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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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Apenas apontando, por enquanto, o dinamismo dos países periféricos, precisamos destacar<br />

dois pontos. O primeiro é que o restabelecimento industrial europeu se dá sem um<br />

restabelecimento apreciável das trocas comerciais: a máquina econômica volta a funcionar<br />

depois de 1932, mas não envolve o comércio mundial; é antes o efeito de recuperações<br />

nacionais seguidas de bloqueios alfandegários que examinaremos mais adiante. O segundo<br />

ponto é um pouco mais delicado. O afastamento constante entre os índices de exportações e de<br />

importações, em todos os casos, é favorável aos dois primeiros grupos – pois mostra uma<br />

menor redução das importações – e muito desfavorável ao último, para o qual o índice das<br />

exportações está muito acima ao das importações. A explicação para essas distorções deve<br />

ser buscada primeiro na evolução comparada dos preços dos produtos exportados ou<br />

importados, o que chamamos de termos de troca. Podemos opor a estabilidade dos preços<br />

industriais (as exportações da Europa e da América do Norte se referem massivamente a<br />

produtos manufaturados; as exportações da periferia dizem respeito acima de tudo a matériasprimas)<br />

à queda dos preços das produções de base. Sem dúvida, as oscilações de capitais e<br />

os acordos entre os países tiveram seu papel. As relações comerciais entre colônias e<br />

metrópoles resultavam, em larga medida, de decisões administrativas e políticas.<br />

Seja como for, o que destacamos aqui é a defasagem pronunciada entre trocas externas e<br />

produção, principalmente na Europa depois de 1932, o que confirma o aumento do<br />

isolacionismo em favor dos países industrializados; no terreno internacional, não se “joga<br />

mais o jogo”. Uma das palavras-chave dos anos 1930 foi autarquia; apesar de os esforços<br />

nessa direção definitivamente não terem vingado, ei-la aqui decifrada.<br />

III. O desemprego<br />

Foi com afobação que os responsáveis políticos, administrativos ou sindicais<br />

estabeleceram e mediram o avanço do desemprego. Os números que apresentamos para alguns<br />

países industrializados são todos reavaliações. Eles se referem à porcentagem total de<br />

desempregados na população ativa (em idade de trabalhar e desejosa de fazê-lo; ver Figura<br />

7). Se antes se falava em taxas superiores a 30%, é porque estas eram referentes ou a<br />

situações locais e não nacionais (tal cidade ou tal região), ou a ramos produtivos específicos<br />

(o exemplo fundamental é o da mão-de-obra industrial). Mas essas taxas corrigidas não<br />

minimizam as dificuldades de <strong>1929</strong> a 1933.<br />

Primeiro, porque uma taxa global que ultrapasse 15% é enorme, num mundo onde a<br />

população ativa rural continua considerável e não registra desemprego – mas bastante miséria<br />

– e onde a proteção social é quase sempre inexistente. O número absoluto de desempregados<br />

nos Estados Unidos teria se aproximado de 11-12 milhões em março de 1933 para uma<br />

população total de 126 milhões.<br />

Segundo, porque as avaliações foram feitas sobre uma base incompleta: a tendência natural<br />

da época era definir o desempregado como a pessoa que perdera seu emprego (definição em<br />

retrospecto, de certa forma), o que levava a uma visão restritiva que excluía da contagem do<br />

desemprego os jovens candidatos a primeiro emprego, sem falar das mulheres. Portanto, foram<br />

excluídos da população ativa, e conseqüentemente da contagem de desempregados, os<br />

trabalhadores potenciais que enfrentavam dificuldades de emprego.

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