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Cura kahuna

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deterioraram nas duas semanas seguintes, até que Cook tentou pegar o mais alto sacerdote do rei como refém<br />

por um roubo relativamente menor feito por um dos homens do rei. Uma batalha seguiu-se na praia e Cook foi<br />

morto. O ponto é que a designação de Cook como deus Lono não foi mais do que uma farsa política inspirada<br />

tentando trazer favores ao regime do rei Kalaniopuu. Os chefes e <strong>kahuna</strong>s sabiam bem, mas naquele estágio<br />

da história havaiana a “religião estatizada” era a única ferramenta política destinada a incrementar o poder dos<br />

chefes e certos sacerdotes, e para explorar as massas.<br />

E mais e mais europeus começaram a visitar as ilhas, e eles ouviam narrativas sobre poderes estranhos<br />

exercidos por certas pessoas conhecidas como <strong>kahuna</strong>s. Histórias de telepatia, clarividência, cura pelo toque,<br />

matar à distância, e andar sobre lava quente, eram misturadas com observações de cerimônias exóticas e<br />

cânticos, a prática de massagem e medicina herbal, e aparente culto de ídolos grotescos. Era fácil rotular essas<br />

estórias como pura superstição até que se estivesse diretamente envolvido numa experiência pessoal. Então,<br />

para o pensamento pessoal, era claro que algo estranho indubitavelmente estava por trás da fachada religiosa.<br />

Não há dúvida que alguns <strong>kahuna</strong>s, no mínimo, eram hábeis para fazer coisas que ficavam fora do escopo das<br />

leis da física. Quanto mais se vive nas ilhas, mais cresce a aceitação desse fato.<br />

De qualquer forma, por quatro fatores principais, não é fácil descobrir o que realmente acontece. Primeiro<br />

está a relutância natural dos ocidentais treinados cientificamente para aceitar semelhantes habilidades como<br />

possíveis. Para faze-lo seria preciso mergulhar na Idade das Trevas da magia e superstição que o mundo<br />

ocidental tem se esforçado para apagar. Em segundo está a tendência natural da orientação cristã dos visitantes<br />

para responsabilizar tudo como sendo trabalho do Diabo, pois como poderiam os pagãos ignorantes Ter<br />

semelhantes poderes?<br />

Em terceiro, está o fato de que, no tempo da chegada dos primeiros europeus, o objetivo final das práticas<br />

<strong>kahuna</strong>s estava se corrompendo rapidamente, e muito do conhecimento anterior havia sido perdido. Enquanto<br />

um pequeno grupo guardava a antiga tecnologia virtualmente intacta, a maioria dos <strong>kahuna</strong>s – especialmente<br />

aqueles envolvidos em política – havia degenerado para um mero cerimonial sacerdotal, com muito poucos<br />

membros que conheciam os rudimentos de algumas coisas como telepatia e clarividência. Isto é sagazmente<br />

trazido à tona na história de Hewahewa, alto sacerdote de Kamehameha II. Em 1819, logo após a morte<br />

de Kamehameha I, este proeminente <strong>kahuna</strong> a cargo de dar uma boa imagem de guerra ao rei, teve uma<br />

visão na qual via as representações do que parecia ser um poder divino muito grande aportando nas praias<br />

do Hawaii. Sem dúvida influenciado pelo seu conhecimento da tecnologia superior européia e narrativas do<br />

Cristianismo, Hewahewa esperava ganhar suporte dos camaradas <strong>kahuna</strong>s, chefes ambiciosos e esposas reais<br />

insatisfeitas por nada menos do que a abolição do sistema Kapu e queda dos tempos dourados. Desse modo<br />

ele esperava insinuar-se com os representantes do novo deus e ao mesmo tempo reduzir o poder de quaisquer<br />

rivais <strong>kahuna</strong>s. Kamehameha II, diferentemente de seu pai, era um homem fraco, e em novembro de 1819 ele<br />

deu uma deixa para Hewahewa e seus seguidores. Com o aparentemente simples ato de sentar-se para comer<br />

com as mulheres, Kamehameha II quebrou um sério Kapu e marcou um precedente para os chefes e plebeus<br />

também. O assunto foi espalhado através da nova união de ilhas sobre as proibições às pessoas, longamente<br />

oprimidas por anteriores kapus severos, e dando vazão aos seus sentimentos para queimar e desabar templos e<br />

estátuas. Um <strong>kahuna</strong> rival de Hewahewa tentou prevenir isto, mas ele e aqueles que lhe davam suporte foram<br />

violentamente espancados na batalha. Por seis meses, então, o Hawaii foi uma terra sem religião e sem leis. Foi<br />

um tempo de grande confusão, porque sem os kapus e sem os deuses não havia firmeza nas guias de conduta<br />

e nem segurança psicológica.<br />

Finalmente, em 1820, os primeiros missionários Cristãos de Bostom aportaram onde Hewahewa disse<br />

que eles o fariam. Ele e seus seguidores tinham nas mãos muitas pessoas doentes e aleijadas que haviam<br />

enviado para a cura do novo deus. Eles cantaram canções de boas vindas e perguntaram aos missionários sobre<br />

o poder de seu novo deus para curar a doença. É claro, os missionários não podiam fazer semelhante coisa, e<br />

depois de uma grande quantidade de confusão em ambos os lados, Hewahewa foi forçado a entender que tinha<br />

errado ao interpretar sua visão e havia destruído totalmente a religião formal e a estrutura legal de sua nação<br />

para nada. Ele é conhecido nos livros de história como Hewahewa, mas este pode não Ter sido seu nome real.<br />

Os havaianos sempre têm tido muito cuidado ao usar nomes pessoais baseados no seu significado. Parece<br />

óbvio que o alto sacerdote desafortunado tenha pego o nome de Hewahewa depois de cometer seu erro terrível,<br />

porque ele significa “o louco que falhou ao reconhecer algo”.<br />

O quarto fator que interferiu com um pronto entendimento do conhecimento <strong>kahuna</strong> foi a declaração de<br />

ilegalidade de todas as práticas <strong>kahuna</strong>s pelos missionários Cristãos, convertidos em políticos tão logo tiveram<br />

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