UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESCasa Zelu veste noivas há mais de 40 anosMaria de Lourdes Ferreiranasceu em 1937 e teria 15 anosquando começou a trabalhar nocomércio caldense. Primeiro foifuncionária da Casa Antão, ondechegou a ganhar 150$00 (75 cêntimos)por mês. Este estabelecimentosituava-se no local ondeestá hoje a loja Ornatus e naépoca vendia tecidos e tinhaserviço de alfaiataria.Mais tarde passou para a CasaMonteiro, mantendo-se praticamenteno mesmo ramo de negócio,também dedicado a tecidos,lingerie e retrosaria.Nessa altura já namorava oseu futuro marido, José MariaAgostinho (1932-1972) que trabalhavana Casa Campos, tambémdo mesmo ramo e que ficavana Praça da Fruta.Maria de Lourdes conta quefoi então que lhe ofereceram umoutro emprego também no comércio,a ganhar mil escudos(cinco euros) por mês em vezdos 700 escudos (3,5 euros) queauferia na Casa Monteiro. Aindaponderou a oferta, mas acaboupor desistir em nome daconfiança que tinha no seu empregador.Acabou por ficar erapidamente se tornou encarregadade balcão. “Quando saída Casa Monteiro já ganha-va esse valor”, recordou a comerciante,que sublinhou váriasvezes a amizade que a ligavaao ex-patrão.A Zelu, um projecto do casal,abriu portas ao público a 15 deMaio de 1968 no nº 48 da RuaHeróis da Grande Guerra (ondeé a For Men). Vendia lãs, tecidos,atoalhados e têxteis-lar,como as lojas onde ambos tinhamtrabalhado.“Naquele tempo o comér-cio estava aberto nesse dia”,recordou a comerciante. JoséMaria Ferreira era uma pessoaatenta, sempre à procura de ino-José Maria Agostinho (1932-1972) foi um dos fundadores da Zelu. Ao lado Maria de Lourdes Ferreira acompanhada pelos filhos Paulo e SusanaAgostinho. Os três são sócio-gerentes do grupo.vação e ia com frequência a Lisboaver o que as casas da capitalfaziam nas suas montraspara poder inovar nas <strong>Caldas</strong>.A Casa Zelu abriu no Dia da Cidade em 1968 a vender tecidos a metro. Mal sabia ainda o casalfundador que iria especializar-se e tornar-se numa das primeiras casas do país especializada emnoivas. Quarenta e dois anos passados a casa cresceu e a matriarca Maria de Lourdes Ferreira jáconta com os dois filhos na gestão deste grupo empresarial caldense que possui quatro lojas(duas nas <strong>Caldas</strong> e duas em Lisboa). Em 2008 facturaram mais de meio milhão de euros.Chegava até a escrever propositadamentecom erros para aspessoas pararem, nem que fossepara corrigir o que estavaerrado. “Interessava era atra-ir gente à loja”, contou a comerciante.A primeira localização da Zeludurou 12 anos, já com uma pequenaárea dedicada às noivas.Durante este tempo nasceriamos dois filhos do casal – Paulo eSusana Agostinho.Em 1972 José Maria Agostinhofaleceu, vitima de doença prolongada.Paulo tinha oito anose Susana, quatro. A viúva nãose deixou abater e pegou emmãos o negócio que tinha iniciadocom o seu marido.As necessidades de mais espaçoeram óbvias e por isso amatriarca decidiu mudar para aloja actual, situada um poucomais à frente. “Só Só que tinhaum problema. Tinha umarenda de mil escudos e pas-sei a pagar 20 contos!”.Mas mudou-se. Na altura játinha duas empregadas e continuavaa vender tecidos, lingerie,atoalhados, bordados, cambraias,missangas e retrosaria.Mas aumentou a área especializadaem vestidos de noivas.“Era um sucesso. As pes-soas gostavam de ver asprovas e até cheguei a pen-sar que em vez de ter dedi-cado uma pequena parte,deveria ter concedido maisespaço para as noivas”. Essadecisão só a tomaria, porém,mais tarde.Nos anos oitenta a Zelu dedica-setambém à confecção echegou a ter 14 funcionárias, dasquais cinco a trabalhar no ateliere nove no balcão.Pouco a pouco começa a haveralgum desinteresse pelaárea dos tecidos e chega a horade apostar na especialização dosImagens da Zelu quando foi inaugurada, em 1968. Já tem vestidos de noiva mas ainda se dedica à venda de tecidosvestidos para noivas. Maria deLourdes Ferreira recorda-se deviajar aos armazéns do Nortepara fazer compras. “Eu Eu saíaàs cinco da manhã, levavaos meus dois filhos atrás.Tinha o melhor Fiat da altura,um 1500, que andou qui-lómetros e quilómetros...”,recordou a comerciante.A EXPANSÃO“Chegámos a vestir du-rante os meses de verão 20 a30 noivas por semana”, contouMaria de Lourdes Ferreira,referindo-se às décadas de 80 e90. Na sua opinião, o forte doseu negócio é o serviço pós-vendae não foram raras as vezesque iam vestir a noiva a casa,fosse ela de Ferreira do Alentejoou de Braga. ”Ninguém pa-gava mais por isso”, contou aempresária, explicando que éraro, mas ainda o fazem. “Fo-mos há dias à Nazaré poiscomo vestimos a mãe, ago-ra tivemos que vestir a filha”,contou.A casa Zelu veste noivas detodo o país e também quem estáemigrado. “Temos clientes daSuíça, Inglaterra e Françaque compram os vestidoscom um ano de antecedên-cia”, contou a empresária.Por sugestão dos fornecedores,mãe e filhos começaram afrequentar as feiras internacionais.E em 1989 Maria de LourdesFerreira toma a decisão deabrir uma loja em Lisboa.“Tínhamosduas ou trêscolecções que não se ven-diam nas <strong>Caldas</strong> porqueeram demasiado inovadorase precisavam de ou-tros mercados”, disse a empresária.Foi assim que abrirama loja Rebecca Noivas, nazona do Marquês de Pombal.Como fica na Rua CamiloCastelo Branco, escolheramaquele nome pois há umaobra deste autor onde há umapersonagem que é uma noivahomónima.A continuação da expansãodo negócio dá-se em 1994,através da abertura da terceiracasa do grupo, tambémperto do Marquês – a lojaCymbeline, uma marca francesaque tinha os proprietáriosda Zelu como seus representantesem Portugal.Em 1998 abre a quarta lojada família (e a segunda das<strong>Caldas</strong>). Também se chamaCymbeline e fica na Rua HenriqueSales. Os três sócios tiveramde convencer a marcafrancesa que a cidade erauma boa aposta porque osseus fornecedores preferiamoutra localidade de maior dimensão.Ao todo na estrutura trabalham10 pessoas, cinco nas<strong>Caldas</strong> e as restantes nas lojasem Lisboa. Há vários trabalhosque são pedidos emoutsourcing como, por exemplo,bordados específicos queas noivas queiram nos seusvestidos.Apesar da crise, a expansãodo grupo não parou, estandoprevista para breveuma nova abertura.Natacha Narcisonnarciso@gazetacaldas.com
Um gestor e uma estilista paracontinuar o negócio da família“Somos uma das primei-ras lojas da especialidadedo país”, disse Paulo Agostinho,45 anos, que tirou o cursode Gestão e desde os 24 que trabalhapara a empresa familiar.É o responsável pela vertenteadministrativa e financeira, enquantoque a sua irmã, SusanaAgostinho, é a criativa (ver caixa)da casa, hoje com sua própriamarca.Paulo Agostinho tinha quatroanos quando a Zelu abriu e recordaa capacidade inovadora dasua mãe que sempre apostouem acções de marketing. Brincavacom os amigos no Beco doBorralho enquanto a sua mãemandava fazer flyers de divulgaçãoda sua casa comercial,que ao fim de semana espalhavampelas aldeias da região duranteos passeios em família.Lembra-se também de quandoa mãe mandou fazer um filmesobre a Zelu que passavaantes dos filmes no cinema e quechegou a ser exibido no EstúdioUm. Também fez anúncios naRádio Renascença e páginas inteirasde publicidade nos jornaisda época para dar a conhecer aespecificidade do seu negócio.“Eram acções muito bem feitasque marcaram a diferen-ça”, contou o gestor.“Nós continuámos a mar-ca que as pessoas sabem queé rigorosa e cumpridora”, disseo empresário, que divide o negóciocom a mãe e a irmã.O segredo para manter umnegócio há 42 anos é apenas“trabalho, rigor, espírito desacrifico, muita dedicação etambém algum talento”, disseo empresário. Na sua opinião,a mãe, Lourdes Ferreira, “é onosso melhor balcão”.Segundo dados do INE, em relaçãoà última década dos anos90 “houve um decréscimo de<strong>Cronologia</strong>50% nos casamentos, aocionais para ser consultora.passo que a oferta aumen-“Criar um vestido de noi-tou”, disse Paulo Agostinho. Sóva é construir um sonho. Po-nas <strong>Caldas</strong> há cinco lojas. Hojedemos casar 10 vezes com oem dia é difícil saber como semesmo empenho, mas ne-chega às 40 mil pessoas que ain-nhum é como o primeiro”,da casam em Portugal.conta.As noivas que escolhem a Zelu Segundo a criadora de moda,continuam a chegar de todo o cada vestido e cada noiva sãopaís. Cerca de 70% são de fora do únicos. Logo tem que ser desenhadocom emoções.concelho das <strong>Caldas</strong>. Vêm de Braga,Sintra, Cascais, Montijo e “é Susana Agostinho diz que àuma pena que a cidade nãomedida que se vai aproximandotenha uma sinalética em con-a data, a cliente vai diminuindodições”, disse o empresário. a confiança e ficando mais nervosa.“É pois preciso manterloja tem no verso a localizaçãoa nossa qualidade e a nossados parques de estacionamen-inovação”, explicou a estilis-O próprio cartão de visita dato da cidade. Paulo Agostinho ta, que respeita o sonho dasdiz que as <strong>Caldas</strong> “tem bom co-suas clientes para aquele dia esmércioe lojas que não a deipecial,sem esquecer as carac-xam ficar nada mal”. Mas terísticas do seu corpo e as tendênciasda moda.meio envolvente não evoluiu“O nosso vestido não temtanto como deveria e não senada a ver com o da nossaadequa aos novos tempos”.mãe”, disse a criadora de moda,apesar dos bons espaços, “oexplicando que hoje uma noivaA festa não pode pararnão aceita vestir algo que nãopermita mexer-se. Hoje em diaa noiva quer dançar e estar àAinda a Zelu funcionava nonº 48 quando Susana Agostinhoassistiu a uma venda que lhemarcou o futuro - um vestido denoiva vermelho. “É mesmo istoque quero fazer!”, pensou paraconsigo e de facto todo o seu1968 – Inauguração da Zelu no nº 48 da R. Heróis da GrandeGuerra1979 – Mudança para as actuais instalações no nº 56 da mesmarua1989 – Inauguração da Rebecca-Noivas em Lisboa1994 – Inauguração da Cymbeline em Lisboa1998 – Inauguração da Cymbeline-<strong>Caldas</strong> na Rua HenriqueSalesO grupo é composto por duas sociedades por quotas - a Génova,Lda. (detentora das lojas Rebecca-Noivas e Susana Agostinho)e a Virtual, Lda. (que detém as lojas de marca Cymbeline).Ambas têm um capital social de 100 mil euros, repartido empartes iguais pelos três sócios. A primeira loja Zelu pertenceintegralmente à empresária em nome individual Maria de LourdesFerreira.vontade, “mesmo que queiraestar fantástica e ser o focoda atenção das 150 pessoasque convidou”.Susana Agostinho possui asua própria marca, faz as suaspróprias colecções e frequentaas feiras internacionais. Actualmentediz que estamos a voltaraos grandes românticos.percurso foi nesse sentido. “Atéporque sair todos os dias doColégio [Ramalho Ortigão] ever diariamente vestir princesasé algo que nos mar-“Em épocas de grandes cri-ca”, recorda.ses, as estruturas dos cria-Hoje a caldense, de 41 anos,dores não podem parar,tem a sua marca própria e é es-caso contrário o resto datilista de noivas. Foi estudar Essociedadeentra em deprestilismono Citex para o Porto du-são”, disse. Na sua opinião, arante quatro anos com o objectivoespecífico de apoiar a Zelu. ar e “se não se faz com 200Durante muito tempo Susanapessoas, faz-se com 100. MasAgostinho fui a única estilistaa rainha está lá na mesma”.portuguesa especializada emfesta também tem que continu-noivas e por isso muito “assedi-N.N.ada” por várias marcas interna-José Maria Agostinho e Mariade Lourdes Ferreira com o filho,Paulo, no ano em que o casaldecidiu investir na lojaO cor do vestido deve ser aquelaque a noiva sonharSusana Agostinho foi uma das primeiras estilistas emPortugal dedicada em exclusivo aos vestidos de noivaSócia-gerente, estilista residente,conselheira da marca,responsável por eventos. SusanaAgostinho é tudo isto e temainda a sua própria marca quevende nas suas lojas.“Estamos cá há 42 anos eas pessoas procuram-nospela credibilidade e porquesabem que são bem servi-das”, disse a criadora. A lojafaz provas aos sábados e até aosdomingos pois sabem que há clientesque não podem vir a outrosdias. “Estamos muitoatentos às necessidades dosnossos clientes”, disse a criadora.Este ano instituíram o DesignerDay, algo que se faz internacionalmente.Nesse dia SusanaAgostinho vem às <strong>Caldas</strong>(normalmente está em Lisboa)e apresenta as suas ideias aosclientes, com horas marcadas.“É uma inovação a que nospropusemos e que é feitapelas grandes marcas”, contou.Hoje em dia um vestido denoiva pode custar entre 300 e os3.000 euros e tudo o resto é escolhidoem função do tipo devestido. Este pode incluir saiote,que se usa ou não consoantea sua dinâmica. A lingerie tambémé escolhida de acordo comMãe e filha compraram osvestidos na Zeluo corte do vestido “pois traba-lhamos sobre uma formaque é o corpo da noiva, logoé um pormenor muita impor-tante”, disse a criadora.Segue-se a escolha dos sapatose dos acessórios como osanéis, pulseiras, apliques de cabeloe os brincos. Este últimospodem ser de família ou a noivapode preferir peças contemporâneas.Há quem queira seguira tradição inglesa e usar umapeça de roupa emprestado, outraoferecida, uma antiga e umade cor azul (há quem diga quetambém se deve levar uma peçaroubada).Indispensável é o bouquet ouuma estrutura que a noiva levena mão e que deve ser estudadopor quem cria o vestido.O uso do branco é uma ideiavitoriana pois antes as noivasvestiam-se segundo as cores dassuas cortes ou das épocas. “Acor do vestido de noiva deveser aquele com que ela so-nhar”, disse a criadora.E quais foram os vestidosmais invulgares que já venderam?Maria de Lourdes Ferreiracontou que há 30 anos vendeupara uma jovem do Chão da Paradaum vestido todo vermelho,plissado com um corte imperiale saia em soleil.Susana tinha 20 anos quandocriou o seu primeiro vestido colorido,neste caso, roxo. “O ves-tido de noiva é algo mágicoe tem esse dom - pode-se es-colher naquele dia a imagemque se quer recordar paratoda vida”, concluiu.Natacha Narcisonnarciso@gazetacaldas.comSofia Sousa, 49 anos, casouem Julho de 1979 e comprou oseu vestido na Zelu. “Já naque-le tempo esta era uma casade referência”, conta esta cliente,cuja filha, Patrícia Sousa,comprou recentemente o seuvestido na mesma casa.A arquitecta de 30 anos escolheuum vestido contemporâneoapós ter experimentado 18 modelose teve o aconselhamentode Lourdes Ferreira, que com elaconversou sobre o que preten-Patrícia e Sofia Sousa. A filha compra agora o vestido dedia para a festa que está mar-noiva na mesma casa onde a mãe comprou o seu há 31 anos.cada para uma quinta da regiãono próximo Outono.“As pessoas que dizemque não se querem casar éporque nunca experimenta-ram um vestido de noiva. Éuma verdadeira emoção,chorei logo quando experi-mentei o primeiro modelo”,contou a noiva.“Quero um vestido que aspessoas falem e que recordemdurante muitos anos”, dissePatrícia Sousa. Antes de ter ido àZelu foi a outras lojas e chegou alevar catálogos para experimentaros modelos que achava quelhe assentariam melhor.A mãe, Sofia Sousa, celebrana próxima quarta-feira, 21 deJulho, 31 anos de casada. “Foium casamentão, tinha 250convidados e durou trêsdias”, disse. Recorda que já naaltura gostou do atendimentoda Zelu e acrescentou que elese repetiu passadas três décadascom a sua filha.O seu vestido era um cai-caique em 1979 custou 30 contos(150 euros) e agradou aos 250convidados que assistiram à cerimóniareligiosa na Igreja doSenhor da Pedra.N.N.