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Cronologia - Gazeta Das Caldas

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Facas da Curel cortam pelo mundo inteiroVasco Matias tem guardada toda a documentaçãoatinga da empresa, como este catálogo dos finais de décadade 1970, já em edição bilingueA Curel é hoje uma fábrica bem diferentedaquela que Luís Matias comprouem 1982 e os clientes espalhamsejá por diversas zonas do globo. Ainternacionalização foi um processoque se fez, dizem os protagonistasdesta história, devagarinho.“Fiz uma grande exportaçãopara Angola, na altura de dezmil e tal contos [mais de 50 mileuros], , cerca de um ano depoisde comprar a fábrica. Venditambém alguma coisa para Mo-çambique”, recorda Luís Matias.As primeiras solicitações aparecerampelo correio, de países como aAlemanha e a Venezuela. Com o aparecimentodas firmas publicitáriase das páginas amarelas, a divulgaçãoaumentou. Quando Vasco IvoMatias termina a tropa, em 1990, aempresa investe nos certames internacionais.Uma das primeiras foi aFeira Ambiente, em Frankfurt, ondeainda hoje marcam presença.As facas da Curel podem ser encontradasem diversos países dade dos produtos. Mas as questõesambientais não têm sido esquecidas.“Hoje em dia temos umaproveitamento a 100% detodos os desperdícios”, com aságuas usadas na tempra e no arrefecimentoa funcionarem em circuitofechado, com a reciclagem de tudoquanto é desperdício de aço e com oaproveitamento da exaustão de poeiraspara aquecimento. “Não háqualquer agressão ambiental”,assegura.Ao investimento necessário a todosestes processos juntou-se aaposta forte em tecnologias de ponta,na informatização da administraçãoe na computorização de muitosprocessos de fabrico e, comonão podia deixar de ser, no design,na criação de novas linhas com a colaboraçãode designers internos eexternos à empresa. O objectivo:“tornar as facas da Curel bastantemodernas e a acompa-nharem as tendências damoda, dos novos padrões enovos estilos de vida e a en-caixarem-se perfeitamente navida moderna”. A publicidade temtambém sido uma preocupação doempresário, com diversas acçõesna imprensa nacional e com projectospara a divulgação na televisão.Europa, nos EUA, Canadá, Brasil,Venezuela, Argentina, PALOP, ArábiaSaudita e Líbano. “Tentamos nãoestar dependentes de um sóConcorrência desleal emercado, pensamos que este éfalta de apoios põemum dos segredos de sobrevivên-indústria em riscocia deste sector”, explica VascoMatias.São investimentos como este quePara o mercado externo segue têm feito com que a Curel sobreviva àcerca de 50% da produção da fábri-“tentativa de destruição de alca,que ronda os 2,5 milhões de pe-guns distribuidores”, que importamças por ano. Um indicador da evoluçãodos processos de fabrico. “Háoutros países emergentes, mas cuja20 anos fazíamos, entre cani-falta de qualidade é rapidamente de-vetes e facas, cerca de 50.000tectada pelos consumidores.artigo por mês. Hoje fazemosCom cerca de 70 trabalhadores nauma média de 20.000 canive-sua empresa, Vasco Matias não he-tes por mês e 150.000 facas esita em afirmar que “a pressãocutelos. É uma coisa assusta-vem de todos os lados” e que dedora”, diz o filho de Luís Matias, que há duas décadas para cá, a formasimilares da China, do Paquistão e decifra a facturação anual na ordem como se vive a indústria mudoudos 1,2 milhões de euros.drasticamente. Da pressão exercidaPara a afirmação da marca nos pelas entidades públicas à falsificaçãodos produtos, passando pelo en-mercados nacionais e internacionaistem contribuído um investimentoconstante na melhoria dos energia e pela situação económicacarecimento das matérias-primas eprocessos de fabrico e na qualida-internacional, que não favorece a exportação,muitas são as queixas doempresário.Às autoridades locais e regionais,Vasco aponta a falta de apoio aum ofício com uma tradição seculare que foi implantada na zona pelosmonges de Cister que habitavam oMosteiro de Alcobaça. “É um patrimónioque espero que a cur-to prazo, com as promessasque temos dos políticos, sejamais aproveitado pelas autori-dades locais”, afirma.Outra queixa feita pelo empresáriopassa pela inexistência de formaçãode futuros cuteleiros nas escolasda região, e esta é uma das grandespreocupações quanto ao futuroda cutelaria. Um futuro que, acredita,passa pela manutenção e recuperaçãode alguns dos aspectos maistradicionais do ofício.“A grande memória que guardodos meus tempos de criançaé o carinho que todas as pes-soas desta região tinham pelascutelarias. Todas, directa ouindirectamente, estão ligadasao fabrico de facas, e é issoque também nos faz avançar”,diz o empresário.Vasco Ivo Matias quer manterviva a história da cutelaria em SantaCatarina e a memória colectiva.“Não queremos deixar que todoo trabalho que estas pessoastiveram, e em determinadas alturasbastante duro, seja es-quecido e seja trocado por umqualquer interesse comercial eimediato de mandar fazer foraas coisas que toda a vida sefizeram na nossa terra a trocode lucro fácil”.Uma das etapas de uma luta que,acredita, será longa, passa pelo relançamentoda marca mais antigadas cutelarias santacatarinenses, aSovi, que trouxe o seu pai para a vila.“Muitas pessoas, quer em Por-tugal quer no estrangeiro, serecordam da boa qualidade dosseus produtos e até do design,e esta é também uma forma dehomenagear o seu fundador, omeu tio”.Joana Fialhojfialho@gazetacaldas.comTrabalhador também seguiu aspisadas do pai“Nasci na cutelaria, não aprendi a fazer outra coisa,mas é disto que eu gosto muito”, diz António GonzagaAntónio Gonzaga, 53 anos, éandar de Ferrari”.filho de Luís Gonzaga (o segundopatrão de Luís Matias) e tra-saudosismo que recupera algu-Mesmo assim, é com algumbalha na Curel há 13 anos. Um mas das suas memórias. “Ape-número pequeno que escondesar de serem tempos difíceisuma vida inteira dedicada àsem termos de produção, re-facas.cordo-me dos tempos em“Na Ramalhosa, aindaque o meu pai agarravanão havia energia eléctricanuma mola de carroça, quee já o meu pai tinha nove fun-era sobreaquecida numacionários e usava um gera-forja com carvão de pedra.dor grande para poder tra-Forjado por duas pessoas,balhar com as máquinas”,uma com o malho a outralembra o cuteleiro. Também ocom o martelo, o aço comseu pai acabaria por se mudarespessura grossa era ma-para Santa Catarina com todaslhado até ficar em pequenosas suas máquinas e todos oslinguetes e a partir daí eraseus empregados, já lá vão 55cortado com corta frio, no-anos. Por isso, António Gonza-vamente aquecido, e assimga considera que pertence ase faziam os canivetes e asuma das mais antigas famíliasfacas”, conta.de industriais da cutelaria da Se hoje o mercado é muitozona.mais exigente no que diz res-“Eu recordo-me de há 45peito ao design, na altura os cli-anos, era eu menino e moço,entes eram bem mais práticos.havia pelo menos umas sete“As facas que mais se fazi-oficinas artesanais aqui emam eram as de matar os por-Santa Catarina”. Oficinas decos e os canivetes”.diferentes dimensões e mais ou Com uma vida inteira a trabalharnas facas, António Gon-menos evoluídas, com os donosa “comprar os chifres doszaga garante que não se imagi-bois, a trabalharem-nosna a fazer outra coisa. “Há pes-[para fazerem os cabos], , a fa-soas para quem o trabalhozerem tudo à mão”. Um ofícioé um esforço. Eu não vejoque ocupava muitas pessoas,isso assim. Nasci na cutela-muitas das quais a acabarem porria, não aprendi a fazer ou-desistir, por não conseguiremtra coisa, mas é disto que euacompanhar a evolução da in-gosto muito”.dústria.E o que torna a cutelaria tãoQuando lhe pedimos que viajeno tempo e nos diga qual foitria que todos os dias se está aa maior evolução no sector, dizinovar e isso é um incentivoque a mudança é drástica. “Épara o nosso trabalho”.como se nós andássemos decarroça e passássemos aJ.F.apaixonante? “Esta é uma indús-Fundada em 1977, a Curel é hoje uma fábrica amiga doambiente, em que nada é desperdiçadoNa cutelaria podem ver-se algumas máquinas com queos cuteleiros trabalhavam há 50 anosCRONOLOGIA1960 – Luís Matias começa a trabalhar para António Ivo Peralta1968/69 – Instala-se por conta própria como vendedor1977 – Compra a Curel e mantém-se nas Relvas1982 – Muda a fábrica para Santa Catarina1995 – Vasco Matias assume a gestão da Curel, através daempresa VCI – A Fábrica das Cutelarias, Lda, uma sociedadepor quotas com o capital social de 200.000 euros que ainda hojedetém a marca.

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