elaboração das litografias, Matisse utilizou lápis de<br />

diferentes cores. Para as vinhetas com flores, empregou a cor lilás que expressa a<br />

espiritualização da alma, reportando à <strong>paixão</strong> de Cristo. Para o rosto de Mariana, usou lápis<br />

marrom, a cor da ordem religiosa Clarissa Franciscana, também a cor da terra, da<br />

maturidade e da responsabilidade, conforme Borrela (2007).<br />

Matisse, <strong>ao</strong> apresentar inicialmente cada sessão de<br />

litografias referentes às Cartas, desenha uma folha com números<br />

indefinidos de pétalas, espécie de barroquismo sensual, orgânico<br />

e voluptuoso. Pode referir-se à multiplicidade das questões do<br />

amor e às dúvidas e polêmicas sobre o número de cartas escritas,<br />

ou ainda, <strong>ao</strong>s períodos ou frases que o artista pretendeu destacar<br />

na sua leitura. Constatam-se tais hipóteses nos anexos: G, H, I,<br />

L, O, R e Y.<br />

Contra todas as proibições históricas que o amor de Mariana por Chamilly se<br />

desenvolveu, considerando o seu comportamento transgressivo, a religiosa não teve<br />

percepção da perda amorosa, <strong>ao</strong> colocar em jogo a sua reputação de freira e <strong>ao</strong> enfrentar a<br />

família e as leis conventuais. Há o registro de uma coragem pessoal, cuja crença era na<br />

manutenção de sua felicidade erótica, considerando a dor como um dos principais<br />

componentes diante do abandono, que não era esperado ou previsto, segundo suas próprias<br />

palavras:<br />

Fiquei tão prostrada de comoção que durante três horas todos os meus<br />

sentidos me abandonaram; recusava uma vida que tenho de perder por ti,<br />

já que para ti, já que para ti não posso guardar. (ANEXO A).<br />

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