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ancos locais, submetidos a uma legislação local, precisam enfrentar suas dificuldades<br />
sozinhos. E justamente surgem dificuldades. Elas são de dois tipos: por um lado, nos pequenos<br />
estabelecimentos agrícolas, os depósitos se reduzem à medida que cresce, mais ou menos,<br />
dependendo da região, a miséria camponesa; por outro lado, preponderante, o declínio da<br />
atividade e a baixa dos títulos não são compensados por uma baixa dos contratos em geral,<br />
fechados a taxas fixas. Os bancos, portanto, revisam seus contracheques, restringem seus<br />
investimentos, exigem novas garantias etc., a fim de restaurar sua liquidez comprometida pela<br />
baixa de seus bens. A reação do público se manifesta em entesouramento, levantamento<br />
acelerado de fundos, corrida em direção à liquidez. Com isso, estabelecimentos sadios se<br />
vêem comprometidos, e o círculo vicioso da perda de confiança e da bancarrota é criado.<br />
Seus efeitos se reforçam com a propagação de pressões estrangeiras.<br />
Houve um aumento gradual dos temores, que primeiro atacaram os pequenos<br />
estabelecimentos, depois os bancos filiados ao Federal Reserve System, mais importantes, e<br />
por fim o sistema como um todo. O pânico de 1933 foi, aos olhos dos observadores da Liga<br />
das Nações, “a derrocada mais dramática da confiança jamais vista em qualquer país em<br />
muitos anos”. Essa observação, sem sombra de dúvida justificada, traz à mente uma<br />
importante sutileza: nem a própria prosperidade estava livre das falências, pois 5 mil bancos<br />
haviam fechado suas portas em oito anos, de 1921 a <strong>1929</strong>, ou seja, num ritmo médio de 50 por<br />
mês. É preciso enfatizar a especificidade dos problemas americanos – a facilidade com que<br />
era possível criar um banco, mesmo minúsculo, levara a uma grande indisciplina na área. A<br />
depressão americana consistiu, acima de tudo, num estrangulamento do crédito (credit crunch)<br />
e da confiança.<br />
Tudo converge para a primavera de 1933, a estagnação no mais baixo nível de atividade e<br />
a catástrofe bancária global. Nesse furacão, as iniciativas do presidente Hoover foram muitas<br />
vezes criticadas por serem insuficientes. Seu insucesso não deixa dúvidas.<br />
No âmbito monetário, os Estados Unidos, bem como a Grã-Bretanha, além da manipulação<br />
da taxa de desconto (o preço do dinheiro a curto prazo), praticavam outra técnica de<br />
intervenção que teria grande influência: as operações de open market, que consistem em o<br />
banco central injetar dinheiro no circuito comprando títulos ou, ao contrário, “bombeando”<br />
liquidez ao vendê-los. Ao invés de agir como última instância e sobre um preço (a taxa de<br />
desconto), o open market permite agir com continuidade, a taxas variáveis, sobre uma<br />
quantidade fundamental, a “moeda central”, pois dependendo de suas facilidades de recursos<br />
os bancos podem alargar ou não suas operações de crédito e suas criações monetárias.<br />
Surgido nos anos 1920, ele fora utilizado nos Estados Unidos nos dois sentidos: restritivo<br />
quando as autoridades queriam neutralizar o efeito expansivo de uma chegada de ouro (a<br />
“esterilização” do ouro), ou, inversamente, no sentido expansivo, com certo sucesso.<br />
As intervenções públicas começam em <strong>1929</strong> com inegável ativismo: injeções monetárias<br />
pelo open market aliviam as dificuldades bancárias decorrentes do crash da Bolsa. H.<br />
Hoover anuncia reduções de impostos (de pouco alcance) a fim de manter o poder de compra.<br />
O orçamento federal é colocado em ligeiro déficit, o que tem um efeito contracíclico, e as<br />
declarações tranqüilizadoras se multiplicam. Muitos autores enfatizam a clara melhora<br />
conjuntural da primavera de 1930 nos Estados Unidos: desaceleração da baixa dos preços,