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30º <strong>Curso</strong> <strong>de</strong> Actualização <strong>de</strong> Professores <strong>de</strong> Geociências (2ª edição)<br />
2. Conhecimento sobre as glaciações quaternárias no NW <strong>de</strong> Portugal<br />
Durante o Quaternário, as temperaturas atmosféricas têm varia<strong>do</strong> em ciclos <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
milhares <strong>de</strong> anos, alternan<strong>do</strong> perío<strong>do</strong>s frios com perío<strong>do</strong>s mais quentes. Nos perío<strong>do</strong>s mais frios a<br />
cobertura <strong>de</strong> gelo das regiões polares <strong>de</strong>sceu para latitu<strong>de</strong>s mais baixas e as montanhas mais altas<br />
foram cobertas por glaciares. O último <strong>de</strong>sses perío<strong>do</strong>s mais frios terá ocorri<strong>do</strong> há 18000 anos, no<br />
contexto da glaciação Würm e os seus testemunhos são ainda bem evi<strong>de</strong>ntes nalgumas serras<br />
portuguesas.<br />
Na medida em que o aumento <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> nas montanhas implica a diminuição <strong>de</strong> temperatura<br />
e o aumento da precipitação <strong>de</strong> neve, existe um nível altimétrico a <strong>partir</strong> <strong>do</strong> qual se acumula mais<br />
neve <strong>do</strong> que a que fun<strong>de</strong>. É o limite das neves perpétuas (Fig. 3), acima <strong>do</strong> qual existe uma<br />
cobertura <strong>de</strong> gelo mais ou menos contínua, em forma <strong>de</strong> glaciares. No NW da Península Ibérica,<br />
em várias serras se encontram vestígios geomorfológicos e sedimentológicos que testemunham<br />
uma dinâmica glaciária e periglaciária recente (Fig. 3). Em Portugal, é nas serras <strong>do</strong> Gerês e da<br />
Estrela on<strong>de</strong> se observam vestígios claros <strong>de</strong>sses episódios. Contu<strong>do</strong>, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a condições locais<br />
favoráveis, estas manifestações ocorreram também em sectores da Serra da Peneda, da Serra<br />
Amarela e da Serra da Cabreira.<br />
No noroeste <strong>de</strong> Portugal, os vestígios das glaciações têm interessa<strong>do</strong> a naturalistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os<br />
finais <strong>do</strong> século XIX. O geólogo Paul Choffat (1895) referiu-se à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma glaciação<br />
quaternária na Serra <strong>do</strong> Gerês, ainda que sem apresentar indícios e provas concretas. Os vestígios<br />
da glaciação na Serra <strong>do</strong> Gerês foram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então procura<strong>do</strong>s e admiti<strong>do</strong>s como possíveis por<br />
alguns investiga<strong>do</strong>res (Fleury, 1916; Ribeiro, 1955), mas foi A. <strong>de</strong> Amorim Girão (1958) que os<br />
assinalou pela primeira vez, nomeadamente blocos erráticos, rochas aborregadas, moreias e<br />
sobretu<strong>do</strong> os lagos <strong>de</strong> origem glaciária (Carvalho & Nunes, 1981). Somente no <strong>de</strong>correr da<br />
década <strong>de</strong> 1970 surgiram estu<strong>do</strong>s mais aprofunda<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s vestígios glaciários na Serra <strong>do</strong> Gerês<br />
nos quais se i<strong>de</strong>ntificam formas e <strong>de</strong>pósitos tipicamente glaciários, como rochas estriadas, blocos<br />
erráticos, moreias, <strong>de</strong>pósitos fluvio-glaciários ou circos glaciários (Coudé-Gaussen, 1978;<br />
Schmidt-Thomé, 1978).<br />
Contu<strong>do</strong>, os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong>stes estu<strong>do</strong>s não foram então unanimemente aceites pela<br />
comunida<strong>de</strong> científica, haven<strong>do</strong> autores a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem a não existência <strong>de</strong> uma glaciação<br />
plistocénica no noroeste português, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que as formas e <strong>de</strong>pósitos aí i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s<br />
teriam uma origem torrencial (Teixeira & Car<strong>do</strong>so, 1979). Já anteriormente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
uma glaciação quaternária nas montanhas minhotas fora renunciada por Hermann Lautensach<br />
(1932), aquan<strong>do</strong> <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssas manifestações na Serra da Estrela. Os vestígios glaciários na