Apostila - Bento XVI - Maria Mãe da Igreja
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esponsabili<strong>da</strong>de social, os políticos e os legisladores católicos devem sentir-se particularmente<br />
interpelados pela sua consciência retamente forma<strong>da</strong> a apresentar e apoiar leis inspira<strong>da</strong>s nos valores<br />
impressos na natureza humana.(231) Tudo isto tem, aliás, uma ligação objetiva com a Eucaristia (1 Cor<br />
11, 27-29). Os bispos são obrigados a recor<strong>da</strong>r sem cessar tais valores; faz parte <strong>da</strong> sua responsabili<strong>da</strong>de<br />
pelo rebanho que lhes foi confiado.(232)<br />
Eucaristia, mistério anunciado<br />
Eucaristia e missão<br />
84. Na homilia durante a celebração eucarística com que solenemente dei início ao meu ministério na<br />
Cátedra de Pedro, disse: « Não há na<strong>da</strong> de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo<br />
Evangelho, por Cristo. Não há na<strong>da</strong> de mais belo do que conhecê-Lo e comunicar aos outros a amizade<br />
com Ele ».(233) Esta afirmação cresce de intensi<strong>da</strong>de, quando pensamos no mistério eucarístico; com<br />
efeito, não podemos reservar para nós o amor que celebramos neste sacramento: por sua natureza, pede<br />
para ser comunicado a todos. Aquilo de que o mundo tem necessi<strong>da</strong>de é do amor de Deus, é de<br />
encontrar Cristo e acreditar n'Ele. Por isso, a Eucaristia é fonte e ápice não só <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Igreja</strong>, mas<br />
também <strong>da</strong> sua missão: « Uma <strong>Igreja</strong> autenticamente eucarística é uma <strong>Igreja</strong> missionária ».(234)<br />
Havemos, também nós, de poder dizer com convicção aos nossos irmãos: « Nós vos anunciamos o que<br />
vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão conosco » (1 Jo 1, 2-3). Ver<strong>da</strong>deiramente não<br />
há na<strong>da</strong> de mais belo do que encontrar e comunicar Cristo a todos! Aliás, a própria instituição <strong>da</strong><br />
Eucaristia antecipa aquilo que constitui o cerne <strong>da</strong> missão de Jesus: Ele é o enviado do Pai para a<br />
redenção do mundo (Jo 3, 16-17; Rm 8, 32). Na Última Ceia, Jesus entrega aos seus discípulos o<br />
sacramento que atualiza o sacrifício que Ele, em obediência ao Pai, fez de Si mesmo pela salvação de<br />
todos nós. Não podemos abeirar-nos <strong>da</strong> mesa eucarística sem nos deixarmos arrastar pelo movimento <strong>da</strong><br />
missão que, partindo do próprio Coração de Deus, visa atingir todos os homens; assim, a tensão<br />
missionária é parte constitutiva <strong>da</strong> forma eucarística <strong>da</strong> existência cristã.<br />
Eucaristia e testemunho<br />
85. A missão primeira e fun<strong>da</strong>mental, que deriva dos santos mistérios celebrados, é <strong>da</strong>r testemunho com<br />
a nossa vi<strong>da</strong>. O enlevo pelo dom que Deus nos concedeu em Cristo, imprime à nossa existência um<br />
dinamismo novo que nos compromete a ser testemunhas do seu amor. Tornamo-nos testemunhas<br />
quando, através <strong>da</strong>s nossas ações, palavras e modo de ser, é Outro que aparece e Se comunica. Pode-se<br />
afirmar que o testemunho é o meio pelo qual a ver<strong>da</strong>de do amor de Deus alcança o homem na história,<br />
convi<strong>da</strong>ndo-o a acolher livremente esta novi<strong>da</strong>de radical. No testemunho, Deus expõe-Se por assim<br />
dizer ao risco <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de do homem. O próprio Jesus é a testemunha fiel e ver<strong>da</strong>deira (Ap 1, 5; 3, 14);<br />
veio para <strong>da</strong>r testemunho <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de (Jo 18, 37). Nesta ordem de idéias, apraz-me retomar um conceito<br />
caro aos primeiros cristãos mas que nos interpela também a nós, cristãos de hoje: o testemunho até ao<br />
dom de si mesmo, até ao martírio, sempre foi considerado, na história <strong>da</strong> <strong>Igreja</strong>, o apogeu do novo culto<br />
espiritual: « Oferecei os vossos corpos » (Rm 12, 1). Pense-se, por exemplo, na narração do martírio de<br />
São Policarpo de Esmirna, discípulo de São João: o seu caso, dramático, é todo ele descrito como uma<br />
liturgia; mais ain<strong>da</strong>, como se o próprio mártir se tornasse Eucaristia.(235) Pensemos também na<br />
consciência eucarística que Inácio de Antioquia exprime tendo em mente o seu martírio: considera-se «<br />
trigo de Deus » e, pelo martírio, deseja transformar-se em « pão puro de Cristo ».(236) O cristão, quando<br />
oferece a sua vi<strong>da</strong> no martírio, entra em plena comunhão com a páscoa de Jesus Cristo e, assim, ele<br />
mesmo se torna Eucaristia com Cristo. Não faltam, ain<strong>da</strong> hoje, à <strong>Igreja</strong> os mártires, nos quais se<br />
manifesta de modo supremo o amor de Deus. E, mesmo que não nos seja pedi<strong>da</strong> a prova do martírio,<br />
sabemos, porém, que o culto agradável a Deus postula intimamente esta disponibili<strong>da</strong>de (237) e encontra<br />
a sua realização no feliz e convicto testemunho perante o mundo duma vi<strong>da</strong> cristã coerente nos diversos<br />
sectores onde o Senhor nos chama a anunciá-Lo.<br />
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