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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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das políticas seguidas para sair da depressão, em especial a de F.D. Roosevelt, com exceção<br />

da restauração e do reforço das redes bancárias. Assim, quando Friedman e Schwartz<br />

examinam o New <strong>De</strong>al, eles sugerem que o nível insolitamente baixo dos investimentos<br />

privados depois de 1933 se deve acima de tudo às políticas seguidas pelo novo presidente,<br />

que reduzem os lucros e regulamentam as iniciativas individuais. Chegamos portanto a um<br />

campo minado: o das explicações, monetaristas ou não, sobre o período de 1933-1939. Se<br />

uma melhora é constatada, ela pode se dever tanto à confiança recuperada e à retomada<br />

decorrente das reformas quanto à potente estabilidade das economias de mercado.<br />

Simetricamente, a continuidade das dificuldades pode ter origem tanto nos entraves<br />

intervencionistas quanto na falência liberal causadora de novas reanimações e interferências...<br />

Há um importante desacordo entre Milton Friedman e Lionel Robbins, apesar da grande<br />

concordância na base. Este último interpretava a política monetária americana de 1925 a <strong>1929</strong><br />

em termos de inflação e aprovava as restrições que se seguiram a ela. Existe entre os dois<br />

liberalismos a diferença entre um laisser-faire que admite – ou busca – flutuações nominais<br />

(Robbins) e a afirmação de uma estabilidade a ser imposta tanto a nível de preços quanto no<br />

crescimento da massa monetária (Friedman).<br />

3. O sincretismo neokeynesiano<br />

Inúmeras são as pesquisas que, longe de focalizarem exclusivamente as restrições<br />

monetárias americanas, integram-nas numa perspectiva mais ampla, cessando com isso de<br />

conceder-lhes a preeminência e dando-lhes um papel ativo de intensificação da crise. Se<br />

adotarmos o ponto de vista internacional e reexaminarmos os mecanismos concretos<br />

observados durante os acontecimentos – se nos interessarmos diretamente pela especificidade<br />

da crise –, é inevitável justapormos situações díspares e nos interrogarmos sobre suas<br />

interações. 19 Além do monismo não mais convir, as explicações, diferenciando<br />

desencadeamento e intensificação da crise, apóiam-se em disparidades em escala mundial e<br />

em constatações de desequilíbrios não-compensados. O esgotamento dos empréstimos<br />

americanos a partir de 1928 – tanto em relação à Europa devedora (Alemanha) quanto em<br />

relação aos países coloniais ou dominados, dependentes desse afluxo de capitais e sobretudo<br />

de sua constante renovação – teria sido um estopim da crise, cuja origem seria americana e<br />

cuja propagação teria sido rápida porque inúmeros países estavam em situação precária ou<br />

entravam em recessão.<br />

A hipótese consiste em distinguir diversos focos de crise, dos quais um seria o dominante:<br />

o desmoronamento interno americano, iniciado antes do crash da Bolsa e revelado por ele,<br />

seria causado por uma combinação de dificuldades de escoamento em mercados importantes<br />

(moradia, automóveis) e início de restrições monetárias diante da especulação da Bolsa.<br />

A argumentação é feita, portanto, em três níveis: reviravolta cíclica interna americana,<br />

transmissão à economia mundial e paralisia de certo número de países vulneráveis.<br />

A explicação é keynesiana quanto ao desencadeamento – por razões que ainda precisam ser<br />

elucidadas, a reviravolta da conjuntura americana foi marcada por uma redução imediata da

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