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REGINA LÚCIA GONÇALVES PEREIRA SILVESTRINI Da paixão ao ...

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

As Cartas Portuguesas de Mariana Alcoforado, publicadas em 1669, em Paris, sob<br />

o título Lettres Portugaises Traduites en Français, representam o Barroco português no<br />

estilo e no modo de ser graças à dualidade do ser humano que nelas se corporifica. Num<br />

sentido amplo, concebem uma tendência constante do espírito humano e da cultura presente<br />

em todas as manifestações da civilização ocidental.<br />

A gênese do Barroco remonta a meados do século XVI, quando ocorreu a crise<br />

espiritual e moral desencadeada pela decomposição dos valores da Renascença e o<br />

surgimento de uma nova visão da existência. A consciência do “desconcerto do mundo”, da<br />

instabilidade das coisas surgidas no Maneirismo concretizou-se, no ressurgimento do<br />

teocentrismo medieval. A pressão de forças contrárias, como a dicotomia carne/espírito,<br />

traduziu-se na consciência e no espírito do homem seiscentista através de uma linguagem<br />

culta, repleta de antíteses, paradoxos, oxímoros, espécie de fusão que objetivava superar os<br />

extremos: carnalizar o espírito e espiritualizar a carne representando o mais humano dos<br />

sentidos.<br />

As Cartas representam o apelo <strong>ao</strong> emocional, uma vez que revelam o sofrimento<br />

dramático de uma freira, numa linguagem preciosa tipicamente barroca. Considerando que<br />

o Barroco é um fenômeno artístico e literário vinculado à Contra-Reforma, o conteúdo das<br />

Cartas representa a construção do espírito humano e uma reação <strong>ao</strong> espírito renascentista<br />

imbuído de racionalismo.<br />

<strong>Da</strong> primeira à quinta carta, na ordem em que se encontram, foi observada uma<br />

gradação, cujo ponto culminante se fixa na terceira, pela tensão dolorosa entre o sentimento<br />

e a razão. Primeiramente, o leitor acompanha a trajetória da forte emoção de um amor<br />

desmedido de uma freira por um oficial francês que servia em Lisboa. Teve uma curta<br />

duração e foi penalizado pela ausência de um dos amantes. A esperança de um reencontro é<br />

vaga e quase impossível, caminhando para a separação definitiva, num apelo emocional e<br />

dramático do narrador. Pode-se afirmar que a narrativa das cinco cartas ficou marcada pelo<br />

sofrimento de uma <strong>paixão</strong> incomensurável, levando a protagonista à perda do racional,<br />

recuperando-se nas duas últimas cartas os seus brios feridos e a força para decidir uma<br />

volta à espiritualização.<br />

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