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Narrar ou perecer: Sérgio Sant' Anna e Ricardo Piglia, sobreviventes 265<br />

Brancatti revela-se inteiramente confundido ao quadro mental<br />

composto pelo crítico, na névoa <strong>da</strong> noite anterior, em profundo<br />

êxtase desejante por Inês.<br />

Nesse sentido, o caráter cênico <strong>da</strong> fantasia, tomado como<br />

endereçamento ao Outro, fun<strong>da</strong>menta a narração do crítico tanto<br />

em sua constante fática de apelo ao leitor, quanto na própria concepção<br />

do narrador sobre o caráter teatral <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de como<br />

"palco interior", ou ain<strong>da</strong> na inter-relação estreita através <strong>da</strong> qual<br />

conjuga e compreende as linguagens artísticas, como a literatura<br />

que produz, o teatro e a pintura.<br />

Assim a natureza híbri<strong>da</strong> <strong>da</strong> obra de Brancatti, entre a pintura,<br />

a representação teatral ou perforrnática, bem como a ambigüi<strong>da</strong>de<br />

de que se reveste como produto <strong>da</strong>s relações particulares<br />

vivi<strong>da</strong>s entre a modelo e o artista, amplia-se pela inclusão, em seu<br />

âmbito, do próprio relato de Antonio Martins, conforme ele mesmo<br />

o reconhece:<br />

31 Ibidem, p.119.<br />

E se eu pretendia - embora meus atos e atitudes perante a justiça<br />

não pudessem assegurar-me disso - ser absolvido, era em<br />

meus termos, que incluíam essa posse conquista<strong>da</strong> de Inês, elevando-me<br />

<strong>da</strong> mera condição de fantoche manipulado pelo pintor<br />

e sua modelo à de ator consciente dentro <strong>da</strong> obra, apesar de<br />

eu não ter uma certeza cabal disso, procurando iluminá-lo um<br />

pouco melhor em minha própria obra: este relato3l •<br />

Por sua vez, o próprio relato, no espelhamento que promove<br />

entre suas múltiplas dimensões - a crítica, autobiográfica e a<br />

ficcional - pode tornar-se, <strong>da</strong> mesma forma que a obra do pintor<br />

que o inspirou, passível de desconfiança, como uma espécie de<br />

engenhosa mistificação. É ain<strong>da</strong> a loquaci<strong>da</strong>de do próprio narrador<br />

que o reconhece:<br />

... não poderá uma obra ser ao mesmo tempo péssima e<br />

provocativa, vulgar e estimulante, tomando relativo, para não<br />

dizer inútil, todo juízo de valor O que, por sua vez, remetia e<br />

remete a uma outra pergunta: não poderá uma peça crítica tornar-se<br />

uma obra de criação tão suspeita e arbitrária quanto A<br />

modelo de Vitório Brancatti<br />

O paradoxo <strong>da</strong> arte diante do ecletismo pós-moderno, em

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