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308 Revista Brasileira de Literatura Compara<strong>da</strong>, n.9, 2006<br />

tores, prêmio este retirado quando se conhece a identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele<br />

que se assinava Luandino Vieira. No dizer de Manuel<br />

Ferreira, então "se inicia a montagem <strong>da</strong> gigantesca encenação<br />

político-repressiva que vai desenvolver-se, em to<strong>da</strong>s as frentes,<br />

contra a atribuição do Prêmio e a Socie<strong>da</strong>de Portuguesa de Escritores."<br />

(1980, p. 112). Como sabemos, a Socie<strong>da</strong>de é dissolvi<strong>da</strong><br />

em 21 de maio do mesmo ano, por ato do Ministro <strong>da</strong> Educação<br />

do governo fascista português.<br />

Luuan<strong>da</strong>, desde sua aparição, em 1964, representa uma ruptura<br />

na série literária angolana, primeiramente, no que concerne à<br />

espaciali<strong>da</strong>de física e simbólica nela figura<strong>da</strong>, ou seja, a <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

de Luan<strong>da</strong>. Tal ci<strong>da</strong>de deixa de ser um espaço colonial branco,<br />

para transformar-se em um lugar angolano por excelência, como<br />

tão bem analisa Tania Macêdo. Sua areia vermelha se faz metonímia<br />

explícita do sangue <strong>da</strong> própria terra que em suas veias geográficas<br />

corre, de modo mais rápido e tenso, nesse momento político em<br />

que, citando Macêdo, "a colônia começa a tornar-se sujeito de<br />

sua história" (2002, 70).<br />

De outra parte, a ruptura também - ou sobretudo - se dá no<br />

universo discursivo, quando, com grande senso de seu ofício artístico,<br />

Luandino cria um texto que - se se faz uma abor<strong>da</strong>gem de<br />

leitura mais ligeira - parece muito simples, em termos de expressão<br />

lingüística, mas, na ver<strong>da</strong>de, representa um produto literário<br />

altamente sofisticado, em termos de elaboração estética. Por tal<br />

exercício discursivo, a territoriali<strong>da</strong>de física <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de ama<strong>da</strong> se<br />

transmuta em uma territoriali<strong>da</strong>de humana por excelência. De novo,<br />

recorro a Barthes para melhor explicitar que os três contos <strong>da</strong><br />

obra criam, no leitor, um efeito de fruição estética que "faz vacilar<br />

[suas] bases históricas, culturais, psicológicas [ ... ], a consistência<br />

de seus gostos, de seus valores e de suas lembranças, faz entrar<br />

em crise sua relação com a linguagem." (1977, p. 22)<br />

O presente gesto de leitura, partindo desses pressupostos,<br />

se debruçará sobre os caminhos imagísticos e discursivos de<br />

Luuan<strong>da</strong> tentando pensar, de um lado, a questão espacial e, de<br />

outro, a estética.

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