ANEXOS 96
ANEXO A Primeira carta 33 Considera, meu amor, a que ponto chegou a tua imprevidência. Desgraçado! Foste enganado e enganaste-me com falsas esperanças. Uma <strong>paixão</strong> de que esperaste tanto prazer não é agora mais que um desespero mortal, só comparável à crueldade da ausência que o causa. Há-de então este afastamento, para o qual a minha dor, por mais subtil que seja, não encontrou nome bastante lamentável, privar-me para sempre de me debruçar nuns olhos onde vi tanto amor, que despertavam em mim emoções que me enchem de alegria, que bastavam para meu contentamento e valiam, enfim, tudo quanto há? Ai! Os meus estão privados da única luz que os alumiava, só lágrimas lhes restam, e chorar é o único uso que faço deles, desde que soube que havias decidido a um afastamento tão insuportável que me matará em pouco tempo. Parece-me, no entanto, que até <strong>ao</strong> sofrimento, de que és a única causa, já vou tendo afeição. Mal te vi a minha vida foi tua, e chego a ter prazer em sacrificar-ta. Mil vezes <strong>ao</strong> dia os meus suspiros vão <strong>ao</strong> teu encontro, procuram-te por toda a parte e, em troca de tanto desassossego, só me trazem sinais da minha má fortuna, que cruelmente não me consente qualquer engano e me diz a todo momento: Cessa, pobre Mariana, cessa de te mortificar em vão, e de procurar um amante que não voltarás a ver, que atravessou mares para te fugir, que está em França rodeado de prazeres, que não pensa um só instante nas tuas mágoas, que dispensa todo este arrebatamento e nem sequer sabe agradecer-to. Mas não, não me resolvo a pensar tão mal de ti e estou por de mais empenhada em te justificar. Nem quero imaginar que me esqueceste. Não sou já bem desgraçada sem o tormento de falsas suspeitas? E porque hei-de eu procurar esquecer todo o desvelo com que me manifestavas o teu amor? Tão deslumbrada fiquei com os teus cuidados, que bem ingrata seria se não te quisesse com desvario igual <strong>ao</strong> que me levava a minha <strong>paixão</strong>, quando me davas provas da tua. Como é possível que a lembrança de momentos tão belos se tenha tornado tão cruel? E que, contra a natureza, sirva agora só para me torturar o coração? Ai! A tua ultima carta reduziu-o a um estado bem singular: bateu de tal forma que parecia querer fugir-me 33 ALCOFORADO, Mariana Sóror. Cartas Portuguesas. Trad. de Eugênio de Andrade. Lisboa: Assírio & Alvim, 1998. 97
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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SI
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Dedico este trabalho a Deus, ao meu
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“Grave o meu nome no seu coraçã
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Como Artista 4 , de Oscar Wilde. Um
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prazer. O sublime não é conciliá
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contexto no qual relativizar suas f
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com que o leitor se coloque no text
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de o leitor agir com e no texto, pr
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não pode, por conseguinte, ser apo
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O Barroco literário sofreu algumas
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