06.01.2015 Views

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

download da revista completa (pdf - 10.778 Kb) - Abralic

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

259<br />

Narrar ou perecer: Sérgio Sanfanna e<br />

Ricardo Piglia, sobreviventes<br />

Ângela Maria Dias<br />

(UFF)<br />

I FUENTES, 2000, p.7<br />

A tradição inaugura<strong>da</strong> na literatura brasileira por Machado<br />

de Assis, nas memórias de Brás Cubas, o seu "defunto autor",<br />

dramatiza a escrita como leitura mescla<strong>da</strong> e desrespeitosa de variado<br />

repertório, bem distante falacioso horizonte de objetivi<strong>da</strong>de<br />

do preceituário realista. Desde o Pentateuco, passando por Xavier<br />

de Maistre até, muito particularmente, "a forma livre de um Sterne",<br />

este primeiro romance moderno <strong>da</strong> literatura brasileira, como<br />

divisor de águas entre o romance oitocentista anterior e a descendência<br />

que, então, fun<strong>da</strong>, proclama a "loucura <strong>da</strong> leitura" como a<br />

maior evidência de nossa radical impossibili<strong>da</strong>de de ser realistas e ou<br />

professar a crença num mundo objetivo acima de qualquer suspeita ..<br />

"Autor incerto de incerto romance"! ,Brás Cubas fun<strong>da</strong> uma<br />

reali<strong>da</strong>de trôpega e deslizante, na qual a "louca leitura" <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

pelo privilégio <strong>da</strong> morte, como ponto de vista, transforma-a num<br />

espetáculo desmesurado, arbitrário e absurdo. Tal "ambivalência<br />

na relação entre a ver<strong>da</strong>de e a ficção", radicaliza<strong>da</strong> pela síndrome<br />

<strong>da</strong> condição coloniza<strong>da</strong> de nossa cultura, permanece, desde então,<br />

no horizonte do romance hispano-americano, como a mais<br />

radical estratégia de moderni<strong>da</strong>de: o exercício autoconsciente <strong>da</strong><br />

forma como invenção técnica capaz de problematizar a reali<strong>da</strong>de<br />

e desestabilizar o dogmatismo do que é.<br />

Hoje, no início do século XXI, a invasão do real pelas imagens<br />

<strong>da</strong> última revolução tecnocientífica renova e aprofun<strong>da</strong> a<br />

persistente pergunta ibero-americana sobre quem somos nós. É<br />

que ao bovarismo estrutural gravado em nosso inconsciente coletivo<br />

pela História, como bem o reconhece Ricardo Piglia, se soma<br />

um outro:

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!