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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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31 de dezembro de 1927 para 7 bilhões em 30 de junho de <strong>1929</strong> e 8,5 bilhões em 4 de outubro<br />

de <strong>1929</strong>, o primeiro dia de queda, para voltar a cair ao nível de 4 bilhões em 31 de dezembro<br />

de <strong>1929</strong>.<br />

A amplitude da especulação não deixa dúvidas. Ela exercia uma forte pressão sobre o<br />

sistema financeiro internacional, de maneira considerável em Londres, atraindo para Nova<br />

York os capitais estrangeiros que serviam para comprar diretamente ações ou financiar as<br />

sociedades de investimento ou os call loans; podemos comparar os 8 bilhões de dólares ao<br />

total da massa monetária americana em <strong>1929</strong>, estimada em 46 bilhões de dólares, mas ela em<br />

nada constitui uma novidade no plano técnico: as compras “à margem” já haviam sido<br />

praticadas em grande escala na França, por exemplo, em Lyon, durante o boom especulativo<br />

que levara ao crash da União Geral em janeiro de 1882. As estimativas retrospectivas de<br />

1934 autorizam a especular que de 1,5 milhão de pessoas que possuíam títulos na Bolsa de<br />

Nova York, cerca de 600 mil praticavam as compras “à margem” em <strong>1929</strong>. É evidente que se<br />

trata de um número considerável, mas não permite dizer que a especulação americana foi um<br />

fenômeno de massa generalizado.<br />

A queda das cotações iniciada em 3 de outubro de <strong>1929</strong> arruinou, portanto, inúmeros<br />

especuladores e colocou em dificuldades inúmeros bancos, pois o mecanismo de call loans só<br />

funciona sob uma condição: é preciso que as cotações subam. <strong>De</strong> início, o bom andamento dos<br />

negócios permite antecipar grandes dividendos e, por isso, estimula as trocas de ações, cujos<br />

preços sobem; depois, o mercado perde de vista os dividendos à medida que a evolução das<br />

cotações permite a obtenção de ganhos através de compras e revendas. Foi esse o caso em<br />

<strong>1929</strong>, quando as tentativas das autoridades monetárias de encarecer o crédito elevando a taxa<br />

de desconto – política tradicional em caso de estimulação do crédito ou dos negócios – não<br />

puderam interromper o movimento. Houve uma alta de 6 a 9% na taxa de desconto do Federal<br />

Reserve Bank de Nova York 4 em agosto de <strong>1929</strong>. O efeito global dessa alta foi ambíguo: ela<br />

deveria restringir o crédito nos Estados Unidos, mas também reforçar a atração de capitais<br />

estrangeiros. O mercado continuou com seu dinamismo. O desmoronamento era inevitável.<br />

Como muitas vezes foi observado, a euforia característica do boom especulativo é em si<br />

reveladora de uma escalada efêmera, pois a contrapartida real das ações – usinas, máquinas,<br />

estoques de mercadorias – era negligenciada. O desvio dos fundos e da atenção fica à mercê<br />

de um sintoma catalisador e aparentemente anódino; basta que alguns grandes acionistas<br />

comecem a vender e se retirem do mercado, por qualquer pretexto que seja, para imobilizar a<br />

alta. A baixa atrai a baixa, e cada um tenta salvar sua parte com vendas que precipitam o<br />

desmoronamento e, portanto, a perda de tudo. Em <strong>1929</strong>, o pretexto da derrocada nova-iorquina<br />

foi a falência fraudulenta, em 20 de setembro, em Londres, de um empresário que vivia de<br />

expedientes, Clarence Hatry, e que constituíra um império controlando acessórios<br />

fotográficos, caça-níqueis e diversas sociedades financeiras.<br />

Um mito precisa ser desvendado: os suicídios de Wall Street. Os jornais londrinos<br />

parecem ter sido os primeiros a evocar a famosa imagem de capitalistas arruinados<br />

despencando das janelas dos prédios de Manhattan no colapso que deixava à flor da pele os<br />

nervos dos especuladores e dos corretores obrigados a trabalhar à noite para operar as<br />

transações. O economista americano J.K. Galbraith deitou por terra essa lenda, constatando

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