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existência é misteriosa. Esta bela chuva… esta música da chuva caindo… a<br />
alegria das árvores. Você não acha que há um grande mistério nisso?<br />
Havia um povoado na montanha no estado em que fui professor durante<br />
muitos anos. Nesse povoado havia um abrigo bem afastado, em meio às colinas,<br />
absolutamente solitário. Não havia ninguém a quilômetros de distância dali, e o<br />
criado que costumava cuidar do abrigo em geral saía no início da noite para<br />
voltar para sua própria casa. Eu costumava ir até aquele abrigo sempre que<br />
encontrava tempo, e às vezes chovia… e eu ficava sozinho naquela casa, a<br />
quilômetros de distância de outro ser humano. Apenas com a música da chuva,<br />
apenas com a dança das árvores… Nunca me esqueci daquela beleza. Sempre<br />
que chove eu me lembro dela. Ela deixou em mim um belo impacto.<br />
Se você observar bem, cada flor é um mistério. De onde vêm essas cores?<br />
Todo arco-íris é um mistério, cada momento da vida é um mistério. O simples<br />
fato de você estar aqui… Não é um mistério que você não esteja em nenhum<br />
outro lugar, mas sim aqui?<br />
Quando seus olhos estão claros e sua cabeça e seu coração não estão mais em<br />
conflito, tudo começa a se tornar misterioso. Então você não quer desmistificar<br />
isso – porque isso seria absolutamente feio e criminoso! O mistério da existência<br />
tem de ser bem recebido como ele é. Dissecá-lo, desmistificá-lo, é uma<br />
violação, uma agressão, uma violência.<br />
Um homem que medita simplesmente desfruta das flores, dos pássaros, das<br />
árvores, da chuva, do sol, da lua, das pessoas. É bom que todos nós estejamos<br />
imersos em um todo misterioso. A vida seria extremamente tediosa se todo<br />
mistério fosse decodificado.<br />
Todo esforço da ciência é no sentido de desmistificar a existência. A poesia e a<br />
arte estão preocupadas em exultá-la, em acolher com prazer o mistério da<br />
existência. E o místico, o homem religioso, vive o mistério – não de fora como<br />
um poeta, mas das próprias profundezas dele. Ele próprio se torna um mistério.<br />
Há uma bela história. Infelizmente, ela não pode ser verdadeira. Eu teria<br />
adorado se ela fosse verdadeira! No Oriente houve muitos amantes, amantes<br />
muito famosos – Heer e Ranjha, Shiri e Farhad –, e o mais famoso é o terceiro<br />
casal: Laila e Majnu. Nenhum deles conseguiu se encontrar e viver um com o<br />
outro. Essa foi a grande sorte; por isso eles continuaram se amando durante toda<br />
a vida.<br />
Majnu era um homem pobre. Laila era uma moça muito rica, super-rica, e<br />
seus pais não estavam dispostos a entregar sua única filha a Majnu, que não era<br />
ninguém, apenas um mendigo. Para evitá-lo, e para evitar qualquer ultraje, os<br />
pais saíram da cidade e foram morar em outra cidade; eles tinham negócios em<br />
muitas cidades e casas em muitas cidades.<br />
No dia em que se foram, Majnu ficou de pé nos arredores da cidade, ao lado<br />
de uma árvore, escondendo-se na folhagem da árvore, apenas para ver pela<br />
última vez sua amada Laila se afastando dali. Ele viu Laila em seu camelo, e<br />
toda a caravana se distanciando. Ficou olhando e olhando o mais longe que<br />
conseguiu, e em um deserto você consegue ver muito longe, pois não há nada