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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SILVESTRINI Da paixão ao ...

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e é capaz de transpor obstáculos morais e sociais. Este conceito surgiu a partir dos<br />

moralistas dos séculos XVII e XVIII, os quais evidenciaram a tendência que as emoções<br />

têm de penetrar na personalidade e dominá-la.<br />

Podemos observar essa característica nas Cartas Portuguesas, principalmente na<br />

terceira carta, quando o Mariana revela os seus sentimentos e tudo o quanto enfrentara por<br />

ele.<br />

Contra mim própria me indigno quando penso em tudo o que te<br />

sacrifiquei: perdi a reputação, expus-me à cólera de minha família, à<br />

severidade das leis deste país para com as freiras, e à tua ingratidão, que<br />

me parece o maior de todos os males. (Anexo C) 11<br />

Abbagnano (1998) define primeiramente o amor como uma palavra que designa<br />

uma relação intersexual, quando esta relação é seletiva ou eletiva, sendo, por isso<br />

acompanhada por amizade e por afetos positivos. A relação intersexual só pode ser<br />

chamada de amor quando é de base eletiva e implica o compromisso recíproco, não<br />

podendo chamar de amor uma relação que é ocasional ou anônima. O amor indica um<br />

compromisso moral, capaz de fixar limites e condições à atividade do indivíduo. Paixão e<br />

amor são, portanto, palavras-chave na leitura e interpretação das Cartas.<br />

Henri Matisse, durante o período de convalescença pós-operatória em 1941, fez a<br />

leitura das Cartas Portuguesas e a partir de sua interpretação coube-lhe completar a obra<br />

lida, concretizando-a, <strong>ao</strong> preencher os vazios ou pontos de indeterminação que ela<br />

apresenta. Matisse ilustrou sua leitura com 105 litografias originais, sendo 20 (vinte) em<br />

página completa, impressa por Mouriot em tons de vermelho em papel Arches 12 . Cada<br />

litografia encontra-se acompanhada de frases (Première Lettre, Seconde Lettre, etc)<br />

segundo a edição de 1669, e de fragmentos das cartas, que são iniciados por uma letra<br />

maiúscula “bordada”, assemelhando-se às iluminuras da Idade Média. As litografias do<br />

rosto da freira contêm frases retiradas das Cartas, que podem ser consideradas como ponto<br />

de entrada da leitura da imagem.<br />

11 Foi utilizada a edição: ALCOFORADO, Mariana. Cartas Portuguesas. Tradução Eugênio de Andrade.<br />

Lisboa: Assírio & Alvim, 1998.<br />

12 Arches (Arcos) ou aguarela é um papel livre de ácidos e cloro, feito de fibras 100% algodão, que confere<br />

resistência e estabilidade. Disponível em três texturas: a frio pressionado ou não, quente pressionado (Satine)<br />

e rugoso (torchon). É excelente para água colorida, guache, caneta e tinta, acrílico e caligrafia.<br />

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