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Antropologia E Patrimônio Cultural - ABA

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MANUEL FERREIRA LIMA FILHO, CORNELIA ECKERT, JANE FELIPE BELTRÃO (Organizadores)<br />

Essas são hipóteses utilizadas preliminarmente que refletem uma<br />

tomada de posição crítica e política – não se crê ser possível manter-se<br />

neutro nesse domínio da ação cultural. Assim, essa pesquisa parece<br />

adquirir uma importância singular, pois investiga os usos do termo<br />

etnográfico no início do século XX no Brasil – especialmente em relação<br />

à Coleção de Magia Negra do Rio de Janeiro –, contribuindo, por um<br />

lado, para o aprimoramento do debate em torno da preservação desses<br />

acervos, que, por várias décadas, permaneceram e ainda permanecem<br />

abandonados à sorte e à ação devastadora das intempéries 22 , e, por<br />

outro, para o reconhecimento de que se trata de um instrumento crítico<br />

significativo que poderá servir de ferramenta para ultrapassar a confusão<br />

reinante e superar as dicotomias ainda dominantes nesse campo do<br />

conhecimento e da ação política cultural na contemporaneidade 23 .<br />

Todavia, no plano mais concreto do debate político, esse estudo<br />

histórico-cultural também contribui e avança no sentido de refletir<br />

sobre as potencialidades da idéia de uma cidadania cultural, tão almejada<br />

na sociedade brasileira e latino-americana. Ao apontar para a<br />

necessidade de superar visões fragmentadas da realidade cultural,<br />

procuro compreender as particularidades culturais para além do<br />

difundido elogio da diferença. Esse trabalho é um esforço no sentido de<br />

uma política do reconhecimento 24 das singularidades culturais através da<br />

abordagem antropológica e da análise intercultural para evitar os riscos<br />

de uma prática racista que atua “não em termos de exclusão, mas<br />

enquanto estratégia de inclusão diferencial” (HARDT, 2000: 365).<br />

22 Em 1989, ocorreu um incêndio na Academia de Polícia do Rio de Janeiro. Fato que ficou<br />

registrado: PATRIMÔNIO ETNOGRÁFICO DO MINISTÉRIO DA CULTURA. Ministério Público<br />

Federal. PR – RJ – Processo n. 08120.000394/97-66. <strong>Patrimônio</strong> Histórico e <strong>Cultural</strong>. Museu de<br />

Magia Negra. Ausência de 37 objetos do acervo por natural deterioração e incêndio ocorrido em<br />

1989. Academia Estadual de Polícia Silvio Terra. Rio de Janeiro. Promoção de Arquivamento.<br />

23 Essa pesquisa também contribui para os estudos da ‘antropologia do mal’ na sociedade brasileira,<br />

na linha desenvolvida pelos trabalhos organizados por Patrícia Birman (1997). Com o título de Museu<br />

Mefistofélico, tentei apresentar, no ensaio completo, a hipótese de que essa coleção museológica é a<br />

expressão simbólica de um imaginário do mal do período modernista, e que o poeta Dante Milano<br />

– diretor do Museu da Polícia –, herdeiro da tradição literária de Dante Alighieri e Charles Baudelaire,<br />

seria o mediador cultural desse imaginário mefistofélico – hipótese que justifica a indicação do<br />

tombamento dessa coleção museológica, em 1938 (CORRÊA, 2006).<br />

24 Referência importante sobre esse debate encontra-se na obra A Vida em Comum, de Tzvetan<br />

Todorov, especialmente no capítulo 3, O Reconhecimento e seus Destinos: “É o reconhecimento que<br />

determina mais do que qualquer outra ação, a entrada do indivíduo na existência especificamente<br />

humana” (TODOROV, 1996: 89).<br />

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