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Apenas apontando, por enquanto, o dinamismo dos países periféricos, precisamos destacar<br />
dois pontos. O primeiro é que o restabelecimento industrial europeu se dá sem um<br />
restabelecimento apreciável das trocas comerciais: a máquina econômica volta a funcionar<br />
depois de 1932, mas não envolve o comércio mundial; é antes o efeito de recuperações<br />
nacionais seguidas de bloqueios alfandegários que examinaremos mais adiante. O segundo<br />
ponto é um pouco mais delicado. O afastamento constante entre os índices de exportações e de<br />
importações, em todos os casos, é favorável aos dois primeiros grupos – pois mostra uma<br />
menor redução das importações – e muito desfavorável ao último, para o qual o índice das<br />
exportações está muito acima ao das importações. A explicação para essas distorções deve<br />
ser buscada primeiro na evolução comparada dos preços dos produtos exportados ou<br />
importados, o que chamamos de termos de troca. Podemos opor a estabilidade dos preços<br />
industriais (as exportações da Europa e da América do Norte se referem massivamente a<br />
produtos manufaturados; as exportações da periferia dizem respeito acima de tudo a matériasprimas)<br />
à queda dos preços das produções de base. Sem dúvida, as oscilações de capitais e<br />
os acordos entre os países tiveram seu papel. As relações comerciais entre colônias e<br />
metrópoles resultavam, em larga medida, de decisões administrativas e políticas.<br />
Seja como for, o que destacamos aqui é a defasagem pronunciada entre trocas externas e<br />
produção, principalmente na Europa depois de 1932, o que confirma o aumento do<br />
isolacionismo em favor dos países industrializados; no terreno internacional, não se “joga<br />
mais o jogo”. Uma das palavras-chave dos anos 1930 foi autarquia; apesar de os esforços<br />
nessa direção definitivamente não terem vingado, ei-la aqui decifrada.<br />
III. O desemprego<br />
Foi com afobação que os responsáveis políticos, administrativos ou sindicais<br />
estabeleceram e mediram o avanço do desemprego. Os números que apresentamos para alguns<br />
países industrializados são todos reavaliações. Eles se referem à porcentagem total de<br />
desempregados na população ativa (em idade de trabalhar e desejosa de fazê-lo; ver Figura<br />
7). Se antes se falava em taxas superiores a 30%, é porque estas eram referentes ou a<br />
situações locais e não nacionais (tal cidade ou tal região), ou a ramos produtivos específicos<br />
(o exemplo fundamental é o da mão-de-obra industrial). Mas essas taxas corrigidas não<br />
minimizam as dificuldades de <strong>1929</strong> a 1933.<br />
Primeiro, porque uma taxa global que ultrapasse 15% é enorme, num mundo onde a<br />
população ativa rural continua considerável e não registra desemprego – mas bastante miséria<br />
– e onde a proteção social é quase sempre inexistente. O número absoluto de desempregados<br />
nos Estados Unidos teria se aproximado de 11-12 milhões em março de 1933 para uma<br />
população total de 126 milhões.<br />
Segundo, porque as avaliações foram feitas sobre uma base incompleta: a tendência natural<br />
da época era definir o desempregado como a pessoa que perdera seu emprego (definição em<br />
retrospecto, de certa forma), o que levava a uma visão restritiva que excluía da contagem do<br />
desemprego os jovens candidatos a primeiro emprego, sem falar das mulheres. Portanto, foram<br />
excluídos da população ativa, e conseqüentemente da contagem de desempregados, os<br />
trabalhadores potenciais que enfrentavam dificuldades de emprego.