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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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CAPÍTULO II<br />

ENCADEAMENTOS<br />

I. A instabilidade capitalista do entre-guerras<br />

É preciso evitar o ponto de vista retrospectivo que consistiria em “escurecer” o período<br />

inteiro à sombra de uma fatalidade sinistra: sobretudo no início, muitas pessoas viam na<br />

reviravolta da conjuntura de <strong>1929</strong> um fenômeno normal e no crash da Bolsa e nas falências,<br />

um fenômeno moral.<br />

A queda de 1928-<strong>1929</strong> nada tinha de excepcional, ou melhor, respeitava a cronologia<br />

familiar das importantes crises que haviam acontecido ao longo do século XIX, mais ou menos<br />

a cada oito ou dez anos. No caso, a crise de 1920-1921, marcada por um importante recuo da<br />

produção industrial em todos os países desenvolvidos (baixa de 32% nos Estados Unidos<br />

entre março de 1920 e julho de 1921), precedera a de <strong>1929</strong>.<br />

Da mesma forma, a multiplicidade de experiências anteriores mostrava que as Bolsas de<br />

Valores podiam às vezes amplificar esperanças ou temores.<br />

Assim, durante a crise de 1921, para ficarmos nela, dois colapsos da Bolsa haviam<br />

acontecido: no Japão e nos Estados Unidos. Porém, o indicador essencial das reviravoltas<br />

conjunturais era o índice dos preços de atacado, sendo que sua baixa assinalava a iminência<br />

da desaceleração, e sua alta, as perspectivas de recuperação. O desemprego parecia a<br />

contrapartida inevitável da retração, e as intervenções estatais visavam a acompanhar essas<br />

evoluções consideradas naturais. 3<br />

Esta era, em resumo, a experiência dos países capitalistas em matéria de flutuações<br />

econômicas. Os acontecimentos que se seguiram a <strong>1929</strong> se afastaram enormemente desse<br />

esquema.<br />

1. A especulação da Bolsa<br />

O crash de Wall Street, apesar de seu caráter espetacular, não surge como uma inovação<br />

demoníaca ou um raio anunciando o dilúvio num céu azul. A maioria das Bolsas européias<br />

evoluíam em baixa desde 1928. Terá sido a especulação a orgia muitas vezes denunciada<br />

posteriormente? Alguns destacaram, para estigmatizá-la, a prática dos call loans, que permitia<br />

especular-se sobre ações pagando apenas 10%. O mecanismo é simples: o comprador cobre<br />

10% do preço da ação e toma um empréstimo de 90% com o agente de câmbio; este último<br />

obtém a quantia junto aos bancos, tomando empréstimos de dinheiro diariamente (on call em<br />

inglês, reports em francês). Suponhamos uma ação que valha 100; o comprador adianta 10 e o<br />

corretor 90, emprestados por um banco. Se as cotações subirem, digamos, até 110, é possível<br />

revender sua ação com um ganho de 10, dividido entre o corretor e seu cliente. <strong>De</strong>pois tudo<br />

recomeça...<br />

Essa técnica de compra “à margem” foi bastante utilizada em 1928-<strong>1929</strong>, e os empréstimos<br />

aos brokers, isto é, aos corretores, evoluíram de maneira rápida: de 4 bilhões de dólares em

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