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o marido <strong>da</strong> adúltera, de Lúcio de Mendonça, ou as estratégias de publicação de um romance como folhetim<br />

93<br />

Desta falta me veio o tédio, que é caminho certo <strong>da</strong> perdição<br />

para as naturezas imaginativas, como infelizmente é minha vi<strong>da</strong><br />

Cp. 120)<br />

Os amores de folhetim e o adultério estão presentes também<br />

na leitura que o narrador, amigo de Luís, faz do Processo<br />

Clémenceau, de Alexandre Dumas Filho e discute com Luís e<br />

Otávio, no tempo em que eram estu<strong>da</strong>ntes em São Paulo. Nele, o<br />

marido adulterado mata a adúltera, uma jovem que ele mal conhecia,<br />

mas com quem resolvera casar. O narrador defende a conduta<br />

do marido traído. Já Luís argumenta de forma contrária, justificando<br />

que como o homem casara com sua fantasia - já que não<br />

conhecia a família, nem a origem <strong>da</strong> mulher - fora ele e não ela<br />

quem traiu. O fato é que Luís Marcos, ao acusar o marido que<br />

mata a adúltera, está se condenando, assumindo para si to<strong>da</strong> a<br />

responsabili<strong>da</strong>de pelo que viria a fazer <strong>da</strong>li a dois anos. Suas palavras<br />

são ao mesmo tempo antecipação e excesso folhetinesco na<br />

medi<strong>da</strong> em que toma mais "vil" a traição de Laura que o enganou<br />

antes do casamento; ele já é uma "vítima <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de" antes mesmo<br />

de ela vir à tona, pois se este o não previu, se o não evitou, é<br />

com certeza, culpado (p. 76).<br />

Ao contrário do narrador, Luís Marcos vê como única saí<strong>da</strong><br />

para o marido traído do Processo Clémenceau, o "dever de matar-se".<br />

Otávio, seu amigo e narrador, embora fique sabendo do<br />

segredo de Laura, evita escrever para o amigo contando, na esperança<br />

de encontrá-lo em breve. Mas os ardis supostamente montados<br />

pela família dela para que passe a noite com Laura e o casamento<br />

de Eugênia, seu ver<strong>da</strong>deiro amor, precipitam e exigem dele<br />

o casamento. O amigo por sua vez, o sujeito pré-informado a qual<br />

se refere Marlyse Meyer, toma-se cúmplice do passado de Laura,<br />

levando o amigo a ser vítima <strong>da</strong> mentira. Porém, ao narrar a história,<br />

tenta de alguma forma justificar aos leitores de o Colombo a<br />

sua atitude.<br />

Outra estratégia de romance folhetim trazi<strong>da</strong> para este romance<br />

diz respeito ao passado do próprio Luís Marcos. Este também<br />

tinha um segredo que nunca chegou a conhecer. Na segun<strong>da</strong><br />

carta do seu amigo, ficamos sabendo "que a família a que Luís,<br />

enjeitado, apenas julgava pertencer por adoção e cari<strong>da</strong>de, era<br />

sua pelo sangue, e a herança do homem que o criou, renuncia<strong>da</strong>

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