Apostila - Bento XVI - Maria Mãe da Igreja
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Eficácia omnicompreensiva do culto eucarístico<br />
71. O novo culto cristão engloba todos os aspectos <strong>da</strong> existência, transfigurando-a: « Quando comeis ou<br />
bebeis, ou fazeis qualquer outra coisa, fazei tudo para glória de Deus » (1 Cor 10, 31). Em ca<strong>da</strong> ato <strong>da</strong><br />
sua vi<strong>da</strong>, o cristão é chamado a manifestar o ver<strong>da</strong>deiro culto a Deus; <strong>da</strong>qui toma forma a natureza<br />
intrinsecamente eucarística <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> cristã. Uma vez que abraça a reali<strong>da</strong>de humana do crente em seu<br />
concretismo quotidiano, a Eucaristia torna possível dia após dia a progressiva transfiguração do homem,<br />
por graça chamado a ser conforme à imagem do Filho de Deus (Rm 8, 29s). Na<strong>da</strong> há de autenticamente<br />
humano — pensamentos e afetos, palavras e obras — que não encontre no sacramento <strong>da</strong> Eucaristia a<br />
forma adequa<strong>da</strong> para ser vivido em plenitude. Sobressai aqui todo o valor antropológico <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de<br />
radical trazi<strong>da</strong> por Cristo com a Eucaristia: o culto a Deus na existência humana não pode ser relegado<br />
para um momento particular e privado, mas tende, por sua natureza, a permear ca<strong>da</strong> aspecto <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
do indivíduo. Assim, o culto agradável a Deus torna-se uma nova maneira de viver to<strong>da</strong>s as<br />
circunstâncias <strong>da</strong> existência, na qual ca<strong>da</strong> particular fica exaltado porque vivido dentro do<br />
relacionamento com Cristo e como oferta a Deus. A glória de Deus é o homem vivo (1 Cor 10, 31); e a<br />
vi<strong>da</strong> do homem é a visão de Deus.(203)<br />
Viver segundo o domingo<br />
72. Esta novi<strong>da</strong>de radical, que a Eucaristia introduz na vi<strong>da</strong> do homem, revelou-se à consciência cristã<br />
desde o princípio; prontamente os fiéis compreenderam a influência profun<strong>da</strong> que a celebração<br />
eucarística exercia sobre o estilo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. Santo Inácio de Antioquia exprimia esta ver<strong>da</strong>de<br />
designando os cristãos como « aqueles que chegaram à nova esperança », e apresentava-os como aqueles<br />
que vivem « segundo o domingo » (iuxta dominicam viventes).(204) Esta expressão do grande mártir<br />
antioqueno põe claramente em evidência a ligação entre a reali<strong>da</strong>de eucarística e a vi<strong>da</strong> cristã no seu diaa-dia.<br />
O costume característico que têm os cristãos de reunir-se no primeiro dia depois do sábado para<br />
celebrar a ressurreição de Cristo — conforme a narração do mártir São Justino(205) — é também o <strong>da</strong>do<br />
que define a forma <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> renova<strong>da</strong> pelo encontro com Cristo. Mas, a expressão de Santo Inácio — «<br />
viver segundo o domingo » — sublinha também o valor paradigmático que este dia santo tem para os<br />
restantes dias <strong>da</strong> semana. De fato, o domingo não se distingue com base na simples suspensão <strong>da</strong>s<br />
activi<strong>da</strong>des habituais, como se fosse uma espécie de parêntesis dentro do ritmo normal dos dias; os<br />
cristãos sempre sentiram este dia como o primeiro <strong>da</strong> semana, porque nele se faz memória <strong>da</strong> novi<strong>da</strong>de<br />
radical trazi<strong>da</strong> por Cristo. Por isso, o domingo é o dia em que o cristão reencontra a forma eucarística<br />
própria <strong>da</strong> sua existência, segundo a qual é chamado a viver constantemente: « viver segundo o domingo<br />
» significa viver consciente <strong>da</strong> libertação trazi<strong>da</strong> por Cristo e realizar a própria existência como oferta de<br />
si mesmo a Deus, para que a sua vitória se manifeste plenamente a todos os homens através duma<br />
conduta intimamente renova<strong>da</strong>.<br />
Viver o preceito dominical<br />
73. Cientes deste princípio novo de vi<strong>da</strong> que a Eucaristia deposita no cristão, os padres sino<strong>da</strong>is<br />
reafirmaram a importância que tem, para todos os fiéis, o preceito dominical como fonte de liber<strong>da</strong>de<br />
autêntica, a fim de poderem viver ca<strong>da</strong> um dos outros dias segundo o que celebraram no « dia do Senhor<br />
». Com efeito, a vi<strong>da</strong> de fé corre perigo quando se deixa de sentir desejo de participar na celebração<br />
eucarística em que se faz memória <strong>da</strong> vitória pascal. A participação na assembléia litúrgica dominical,<br />
ao lado de todos os irmãos e irmãs com os quais se forma um só corpo em Cristo Jesus, é exigi<strong>da</strong> pela<br />
consciência cristã e simultaneamente educa a consciência cristã. Perder o sentido do domingo como dia<br />
do Senhor que deve ser santificado é sintoma duma per<strong>da</strong> do sentido autêntico <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de cristã, a<br />
liber<strong>da</strong>de dos filhos de Deus.(206) Continuam a ser preciosas as observações feitas a este respeito pelo<br />
meu venerado predecessor João Paulo II, na Carta Apostólica Dies Domini,(207) quando trata <strong>da</strong>s<br />
diversas dimensões que o domingo tem para os cristãos: é dies Domini, em referimento à obra <strong>da</strong><br />
criação; dies Christi, enquanto dia <strong>da</strong> nova criação e do dom do Espírito Santo que o Senhor<br />
Ressuscitado concede; dies Ecclesiæ, como dia em que a comuni<strong>da</strong>de cristã se reúne para a celebração;<br />
dies hominis, porque dia de alegria, repouso e cari<strong>da</strong>de fraterna.<br />
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