Desporto&Esport - edição1 2014
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MEGAEVENTOS: LEGAGO POSITIVO OU HERANÇA PESADA?<br />
Q<br />
uando se iniciaram em 1992 as Olimpíadas,<br />
Barcelona mostrou ao mundo uma nova cidade,<br />
reestrutura e remodelada, projetando uma bela<br />
imagem que perdura ainda no imaginário de todos aqueles que<br />
acompanharam o evento,<br />
tenham-no feito ao vivo ou<br />
pela televisão. O impacto<br />
urbanístico foi de tal forma,<br />
que rendeu à sede olímpica<br />
o prêmio Príncipe de Gales<br />
de desenho Urbano, da<br />
Universidade de Harvard.<br />
A restruturação urbana de<br />
Barcelona, foi mais longe e<br />
devolveu o mediterrânio às<br />
suas populações assim como<br />
as ganhou novas praias –<br />
mais precisamente 5km de<br />
novas praias -, numa cidade<br />
que tinha sempre vivido de<br />
costas para o mar. O sistema de transporte foi totalmente remodelado<br />
e a rede de metro foi amplamente ampliado.<br />
O fluxo de turistas mais que duplicou e agora é mais de 7 milhões de<br />
turistas anos para uma cidade que não chega a 2 milhões de habitantes.<br />
É importante relembrar que no século passado, Barcelona era<br />
a capital industrial da Espanha mas com o declinar da ditadura nos<br />
anos 70 e com a chegada da democracia, tornou-se em uma metrópole<br />
desindustrializada com um porto marítimo decadente, com<br />
alto desemprego, altos índices de crime e elevados indicadores de<br />
violência. As olimpíadas vieram mudar este cenário e mais de vinte<br />
anos depois, Barcelona é uma cidade viva e um dos principais centros<br />
turísticos e culturais da<br />
Europa. Além disso, o<br />
complexo olímpico conta<br />
com instalações utilizadas<br />
pela população e<br />
para várias competições<br />
e continua a ter uma utilização<br />
constante ou pelo<br />
menos periódica..<br />
Barcelona tornou-se<br />
num postal reconhecido<br />
em qualque parte do<br />
mundo.<br />
Existe, no entanto, quem<br />
conteste o modelo que<br />
foi seguido pela cidade<br />
de Barcelona. Neste sentido, a leitura do livro de Manuel Delgado,<br />
La ciudad mentirosa. Fraude y miseria del modelo Barcelona do ano<br />
de 2007 torna-se obrigatória. Neste livro, o autor questiona o modelo<br />
utilizado que invariavelmente leva ao que o mesmo autor apelida de<br />
cidades-negócio, que idealizam unicamente o interesse das grandes<br />
multinacionais e empresas ligadas ao turismo esquecendo as populações<br />
locais.<br />
Desde há três décadas que o tema do legado deixado pelos megaeventos<br />
é altamente debatido na literatura e no meio académico, e<br />
progressivamente as conclusões que estes trabalhos têm chegado<br />
indicam que o impacto de<br />
sediar estes eventos raramente<br />
é positivo. Nomeadamente, o<br />
impacto económico de sediar<br />
um evento desportivo da<br />
envergadura de um Mundial<br />
de futebol ou Olimpíadas pode<br />
deixar marcas de tal forma<br />
profundas, que não raras vezes<br />
pode demorar gerações para<br />
que essas mesmas marcas se<br />
curem. Um exemplo clássico é<br />
o das Olimpíadas de verão de<br />
1976 em Montreal - Canadá<br />
onde a administração local<br />
criou um imposto que durou<br />
mais de trinta anos de forma a<br />
combater a pesada herança do evento.<br />
Pragmaticamente, e olhando unicamente para os números, hospedar<br />
grandes eventos gera indiscutivelmente mais custos do que receitas.<br />
Temos, em primeiro lugar, a dura realidade do investimento ser<br />
sobretudo feito com dinheiros públicos, com raríssimas exceções,<br />
e o superfacturamento ser uma constante, e que não raras vezes,<br />
facilmente eleva os custos previstos para o dobro, em média o<br />
faturamento fixa-se nos 1,67 ao inicialmente orçamentado. A dívida,<br />
para as gerações futuras, acaba por ser inevitável. Inclusive o caso<br />
de sucesso de Barcelona gerou uma dívida de mais de 3 mil milhões<br />
de euros. Em Atenas, o investimento público excedeu mais das duas<br />
dezenas de milhares de milhão de euros e deixou rastros negativos<br />
nas finanças da Grécia até hoje, que vive numa profunda crise<br />
económica. Por outro lado, o superfacturamento, é uma verdadeira<br />
mais-valia para os verdadeiros vencedores de sediar um megaevento<br />
desportivo: a Banca e as Construtoras.<br />
Um outro ponto que merece ser discutido, mas que poucas vezes<br />
o é de forma conveniente, é o mau uso dos terrenos e as inadequadas<br />
planificações e a, muitas vezes inexistente, subutilização de<br />
infraestruturas pós evento.<br />
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