06.01.2015 Views

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

318 Revista Brasileira de Literatura Compara<strong>da</strong>, n.9, 2006<br />

Nasce, por esse seu gesto, a "beleza forra", tal como pensa<strong>da</strong> por<br />

Vêncio, superando-se, assim, qualquer possibili<strong>da</strong>de de escravidão<br />

ou aprisionamento. Volto a lembrar o cajueiro, já agora projetando,<br />

para o fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> narrativa, o que se dá com o outro fio, o<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> humana. Para se construir tal fio, já sabemos - "É preciso<br />

dizer um princípio que se escolhe: costuma se começar, para ser<br />

mais fácil, na raiz dos paus, na raiz <strong>da</strong>s coisas, na raiz dos casos, <strong>da</strong>s<br />

conversas" (p. 54). Tanto na vi<strong>da</strong>, como na ficção. No caso desta<br />

última, tal como a concebe VênciolLuandino, ela se esconde no<br />

mágico encontro do "fio" e <strong>da</strong>s "missangas" e na possibili<strong>da</strong>de de<br />

ambos se acamara<strong>da</strong>rem, <strong>da</strong>ndo origem àquele "colar de cores<br />

amiga<strong>da</strong>s" que é a obra, tal como nos chega às mãos e aos olhos.<br />

A meu ver, para conseguir seu "arco-íris" de palavras,<br />

Luandino aciona dois movimentos que passam, respectivamente<br />

por dois procedimentos discursivos distintos, assim como por dois<br />

- às vezes até mais - códigos lingüísticos. Tais procedimentos e<br />

códigos se atravessam e se suplementam, combinando, de um lado,<br />

no plano discursivo, as cores <strong>da</strong>s missangas, que só o literário<br />

conhece e sabe orquestrar, com o fio <strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de no qual tais<br />

missangas se sustentam. De outra parte, o atravessamento encontra<br />

sua raiz no manejo <strong>da</strong> língua portuguesajá acamara<strong>da</strong><strong>da</strong> com<br />

as línguas nacionais, em uma clara e nova demarcação do limite<br />

<strong>da</strong>s fronteiras entre dois códigos que, durante muito tempo, se<br />

fizeram astros excludentes e em franca rota de colisão.<br />

Pelo encontro quase genesíaco <strong>da</strong> ancestrali<strong>da</strong>de angolana<br />

<strong>da</strong> voz com a moderni<strong>da</strong>de européia <strong>da</strong> letra, também o passado<br />

se convoca em Luuan<strong>da</strong> para alimentar o presente e assegurar o<br />

futuro. O texto, como um todo, se faz uma maka, seguindo a<br />

classificação de Chatelain (1964). Nela se encadeiam casos e casos<br />

e mais casos. Forma-se, desse modo, um elo instigante de<br />

contos contados ou de textos "falados ouvidos vistos", para usar<br />

uma expressão de Manuel Rui (1985). Tais estórias se aninham no<br />

colo <strong>da</strong> letra literária, criando um texto suplementado por diversos<br />

tempos, matrizes, memórias, saberes. O narrador <strong>da</strong> escrita<br />

como que veste a pele dos contadores de sua terra, ritualizando<br />

seu dito artístico pelas palavras mais velhas que sua própria sabedoria<br />

põe em circulação. A raiz dos casos, <strong>da</strong>s conversas, enfim, o<br />

fio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> narrativa lá estão, intratáveis, sustentados pela voz que<br />

tudo semeia e sedimenta, como castanha parti<strong>da</strong> de cuja casca

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!