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mysterion vem “misticismo”.<br />
O misticismo é a verdadeira alma da religião.<br />
Daí a minha insistência: desprenda-se da mente que pensa em forma de<br />
prosa; desperte outro tipo de mente que pense em forma de poesia. Coloque de<br />
lado toda a sua destreza em silogismo; deixe que as canções sejam seu modo de<br />
vida. Mova-se do intelecto para a intuição, da cabeça para o coração, porque o<br />
coração está mais próximo dos mistérios. A cabeça é o antimistério; todo o<br />
esforço da cabeça é o de desmistificar a existência.<br />
Por isso, a religião desapareceu sempre que a ciência se desenvolveu. Sempre<br />
que a mente se torna treinada em modos científicos de pensar e fazer, a religião<br />
simplesmente morre; então a flor da religião não mais floresce. No solo da<br />
mente científica há algum veneno que não permite que a semente da religião<br />
cresça – ele a mata. O que é esse veneno? A ciência acredita na desmistificação<br />
da existência. A religião diz que ela não pode ser desmistificada. Quanto mais<br />
fundo vai seu entendimento, mais místico ele se torna, mais misterioso ele se<br />
torna.<br />
E agora há a possibilidade de a ciência e a religião poderem se unir, porque os<br />
maiores cientistas também perceberam isso, de uma maneira muito indireta. Por<br />
exemplo, Eddington, Einstein e outros chegaram a uma percepção de que, quanto<br />
mais <strong>conhecimento</strong> eles têm sobre a existência, mais confusos se sentem,<br />
porque, quanto mais eles sabem, mais há a saber. Quanto mais eles sabem, mais<br />
seu <strong>conhecimento</strong> parece superficial. Einstein morreu quase um místico; aquele<br />
velho orgulho de que “chegará o dia em que conheceremos tudo” desapareceu.<br />
Ele morreu de um modo quase meditativo; não morreu como um cientista, mas<br />
mais como um poeta.<br />
Eddington escreveu que “Primeiro costumávamos acreditar que o<br />
pensamento é apenas um subproduto” – assim como Karl Marx diz que a<br />
consciência é apenas um subproduto de situações sociais – “um subproduto, um<br />
epifenômeno da matéria, uma sombra da matéria. Matéria é substância;<br />
consciência é apenas uma sombra, muito insubstancial”.<br />
Eddington diz: “Eu também estava perfeitamente convencido” – porque esse<br />
era o clima daquela época. Durante três séculos, no Ocidente, a ciência foi<br />
aumentando o clima. Eddington cresceu nesse clima, mas depois, no final de<br />
tudo, em seus últimos dias, ele disse: “Agora as coisas mudaram. Quanto mais eu<br />
me aprofundei nas investigações, mais me convenci de que o mundo não consiste<br />
em coisas, mas consiste em pensamentos – e a existência se parece menos com<br />
matéria e mais com consciência”.<br />
Esta é uma boa notícia; a ciência está se aproximando de um grande<br />
entendimento. Esse entendimento está surgindo do seu fracasso em desmistificar<br />
a existência.<br />
Mas eu não vejo um entendimento similar surgindo nas chamadas pessoas<br />
religiosas. Elas estão ficando bem para trás; estão todas falando à moda antiga e<br />
estúpida. Ainda estão obcecadas com os Vedas, o Alcorão e a Bíblia. Não que os<br />
Vedas estejam errados ou que o Alcorão ou a Bíblia estejam errados – eles estão