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o hipotexto de NoU<br />

241<br />

bosa (2003, p.17): "a experiência que se representa é também, ou<br />

sobretudo, uma experiência de leitura". Essa referência, dedica<strong>da</strong><br />

à crítica <strong>da</strong> literatura atual, aju<strong>da</strong>-nos a explicar a narrativa de<br />

Noll- a teatralização de gestos, o momento do impulso biológico<br />

do corpo, os movimentos entre o homem e o mundo - como a<br />

representação dos:<br />

[ ... ] os movimentos de inadequação através dos quais o poético<br />

se expande na criação de um espaço e de um tempo capazes de<br />

romper com os estreitos limites de uma diacronia evolutiva de<br />

causa e efeito. (2003, p.15)<br />

A originali<strong>da</strong>de na construção dos textos de João Gilberto<br />

N 011 está na busca de um efeito casual, com intensi<strong>da</strong>de e brevi<strong>da</strong>de;<br />

sua originali<strong>da</strong>de está, enfim, em tensionar a narrativa para o<br />

imprevisto. Vêm-nos à lembrança, como numa situação<br />

diametralmente oposta às de No11, as intenções literárias de Edgar<br />

A11an Poe. O tom poético procurado por NoU não é o <strong>da</strong> melancolia,<br />

preferido por Poe. Além disso, o estranho, nas narrativas de<br />

NoU, habita o sujeito e permanece fora do seu alcance. Poe, que<br />

tudo prevê, constrói a estranheza de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação dentro de<br />

uma combina<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de de efeito, para a impressão do seu leitor.<br />

O estranho, nas narrativas de No11, habita o sujeito e permanece<br />

fora do seu alcance. A originali<strong>da</strong>de de João Gilberto No11 está em<br />

elaborar o imprevisto, com imagens diluí<strong>da</strong>s que traz do mundo,<br />

apaga<strong>da</strong>s <strong>da</strong> sua referenciali<strong>da</strong>de. Desse modo, NoU afasta-se do<br />

mimético. A representação do mundo no seu texto faz-se pela<br />

sobreposição de observações sobre o observado, porém, por meio<br />

de imagens imprevisíveis, constituí<strong>da</strong>s por metáforas sem<br />

previsibili<strong>da</strong>de, que elidem a cadeia do sentido para o seu reconhecimento,<br />

distanciando-se <strong>da</strong> retórica de "atualização de uma<br />

diferença" (COSTA LIMA, 2000, p.303), a que reconhece, para o<br />

leitor, aquela diferença.<br />

As imagens que João Gilberto NoU traz do mundo para a<br />

literatura são ver<strong>da</strong>deiramente singulares e não procuram "a equivalência<br />

subjetiva de uma cena externa e objetiva" (COSTA LIMA,<br />

2000, p.24), ou conforme as intenções do autor: "O que me interessa<br />

é o gesto, é a projeção de coisas sobre as quais não tenho<br />

tanto controle assim" (NOLL, 1998, p.102).

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