06.01.2015 Views

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

312 Revista 8rasiieira de Literatura Compara<strong>da</strong>, n.9, 2006<br />

temático - ao deixar apenas a representação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> em direto<br />

do musseque e escolher o espaço <strong>da</strong> prisão como principal cenário<br />

~ confere ao texto um dos seus simbólicos e ideológicos alicerces.<br />

No conto, tal alicerce se projeta na imagem do "cajueiro",<br />

metáfora do fio jamais partido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Por isso mesmo, ou<br />

seja, por sua resistência e teimosia em renascer sempre, apesar<br />

de to<strong>da</strong>s as violências e tentativas de destruição por que passa,<br />

"o pau de caju" se faz o<br />

"fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> que [ ... ] mesmo que está podre não parte. Puxando-lhe,<br />

emen<strong>da</strong>ndo-lhe, sempre a gente encontra um princípio<br />

num sítio qualquer, mesmo que esse princípio é o fim doutro<br />

princípio." (p. 52)<br />

A crença na possibili<strong>da</strong>de de transformação e na força <strong>da</strong><br />

indestrutibili<strong>da</strong>de do "fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>" enlaça a obra, dela própria fazendo,<br />

no todo, uma palavra mais velha. Tal palavra indica a necessi<strong>da</strong>de<br />

de movimento <strong>da</strong> parte do leitor, convocado a buscar,<br />

ele também, a raiz dos casos contados sob os quais se esconde a<br />

violência <strong>da</strong> agressão do dominador europeu, empenhado, desde<br />

sempre, em cercear Angola, não a deixando viver a aurora de sua<br />

própria liber<strong>da</strong>de. A resistência do "pau de caju" e <strong>da</strong>s outras árvores<br />

espalha<strong>da</strong>s nas terras <strong>da</strong> própria textuali<strong>da</strong>de de modo quase<br />

obsessivo - mulembas, sape-sape, acácias, mandioqueiras, paus<br />

de fruta, etc. - se fazem a marca por excelência <strong>da</strong> territoriali<strong>da</strong>de<br />

cartograficamente expressa em letra e papel e, também, uma forma<br />

de resistência do próprio imaginário recuperado pela ficção.<br />

Os contos, de maneira recorrente e quase física, nos fazem<br />

ver essas velhas árvores, obrigando-nos a pensar no que se esconde<br />

sob a terra, sempre mãe, na cosmogonia banta. Por isso, somos<br />

convi<strong>da</strong>dos por Luandino, pela voz do narrador dos seus casos, a<br />

pensar no e com o cajueiro, a fim de entender que ninguém mata o<br />

fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Para tanto, temos de deixar<br />

o pensamento correr no fim, no fruto, que é outro princípio e<br />

[ir] de encontro aí com a castanha, ela já rasgou a pele seca e<br />

escura e as metades verdes abrem como um feijão e um pequeno<br />

pau está nascer debaixo <strong>da</strong> terra com beijos de chuva. O fio<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> não foi partido.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!