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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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(e também japonesa) acontece sobretudo devido à presença de um Estado autoritário que se<br />

encarrega do futuro econômico. Em segundo lugar, houve nessa emergência nacional e estatal<br />

(menos marcada nas democracias ocidentais) apenas uma primeira etapa. Em conseqüência do<br />

segundo conflito mundial, o impulso prodigioso dos Estados Unidos leva-os a uma segunda<br />

etapa: um amplo rearranjo das relações internacionais, que compreende, além da primazia do<br />

dólar e do Plano Marshall (ajuda maciça à reconstrução européia), as disposições de livrecomércio<br />

do GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, de 1948).<br />

V. O nascimento do subdesenvolvimento?<br />

A crise é, acima de tudo, industrial e ocidental. Não podemos esquecer, no entanto, que<br />

dois terços do mundo em 1930, ou 1,4 bilhão de pessoas, tinham suas condições de vida<br />

ligadas direta ou indiretamente às cotações das matérias-primas e à margem de autonomia<br />

concedida por suas metrópoles. Essa massa de peso demográfico crescente diante do declínio<br />

da Europa Ocidental estava dividida, em 1930, mais ou menos em quatro blocos: 40% para a<br />

Ásia do Leste e 40% para a Ásia do Sul, por um lado; 8% para a América Latina e 12% para<br />

a África, por outro. Uma considerável disparidade caracteriza as situações dos territórios em<br />

questão, o que torna impossível uma generalização sobre o impacto da crise.<br />

A instabilidade do entre-guerras aqui também é evidente – lembremos, por exemplo, que a<br />

China vive uma guerra civil nos anos 1930 (a Longa Marcha de Mao Tsé-tung, que data de<br />

1934-1935, é um episódio marcante). Outras nações aos poucos conquistam sua independência<br />

(como a Índia), coexistindo com Estados politicamente autônomos, zonas sob protetorado,<br />

colônias isoladas ou organizadas de várias maneiras, tanto no Império Francês quanto na<br />

Commonwealth britânica que sucede em 1931 ao Império (Estatuto de Westminster).<br />

Ter uma zona de influência, isto é, de dominação, parecia uma necessidade vital para os<br />

grandes países industrializados. Prova disso são as tentativas neocoloniais da Alemanha, da<br />

Itália e do Japão. A realidade está, no entanto, longe de ser tão simples, e não fica claro,<br />

retrospectivamente, que o mundo dominado tenha representado um papel de amortecedor.<br />

É preciso começar pela crise comercial vivida de maneira intensa e duradoura pelos<br />

fornecedores de matérias-primas, que claramente precede os colapsos ocidentais. A retração<br />

assim iniciada – e que faz dos países dominados um dos desencadeadores da crise – se revela<br />

tão dura para eles quanto para as economias dominantes, à exceção da África. Em termos<br />

nominais, o nível de trocas continua em 1935 o mesmo de 1928, em 50%, enquanto é em<br />

média 35% no resto do mundo, sendo que a América Latina é a mais afetada, com um nível de<br />

31%. Igualmente dura, mas financeiramente insuportável para as nações pouco desenvolvidas.<br />

Uma exceção confirma a regra: a produção de ouro duplica durante a crise e chega a 1.232<br />

toneladas em 1939, dez vezes mais do que em 1875 e 25% mais do que em... 1974. Os países<br />

auríferos são muito estimulados, como é o caso da África do Sul, que atravessa a crise sem<br />

grandes dificuldades (embora com uma paralisia no mercado de diamantes).<br />

As sombrias perspectivas do setor exportador têm nuanças dependendo do produto e do<br />

país: acordos de autolimitação da produção são instaurados nos anos 1920 (borracha), e a<br />

derrocada dos “produtos de sobremesa” (café, cacau...) se opõe ao despertar de certas filiais<br />

de abastecimento induzido pelos esforços de rearmamento.<br />

O jogo dos mecanismos econômicos é, no entanto, retomado pelas reorientações políticas:

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