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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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ancos locais, submetidos a uma legislação local, precisam enfrentar suas dificuldades<br />

sozinhos. E justamente surgem dificuldades. Elas são de dois tipos: por um lado, nos pequenos<br />

estabelecimentos agrícolas, os depósitos se reduzem à medida que cresce, mais ou menos,<br />

dependendo da região, a miséria camponesa; por outro lado, preponderante, o declínio da<br />

atividade e a baixa dos títulos não são compensados por uma baixa dos contratos em geral,<br />

fechados a taxas fixas. Os bancos, portanto, revisam seus contracheques, restringem seus<br />

investimentos, exigem novas garantias etc., a fim de restaurar sua liquidez comprometida pela<br />

baixa de seus bens. A reação do público se manifesta em entesouramento, levantamento<br />

acelerado de fundos, corrida em direção à liquidez. Com isso, estabelecimentos sadios se<br />

vêem comprometidos, e o círculo vicioso da perda de confiança e da bancarrota é criado.<br />

Seus efeitos se reforçam com a propagação de pressões estrangeiras.<br />

Houve um aumento gradual dos temores, que primeiro atacaram os pequenos<br />

estabelecimentos, depois os bancos filiados ao Federal Reserve System, mais importantes, e<br />

por fim o sistema como um todo. O pânico de 1933 foi, aos olhos dos observadores da Liga<br />

das Nações, “a derrocada mais dramática da confiança jamais vista em qualquer país em<br />

muitos anos”. Essa observação, sem sombra de dúvida justificada, traz à mente uma<br />

importante sutileza: nem a própria prosperidade estava livre das falências, pois 5 mil bancos<br />

haviam fechado suas portas em oito anos, de 1921 a <strong>1929</strong>, ou seja, num ritmo médio de 50 por<br />

mês. É preciso enfatizar a especificidade dos problemas americanos – a facilidade com que<br />

era possível criar um banco, mesmo minúsculo, levara a uma grande indisciplina na área. A<br />

depressão americana consistiu, acima de tudo, num estrangulamento do crédito (credit crunch)<br />

e da confiança.<br />

Tudo converge para a primavera de 1933, a estagnação no mais baixo nível de atividade e<br />

a catástrofe bancária global. Nesse furacão, as iniciativas do presidente Hoover foram muitas<br />

vezes criticadas por serem insuficientes. Seu insucesso não deixa dúvidas.<br />

No âmbito monetário, os Estados Unidos, bem como a Grã-Bretanha, além da manipulação<br />

da taxa de desconto (o preço do dinheiro a curto prazo), praticavam outra técnica de<br />

intervenção que teria grande influência: as operações de open market, que consistem em o<br />

banco central injetar dinheiro no circuito comprando títulos ou, ao contrário, “bombeando”<br />

liquidez ao vendê-los. Ao invés de agir como última instância e sobre um preço (a taxa de<br />

desconto), o open market permite agir com continuidade, a taxas variáveis, sobre uma<br />

quantidade fundamental, a “moeda central”, pois dependendo de suas facilidades de recursos<br />

os bancos podem alargar ou não suas operações de crédito e suas criações monetárias.<br />

Surgido nos anos 1920, ele fora utilizado nos Estados Unidos nos dois sentidos: restritivo<br />

quando as autoridades queriam neutralizar o efeito expansivo de uma chegada de ouro (a<br />

“esterilização” do ouro), ou, inversamente, no sentido expansivo, com certo sucesso.<br />

As intervenções públicas começam em <strong>1929</strong> com inegável ativismo: injeções monetárias<br />

pelo open market aliviam as dificuldades bancárias decorrentes do crash da Bolsa. H.<br />

Hoover anuncia reduções de impostos (de pouco alcance) a fim de manter o poder de compra.<br />

O orçamento federal é colocado em ligeiro déficit, o que tem um efeito contracíclico, e as<br />

declarações tranqüilizadoras se multiplicam. Muitos autores enfatizam a clara melhora<br />

conjuntural da primavera de 1930 nos Estados Unidos: desaceleração da baixa dos preços,

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