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Apostila - Bento XVI - Maria Mãe da Igreja

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caráter do homem, <strong>da</strong>s condições em que se achou a socie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> educação, <strong>da</strong>s circunstâncias de ca<strong>da</strong><br />

fato; em uma palavra, por uma norma que, se bem a entendemos, se resume em mero subjetivismo. Isto<br />

é, procuram apoderar-se <strong>da</strong> pessoa de Jesus Cristo e como que revestir-se dela, e assim lhe atribuem,<br />

nem mais nem menos, tudo o que eles mesmos fariam em circunstâncias idênticas. Assim, pois, para<br />

concluirmos, a priori, e partindo de certos princípios que admitem, embora afirmem que os<br />

ignoram, na história real afirmam que Cristo nem foi Deus, nem fez coisa alguma de divino; e<br />

como homem, que ele fez e disse apenas aquilo que eles, referindo-se ao tempo em que viveu,<br />

acham que podia ter feito e dito.<br />

Assim, pois, como a história recebe <strong>da</strong> filosofia as suas conclusões, assim também a crítica, por sua vez,<br />

as recebe <strong>da</strong> história. O crítico, seguindo a pista do historiador, divide todos os documentos em duas<br />

partes. Depois de fazer o tríplice corte acima referido, passa todo o restante para a história real, e entrega<br />

a outra parte à história <strong>da</strong> fé, ou noutros termos, à história interna. Os modernistas põem grande<br />

empenho em distinguir estas duas histórias; e, note-se bem, contrapõem à história <strong>da</strong> fé a história<br />

real, enquanto real. Daí resulta, como já vimos, um duplo Cristo; um real, e outro que, de fato,<br />

nunca existiu, mas pertence à fé; um que viveu em determinado lugar e tempo, outro que se<br />

encontra nas piedosas meditações <strong>da</strong> fé; tal, por exemplo, é o Cristo descrito no Evangelho de São<br />

João, o qual Evangelho, pretendem-no os modernistas, do princípio ao fim é mera meditação.<br />

Mas o domínio <strong>da</strong> filosofia na história ain<strong>da</strong> vai além. Feita, como dissemos, a divisão dos documentos<br />

em duas partes, apresenta-se de novo o filósofo com o seu princípio de imanência vital, e prescreve que<br />

tudo o que se acha na história <strong>da</strong> <strong>Igreja</strong> deve ser aplicado por emanação vital. E visto como a causa ou<br />

condição de qualquer emanação vital procede de alguma necessi<strong>da</strong>de, todo acontecimento deve ser a<br />

conseqüência de uma necessi<strong>da</strong>de, e deve considerar-se historicamente posterior a ela.<br />

Que faz então o historiador? Entregue de novo ao estudo dos documentos, tanto nos livros sacros quanto<br />

nos demais, vai formando um catálogo de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des que por sua vez se apresentaram à<br />

<strong>Igreja</strong>, quer relativos ao dogma, quer ao culto ou a outras matérias. Feito este catálogo, passa-o ao<br />

crítico. Este, pois, manuseia os documentos destinados à história <strong>da</strong> fé e os distribui de i<strong>da</strong>de em i<strong>da</strong>de,<br />

de maneira que correspon<strong>da</strong>m ao elenco que lhe foi <strong>da</strong>do; e tudo isto faz tendo sempre em vista o<br />

preceito de que o fato é precedido <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de, e a narração, do fato.<br />

Bem poderia ser que certas partes <strong>da</strong> Escritura Sagra<strong>da</strong>, como as Epístolas, também fossem um fato<br />

criado pela necessi<strong>da</strong>de. Seja como for, o certo, porém, é que não se pode determinar a i<strong>da</strong>de de nenhum<br />

documento, senão pela época em que ca<strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de se manifestou na <strong>Igreja</strong>. Convém ain<strong>da</strong> distinguir<br />

entre o começo de um fato e o seu desenrolar; porquanto, o que pode nascer em um dia, não cresce<br />

senão com o tempo. Esta é a razão pela qual o crítico ain<strong>da</strong> deve bipartir os documentos, já dispostos<br />

segundo as i<strong>da</strong>des, segregando os que se referem às origens de um fato dos que pertencem ao seu<br />

desenvolvimento, e dispondo de novo estes últimos em ordem cronológica.<br />

Feito isto, reaparece o filósofo e obriga o historiador a conformar os seus estudos com os preceitos e as<br />

leis <strong>da</strong> evolução. E o historiador, conformando-se, torna a esquadrinhar os documentos; a procurar com<br />

cui<strong>da</strong>do as circunstâncias em que se achou a <strong>Igreja</strong>, no correr dos tempos, as necessi<strong>da</strong>des internas e<br />

externas que a impeliram ao progresso, os obstáculos que se levantaram, numa palavra, tudo o que puder<br />

servir para determinar o modo pelo qual se realizaram as leis <strong>da</strong> evolução. Concluído este trabalho, ele<br />

esboça em suas linhas principais a história do desenvolvimento dos fatos. Segue-se-lhe o crítico, que a<br />

este esqueleto histórico a<strong>da</strong>pta os demais documentos.<br />

Escreve-se então a narração; está completa a história; - mas agora perguntamos: essa história a quem se<br />

deve atribuir? Ao historiador ou ao crítico? A nenhum dos dois, por certo; mas ao filósofo. Tudo foi<br />

exarado por apriorismo, e certamente por um apriorismo abun<strong>da</strong>nte em heresias. São na ver<strong>da</strong>de para<br />

lastimar esses homens, dos quais o Apóstolo disse: “Desvairaram em seus pensamentos...gabando-se<br />

de sábios, estultos é que se tornaram” (Rom 1,21-22); mas ao mesmo tempo provocam a indignação,<br />

quando acusam a <strong>Igreja</strong> de corromper os documentos para fazê-los servir aos próprios interesses. Isto é,<br />

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