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262 Revista Brasileira de Literatura Compara<strong>da</strong>, n.9, 2006<br />

Seu envolvimento com Inês, mulher estranha e manca, modelo<br />

de um artista plástico de meia i<strong>da</strong>de, desencadeia uma "narrativa<br />

autobiográfica 17" que, apesar de invocar para si "a meticu- l7lbidem, p.85.<br />

losi<strong>da</strong>de e os rigores <strong>da</strong> escritaI8 ", termina por reconhecer a ver- 1" Ibidem, p.l04.<br />

<strong>da</strong>de como "ideal fugitivo e inalcançável"19 .<br />

19 Ibidem, p.l26.<br />

Qual um detetive, o narrador dispõe-se ao relato, na "busca<br />

apaixona<strong>da</strong> .(...) <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de20 ", através de uma auto-investigação 20 Ibidem, p.30.<br />

flui<strong>da</strong> e escorregadia, vaza<strong>da</strong> numa espécie de estilística <strong>da</strong> indecisão.<br />

Primeiro porque sua própria experiência com Inês começa<br />

sob a aura do esquecimento e <strong>da</strong> privação de sentidos: "Sofro de<br />

amnésia parcial, às vezes quase total, depois que bebo em excesso,<br />

e era preciso rastrear o final <strong>da</strong> noite para verificar se meus<br />

temores eram mais justificados do que a euforia21 ". Depois pela 21 Ibidem, p.22.<br />

relação indefini<strong>da</strong> e ambivalente entre Vitório Brancatti e sua<br />

modelo, projeta<strong>da</strong> numa obra, espécie de instalação performática,<br />

que constitui um absorvente work in progress, capaz de engolfar<br />

Inês, e o próprio narrador-crítico com ela envolvido.<br />

Apaixonado pela "modelo e personagem <strong>da</strong> pintura22 ", An- 22 Ibidem, p.103<br />

tonio Martins, após envolver-se em nebulosos eventos que terminam<br />

por levá-lo a julgamento pela acusação de estupro, resolve<br />

dedicar-se à "narrativa autobiográfica", conduzi<strong>da</strong> como "uma<br />

investigação interrra23 ", em que, segundo ele, "mais do que 23 Ibidem, p.27.<br />

(se)defender de acusações controverti<strong>da</strong>s e tortuosas, tent(a) explicar-(se)<br />

e entender-(se), intelectual, afetiva e criticamente24 ". 24 Ibidem, p.102.<br />

Acontece que, conforme a todo o momento o reconhece o crítico,<br />

sua "escrita minuciosa25 "jamais consegue matizar sentimentos 15 Ibidem, p.97.<br />

contraditórios , ou o íntimo "caos de emoções 26 ". O poço sem 26 Ibidem, p.95.<br />

fundo <strong>da</strong> própria subjetivi<strong>da</strong>de é segundo ele, "uma caixa ilimita<strong>da</strong>27<br />

" ou ain<strong>da</strong> o "palco interior", de um teatro onde culpas reais "Ibidem, p.20.<br />

OU imaginárias e afetos díspares podem duelar sem trégua, numa<br />

proliferação incessante de hipóteses e possibili<strong>da</strong>des.<br />

Nesta intrinca<strong>da</strong> correlação, um "texto cheio de curvas",<br />

"pleno de interrogações28 " encena a mística <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de como 28 Ibidem, p.50.<br />

fingimento, na própria medi<strong>da</strong> em que, a ca<strong>da</strong> passo, se debruça<br />

sobre a reversibili<strong>da</strong>de entre experiência e representação, ou ain<strong>da</strong><br />

entre memória e imaginação. Assim o biombo <strong>da</strong> tela-instalação<br />

de Vitório Brancatti é, de certa forma, a metáfora deste relato<br />

que, como ele, constitui um anteparo, mais capaz de velar do que<br />

esclarecer a experiência através <strong>da</strong> escrita. Como bem o reconhe-

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