privados com alguns parceiros comerciais. Entre 1934 e 1945, os Estados Unidos fazem acordos com 29 nações. Por outro lado, para evitar a partir de então séries de desvalorizações desordenadas, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos assinam, em 25 de setembro de 1936, uma declaração comum afirmando sua intenção de coordenar suas políticas monetárias. Essas duas iniciativas – uma no âmbito comercial e outra no âmbito financeiro – não conseguem, é claro, mudar o curso das coisas. Em todo caso, elas tentam. Um dado bem simples demonstra o alcance da desintegração do comércio mundial induzida pela desordem do início dos anos 1930: em dezembro de 1932, o preço do trigo na Itália era duas vezes menos elevado em Milão do que em Berlim ou Paris e três vezes mais elevado do que em Londres nas paridades em vigor. O traço dominante de um mercado mundial para um produto fundamental – a tendência à unificação das cotações, levando em conta os custos de transporte – havia desaparecido na época. Essa espetacular desigualdade não era, evidentemente, o objetivo buscado pelos responsáveis das primeiras medidas protecionistas de <strong>1929</strong>-1930. As políticas seguidas durante o colapso eram em grande parte ações-reflexas – entendamos com isso não decisões cegas, mas reações difíceis de evitar, cada vez mais inevitáveis à medida que a catástrofe se tornava mais grave. Certa margem de manobra ainda existe em <strong>1929</strong>, o que permite a alguns países tentarem ações contracíclicas, que compreendem, por exemplo, déficits orçamentários (Estados Unidos, Austrália...), mas também restrições monetárias que demonstram gestões sadias dos fundos estatais. Essas ações não poderão ser cogitadas mais adiante, pelo menos enquanto a derrocada dos negócios não parece excepcional, pois o déficit aumenta sozinho com a redução das receitas fiscais, e acentuá-lo pareceria uma prova de má gestão, coisa nãoindicada quando não se quer um aumento da desconfiança. O peso do Estado na economia no fim dos anos 1920 não é tão grande que possa autorizar uma ação rápida e de maior alcance diante das reviravoltas da conjuntura. Da mesma forma, os países que sofrem com o baixo nível das cotações não podem fazer nada isoladamente para se sustentarem e preservarem sua balança de pagamentos: fariam com isso o jogo da concorrência e comprometeriam seus escoamentos, tal como experimentado, por exemplo, pelos brasileiros com o café e os americanos com o algodão. Em outras palavras, na falta de um verdadeiro concerto mundial, delicado nas diferenças de evolução e interesses, cada país quase sempre se protegeu da maneira que pôde, tomando dia a dia medidas parciais. Essa característica essencial da maior parte das políticas econômicas entre <strong>1929</strong> e 1932-1933 (e às vezes até mais tarde) – a dimensão reflexa e preservativa – se opõe à espetacular mutação gradualmente constatada: a ascensão, durante a crise, do nacionalismo, do intervencionismo estatal e de projetos que somam à luta frontal contra a crise uma vontade de regeneração social. 3. Sobre as crises econômicas, consultar GILLES, Philippe, Histoires des crises et cycles économiques. Paris: A. Colin, 2004. (N.A.) 4. Uma das doze divisões regionais do Banco Central americano. (N.E.) 5. Franz Joseph Hermann Michael Maria von Papen (1879-1969), político alemão, foi chanceler da República de Weimar em 1932 e ocupou cargos políticos durante o nazismo, sendo mais tarde absolvido no Julgamento de Nuremberg. (N.E.)
6. NSDAP: Nationalsozialistische <strong>De</strong>utsche Arbeiterpartei, o Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores, mais conhecido como Partido Nazista. (N.T.)