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empregados pagos por mês.<br />
A questão dos rendimentos do capital continua obscura: heterogêneos e discretos, eles são<br />
pouco conhecidos. Os rendimentos das empresas (os benefícios ou os lucros) baixaram muito<br />
(de 20 a 80%) em quase todos os países e desmoronaram nos Estados Unidos e na Alemanha,<br />
levando a prejuízos, em 1931 e 1932, pelo menos algumas sociedades industriais. As<br />
conseqüências para seus proprietários foram em grande parte amortecidas. Houve certa<br />
redução de estilos de vida mais luxuosos, sem conseqüência direta no conforto cotidiano dos<br />
interessados. Diversas estratégias fiscais e patrimoniais permitiram a certos grupos se<br />
safarem, comprando ações a baixo preço, por exemplo, ou tirando proveito do desastre<br />
imobiliário vivido pelos desempregados endividados. Por fim, e acima de tudo, é preciso<br />
aproximar essas reorientações da espetacular retração dos investimentos constatada em toda<br />
parte: os responsáveis pelas empresas podem, segundo os resultados, regularmente escolher,<br />
de um lado, a parte reservada à renovação das instalações e à sua extensão (amortecimento e<br />
autofinanciamento) e, de outro, a parte destinada aos proprietários (benefícios distribuídos). A<br />
hipótese parece plausível: é sem dúvida sacrificando os investimentos que os donos dos<br />
meios de produção limitaram a baixa dos rendimentos do capital.<br />
Enfatizamos o suficiente a crise crônica da agricultura para podermos concluir que houve<br />
grande pobreza no destino do camponês durante a crise. A baixa das cotações e as<br />
dificuldades de escoamento podem conduzir os fazendeiros arruinados ao abandono de suas<br />
terras (cf. os Estados Unidos) ou a uma espécie de retraimento com tendência à autosubsistência;<br />
raras sãos as propriedades que puderam se modernizar e reduzir seus custos.<br />
Diversidade de situações e de mecanismos: a crise teve seus vencedores e perdedores, que<br />
variaram segundo os conflitos e as opiniões políticas tanto quanto segundo o jogo dos fatores<br />
econômicos. A crise se ramifica não apenas porque a distribuição de um produto em baixa é<br />
ainda mais conflituosa do que durante uma expansão, mas também porque o espectro do<br />
desemprego conduz facilmente a um cada um por si (quantos trabalhadores aceitaram<br />
temerosos a redução imposta de seus horários e de seus salários!) e porque a queda dos<br />
preços e da atividade consolida a provisória prosperidade de uns sobre a ruína dos outros.<br />
As dificuldades econômicas enfraquecem as reivindicações sociais, e somente após a<br />
estabilização na depressão o movimento se inverte e se alimenta do descontentamento popular<br />
generalizado. O abalo social resultante da falência da economia capitalista se manifestou<br />
pouco a pouco nos grandes países industriais e não resultou em maiores desordens imediatas.<br />
Assinalemos, no entanto, a errância ferroviária dos jovens americanos, inclusive dos muito<br />
jovens, em 1931-1932, semelhantes a uma horda de vagabundos. Os primeiros foram<br />
estimados em 200 mil! Furtando de cidade em cidades, esses nômades da <strong>De</strong>pressão<br />
preocupam quando em grupos.<br />
A entrada no desemprego é um destino vivido primeiro individualmente. Ao se perder o<br />
trabalho, ainda não se sofreu o suficiente para se rebelar; por outro lado, quando se sofreu por<br />
longo tempo, se perdeu a capacidade de protestar de maneira organizada. As grandes ondas de<br />
revolta operária, as greves da Frente Popular ou, nos Estados Unidos, do CIO de John Lewis<br />
(Congress of Industrial Organization, organização sindical combativa resultante de uma cisão<br />
com a AFL, a American Federation of Labor, iniciada em 1935 e legalizada em 1936) datam<br />
dos anos 1936-1937 e se apóiam em trabalhadores empregados.