UMA EMPRESA, VÁRIAS GERAÇÕESO filho do Joaquim da Lareira já segue as pisadas doO futuro dono da Lareira quando tinha sete anos em1951. Joaquim é a criança do meio, em baixo.Sérgio (de chapéu branco) e o seu pai (à direita) na cozinha do restaurante.A Lareira – o restaurante que veio da AlemanhaJoaquim Coito nunca teve fériase quando vai para fora das <strong>Caldas</strong>é em trabalho ou para conheceralgum estabelecimento para o qualé convidado.A sua mulher, Maria Beatriz Coito,trabalhou sempre ao seu ladoaté recentemente, mas está agoraa tomar conta da mãe que ficouacamada.Com 66 anos, Joaquim Coito nãose sente cansado e não pensa nareforma. “Ainda acho que sounecessário aqui”, afirmou.Mas o filho, Sérgio Coito, de 39anos, está a assumir cada vez maisfunções na empresa. Na cozinha éo cozinheiro principal e ao nível dagestão é o responsável pelas compras,por grande parte dos orçamentospara os caterings e por tudoo que são burocracias.A filha do casal, Susana Coito, éarquitecta na Câmara das <strong>Caldas</strong>.“Até seria bom que ela traba-lhasse connosco, mas ela tirouo curso de Arquitectura e gos-ta muito do que faz”, diz o pai.Para o empresário, a vantagemde ter uma empresa familiar é podertrabalharem em conjunto, masé importante saber dar a autonomianecessária a cada um.Embora Sérgio Coito, filho dofundador do restaurante, não quisesseadiantar o volume de negóciosanual, comentou que em 2009tiveram um decréscimo nas receitas,mas em 2010 a situação temmelhorado.De África à AlemanhaJoaquim Coito nasceu em 1944,no Peso (Santa Catarina) e foi morarpara Salir de Matos quando casou,em 1970.O seu primeiro emprego foi comoaprendiz de padeiro nas <strong>Caldas</strong> daRainha, aos 13 anos. Chegou a trabalharna Quinta do Sanguinhal, noBombarral, mas como não gostoumuito da agricultura voltou a serpadeiro, mas desta vez em Lisboa.Em pouco tempo, como o patrãogostava muito dele, passou para acaixa na padaria.“Mas a minha ambição eraembarcar porque aqui na zonaandava muita gente embarca-diça”, conta. Depois de tirar a cartamarítima, embarcou num barco depesca como ajudante demotorista e foi até África.Chegada a altura de fazer a tropa,em 1966, esteve primeiro colocadoem Portugal e acabou por seguirpara a Guiné, onde esteve doisanos, durante a guerra colonial.Quando regressou voltou a embarcar,mas agora a sua nova ambiçãoera emigrar. “Consegui umpassaporte turístico e fui paraa Holanda, onde embarqueinum navio americano”, contou.De 1968 a 1972 trabalhou nesse navio,até que decidiu deixar o marporque se casou com Maria Beatrize emigrou para Osnabrück, na Alemanha.Como no tempo da tropa aprenderainglês, começou a trabalharcomo tradutor numa firma alemãde peças de automóvel que em 1973contratou cerca de 600 portugueses.“Eram quatro fábricas e eufazia de intérprete para os por-tugueses que lá trabalhavam”.Esteve dez anos nestas funções,mas ao mesmo tempo foi criandoos seus próprios negócios. Seis mesesdepois de ter chegado à Alemanha,já tinha aberto uma merceariae ao fim de um ano investira numrestaurante. Entretanto trabalhavatambém como gerente numa agênciade viagens. E sobrou-lhe aindatempo para ajudar a fundar umacolectividade de portugueses - aAssociação Recreativa de Osnabrück.Face aos bons resultados, decidiuabrir mais um restaurante, deprimeira categoria, com a ajuda doseu irmão como cozinheiro. Comeste estabelecimento já teve maisdificuldades porque fazia questãode apresentar produtos de elevadaqualidade. Todas as segundas-feirasdeslocava-se a Paris para compraros peixes, legumes e outros artigosque usava no restaurante. Foitambém na capital francesa que JoaquimCoito frequentou um cursode molhos, no Instituto de Cozinha.Regresso a PortugalAo fim de dez anos a famíliadecidiu voltar para Portugal porqueo filho, Sérgio, tinha terminadoa quarta classe e a filha, Susana,ia iniciar o ensino primário, e ospais queriam que eles continuassemos estudos em Portugal. Paraalém disso, a sua mulher, que éfilha única, quis vir ter com os pais.No final de 1982 vendeu os doisrestaurantes, Tamar e Alberman,a um português casado com umaalemã e regressou. Ainda hoje osdois restaurantes existem, com osmesmos nomes.Já em Portugal, abriu uma espéciede mini-mercado gourmet – oCopacabana - junto à Praceta AntónioMontez.“Até em Lisboa não haviamuitos locais com os produtosque eu vendia, para uma cozi-nha mais sofisticada”, referiuJoaquim Coito. Vinham pessoas devários lugares do país para se abastecerem.O segredo estava nosbons contactos que o empresáriotinha e que lhe traziam produtosde qualidade de vários países, nomeadamenteos queijos e os patêsfranceses.Manteve o mini-mercado durantecinco anos e em 1983, optou porinvestir de novo num restaurante.Há 26 anos que a família Coito explora aquele que é considerado um dos melhores restaurantes daregião. A Lareira, no Alto do Nobre, é uma referência no domínio gastronómico das <strong>Caldas</strong> da Rainha edo Oeste, e o seu nome é conhecido não só pelo restaurante, mas também pelos serviços exterioresde catering em diversos eventos.O restaurante tem representado a gastronomia do Oeste em muitos certames e tem sido alvo dereportagem em várias publicações nacionais e internacionais.Do quadro da empresa fazem parte 13 funcionários (incluindo os sócios-gerentes), um número queaumenta quando é necessário responder a picos de trabalho.Actualmente há duas gerações que trabalham no restaurante: Joaquim Coito e o seu filhoSérgio. A transição de gestão já começou a ser feita e Sérgio Coito tem vindo a assumir cada vezmais protagonismo na empresa Joaquim Bernado do Coito Lda.A Lareira já existia desde a décadade 70, explorada por Fernando Cavaco,junto ao campo de tiro aospratos da empresa J. L. Barros, mastinha encerrado entretanto. JoaquimCoito alugou então o espaçopor 11 contos ao mês (55 euros),em sociedade com José Saraiva (ligaçãoque durou apenas um ano).Nessa altura não havia praticamentenada no Alto do Nobre anão ser aquele campo de tiro. “Aspessoas diziam que nunca iriaconseguir singrar, mas empouco tempo começámos atrabalhar muito bem”, contou.Começou com sete funcionáriose uma aposta na cozinha internacional,mas também com pratosde cozinha portuguesa. JoaquimCoito acredita que o seu estabelecimentoserviu de inspiração paramuitos restaurantes que depoissurgiram na região. Até porquemuitos antigos funcionários estabeleceram-sepor conta própria.“Eu Eu nunca escondi nada a nin-guém e ensinei muita gente.Muitos ex-funcionários estabe-leceram-se por si próprios eainda bem”, afirmou. A Lareiratornou-se assim uma “escola” paravárias gerações.Em 1984, já a trabalhar sozinho,comprou o restaurante e há 15anos fez obras para alargar o edifício,de modo a ter mais capacidadee albergar eventos como casamentose baptizados, entre outros.Antes disso já faziam serviço decatering em casamentos, mas sóno exterior.“As pessoas já sabem quetudo irá correr bem, quandotrabalham connosco”, consideraJoaquim Coito.O empresário e cozinheiro, deexcepcional simpatia e de elevadaqualidade de serviço, sempre tevemuito jeito para servir os clientescom aquilo que gostam, sem precisaremde dizerem o que querem.“Até quando preparamos asementas para os casamentos,na maior parte das vezes osnoivos nem escolhem nada. Eufaço várias sugestões e aca-bam sempre por decidir peloque eu sugiro”, exemplificou.Um dom que já vem do tempodos restaurantes na Alemanha,quando muitos empresários estrangeirosse colocavam nas suas mãospara as refeições.Pedro Antunespantunes@gazetacaldas.com
paiA família Coito e funcionários da casa numa imagem de 1987 e aspecto actual da entrada do restaurante. O recém-criado jardim fotográfico serve de cenário paraos noivos posaremSérgio Coito - entre a Alemanha e PortugalSérgio Coito nasceu em Salir deMatos e foi ter com os pais a Alemanhaquando tinha seis anos.Toda a instrução primária foi feitanaquele país e ao regressar a Portugalsentiu um grande choquecultural. “Fui Fui confrontado comuma cultura e hábitos comple-tamente diferentes, apesar depassar sempre as férias deVerão em Portugal”, contou.Era um adolescente quando ospais abriram A Lareira e desde oinício se interessou pelo restaurante.. “Participava e achava en-graçado, mas naquela alturanem sequer pensava que aque-le iria ser o meu futuro”, disse.Aos 16 anos já ajudava na PensãoCristina (um restaurante selfservice),na travessa da Cova daOnça, e aos 18 ficou a gerir um restauranteem Leiria, o Solar do Alcaide.Ambos negócios em que opai investiu, mas que foram vendidosporque Joaquim Coito decidiuapostar apenas na “Lareira” depoisdas obras de ampliação.Pouco tempo depois voltou àtambém para me auto-afir-mar”, explicou.Sérgio Coito quis provar que tinhaas capacidades necessáriaspara gerir também o negócio defamília e que era mais do que serapenas o filho do dono. Ao fim dedois meses numa unidade hoteleiraalemã já tinha funções de responsabilidadee percebeu que tinhamérito.O filho do fundador da empresaacredita que o facto de terem estadona Alemanha se reflecte naforma como trabalham, principalmenteao nível da organização.Em sua opinião, é mais fácil trabalharcom portugueses lá foraporque os emigrantes são maisesforçados. “Há Há empresas ale-mãs instaladas em Portugalque acham que é diferente aforma como os portuguesestrabalham lá fora e como o fa-zem cá”, referiu.“Se Se as pessoas emigram eregressam às suas origens, éporque só partiram porque re-almente tinham necessidade,para o ajudar, porque nessa alturaia fazer obras para abrir os salõespara eventos.Quando voltou criaram em 1995a sociedade entre pai e filho, como nome Joaquim Bernado do CoitoLda, com um capital social de 5000euros que foi entretanto aumentadopara 49.900 euros, devido à novalegislação.Sérgio Coito, que é auto-didacta,deu formação na Escola Hoteleirado Estoril durante três anos ealguns dos seus formandos dãoagora formação na congénere destaescola nas <strong>Caldas</strong> da Rainha.Recentemente investiu tambémnuma loja de fotografias no BairroAzul, Dimago Studio, que lhe dáapoio ao nível das reportagens fotográficasdos eventos no restaurante.Menos casamentosA ampliação do restaurante deveu-seà grande procura de umespaço para casamentos, porquehavia pouca oferta nesse ramocorridos”, comentou Sérgio Coito.Agora, não só servem casamentosno restaurante, como tambémtrabalham com algumas quintas daregião no serviço de catering, comoa Quinta dos Loridos e do Sanguinhal(ambas do Bombarral) e a daFerraria (Rio Maior). Actualmentesó servem dois casamentos forade portas por dia “para podermoscontinuar a garantir a nos-sa qualidade e o nosso nome”.Nas instalações do restaurantepodem fazer até quatro serviços, omesmo número de salas disponíveis.No mesmo dia podem-se juntarali até mais de 700 pessoas.Se antes conseguiam recebermais pessoas, a complexidade doscasamentos actuais faz com quetenham mais contenção no que aceitam.No entanto, Sérgio Coito lembraque o número de casamentos emPortugal reduziu-se drasticamentenos últimos anos. “As As pessoastêm mais tendência a junta-rem-se do que em casarem”,zerem-se casamentos de dois dias,como era tradição em Portugal, ecada vez há menos convidados. Hámais de 20 anos, chegaram a fazerserviços de três e quatro dias.As ementas começam a ser maispensadas tendo em conta os custos.Uma das opções é reduzir otempo que as pessoas passam norestaurante e assim ter disponibilizarmenos comida.O orçamento mínimo por pessoapara um casamento é de 40euros (mais IVA) e o máximo standardé de 72 euros (mais IVA). Paraquem não olha a custos, não hálimites no que se gasta e há váriasopções desde os melhores vinhosaos pratos mais elaborados.Aos domingos A Lareira recebetambém algumas centenas de idososque vêm em excursões de todoo país para os seus famosos almoçosregionais. Estes encontros nãoestão abertos ao público e acontecematravés de organizadores quemarcam essas excursões até às<strong>Caldas</strong>. “Isso também nos tor-na conhecidos em todo o paísnior do Inatel. Ao longo dos anos ALareira tem recebido vários prémiosa nível nacional.Actualmente estão a fazer obrasde remodelação, mas de estruturae que são pouco visíveis aos clientes.Criaram também um “jardimfotográfico”, para que os noivos econvidados possam ter um lugaraprazível para fazerem as fotografiasda cerimónia.Uma refeição no restaurantecusta à volta dos 20 euros, se nãofor acompanhada por um vinhomuito caro, e um casamento podeficar entre os 40 e os 72 euros porpessoa.Segundo Sérgio Coito, os municípiosda região não são os clientesque mais demoram a pagar,mas o mesmo não pode dizer emrelação a outras entidades e empresas,onde nota que há cada vezmais atrasos nos pagamentos.“Não há mês nenhum quenão tenhamos 150 ou 200 mileuros para receber”, referiu oempresário.P.A.Alemanha para trabalhar num res-mas, na verdade, gostam denesta zona. A maioria dessas cerimóniasrealizava-se em associa-seus serviços não tenha baixadopessoas de fora”, adiantou Sér-referiu, embora a procura pelose nos traz outros serviços detaurante sem qualquer ligação àestar cá em Portugal”, considera.CRONOLOGIAfamília. “Além da vontade devoltar a contactar com a culturaprofissional alemã e de que-rer ganhar experiência, fuiUm ano depois de ter ido para aAlemanha, já na década de 90, opai desafiou-o a voltar a Portugalções e outros espaços do género.“As pessoas queriam ter umlugar mais requintado, semmesas compridas e bancosassim tanto, porque têm mais quintasa procurarem pelos seus caterings.Começa também a ser raro fagioCoito.Em 2006 e 2007 receberam o prémiode melhor restaurante dos programasTurismo e Termalismo Sé-1974 – Joaquim Coito abre orestaurante Tamar em Osnabrück(Alemanha)1976 - Abertura do restauranteAlberman na mesma cidade1978 – Fernando Cavaco abreo restaurante A Lareira1982 – De regresso a Portugal,Joaquim Coito abre o minimercadoCopacabana nas <strong>Caldas</strong>da Rainha.1983 – Joaquim Coito arrendaA Lareira, que estava encerradahá alguns anos, por 11contos (55 euros) ao mês.1984 – Joaquim Coito comprao restaurante.1995 – Obras de ampliaçãopara as salas de cerimónias.1995 – Criação da sociedadeA equipa do restaurante, ainda antes de Beatriz Coito (na foto, de touca branca e calçasentre pai e filho “Joaquim Ber-Joaquim Coito com a filha Susana às compras na Praçapretas) se ter retirado. Sérgio (de branco e sem chapéu) é o quarto a contar da esquerdada Fruta numa foto dos anos 80e Joaquim Coito está à direita.nado do Coito Lda”.