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conhecesse, teria acabado consigo mesmo. Então o que faria com isso?<br />
Terminada a busca, você ficaria entediado consigo mesmo.<br />
Seu ser é um mistério. Quanto mais você o conhece, menos o conhece.<br />
Quanto mais fundo você entra, mais vê o infinito. A profundidade é tal que você<br />
não consegue tocar seu fundo – nunca. As pessoas que acham que conhecem a si<br />
mesmas são muito superficiais. As pessoas profundas sempre tomam<br />
<strong>conhecimento</strong> de algo desconhecido. E isto é belo porque o desconhecido está<br />
sempre vivo, o desconhecido é sempre infinito. O desconhecido é eterno.<br />
Sócrates disse: “Conhece a ti mesmo!”. Ele quis dizer: tente conhecer a si<br />
mesmo. Não que você será capaz de se conhecer. E, depois de Sócrates, um<br />
romano, Marco Aurélio, disse: “Seja você mesmo!”. Isso é melhor. Conhecer a<br />
si mesmo é impossível, mas ser você mesmo é possível. Não há necessidade de<br />
se conhecer. Apenas de ser. O <strong>conhecimento</strong> é irrelevante; ser é suficiente.<br />
Apenas SEJA você mesmo.<br />
Portanto, não tente encontrar uma definição do seu ser. Isso é impossível.<br />
Vivê-lo, você pode; conhecê-lo, você não pode. Mas por que nos incomodarmos<br />
em conhecer? Ser não é suficiente?<br />
Há um impulso, um anseio profundo, uma curiosidade para abrir e conhecer<br />
cada mistério. Mas esse anseio esvai-se quando você se move para dentro. Se<br />
você se move para fora, esse anseio pode ser preenchido – um pouco. A ciência<br />
pode satisfazer seu anseio, porque algo pode ser conhecido sobre a matéria. Mas<br />
isso também diz “apenas um pouco”. Se você for mais fundo, lá também o<br />
desconhecido passa a ser encontrado. Quanto mais fundo você vai, mais o<br />
<strong>conhecimento</strong> se torna abalado. Quanto mais fundo você vai, tudo se torna mais<br />
confuso.<br />
Um dos maiores cientistas do Ocidente, Eddington, escreveu em sua<br />
autobiografia: “Quando eu comecei, o mundo todo parecia um mecanismo.<br />
Quando comecei a trabalhar, buscar, investigar, o mundo me pareceu um grande<br />
mecanismo e eu tinha a ideia de que um dia ou outro o mecanismo seria<br />
conhecido”.<br />
Ele achava que a existência podia ser dividida em duas categorias: o<br />
conhecido e o desconhecido. Conhecido: aquilo que conhecemos; e<br />
desconhecido: aquilo que vamos conhecer um dia ou outro – é apenas uma<br />
questão de tempo.<br />
No fim da sua vida, ele disse: “Agora a vida parece estar dividida em três<br />
categorias: o conhecido, o desconhecido e o misterioso”. Esse misterioso… O<br />
conhecido e o desconhecido nós conseguimos entender. É apenas uma questão de<br />
tempo para o desconhecido poder se tornar conhecido, porque um dia o<br />
conhecido foi desconhecido. Mas o misterioso? Aquilo que não pode ser<br />
conhecido, que é impossível ser conhecido? Nessa categoria entra a religião.<br />
Então, Eddington disse: “Agora, quando olho para o mundo, ele não parece<br />
um mecanismo. Ao contrário, ele parece um pensamento. Muito misterioso”. Se<br />
ele tivesse vivido um pouco mais, certamente teria dito: “Agora ele nem sequer<br />
parece um pensamento, porque um pensamento tem uma estrutura, uma lógica.