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A Crise De 1929 - Bernard Gazier

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colide frontalmente com o poder latifundiário, conhecendo um sucesso efêmero. O traço<br />

comum a todas essas experiências, muitas vezes brutais, está no crescimento urbano,<br />

duplamente estimulado pelo afluxo de massas camponesas miseráveis, desorientadas, e por um<br />

embrião de burguesia local mais ou menos nacionalista. <strong>De</strong> fato, a urbanização do que se<br />

tornará o Terceiro Mundo tem sua origem nos anos 1930: o crescimento exagerado das<br />

cidades se deve em grande parte ao amontoamento de um subproletariado em favelas<br />

(evocamos antes sua multiplicação no Ocidente; o fenômeno é semelhante no Magreb e na<br />

América Latina), população de camponeses arruinados e raros assalariados que vêem seus<br />

ganhos nominais às vezes reduzidos à metade em dois anos.<br />

Três idéias parecem se impor:<br />

– primeiro, a realidade da crise nos países e territórios periféricos é pouco discutida e<br />

desafia generalizações, tamanha a diversidade de situações e reações;<br />

– no entanto, parece possível conceber a hipótese de uma “invisibilidade” parcial das<br />

repercussões comerciais e financeiras sobre as massas rurais dos países dominados, sem<br />

desemprego, mas com uma pressão sobre as atividades rurais e aumento da teia urbana;<br />

– se, nessas manifestações essenciais, a crise é ocidental, parece ter havido focos de crises<br />

latentes específicas, durante os anos 1920, no mundo periférico, focos que a depressão<br />

ocidental revela, mas não cria. As evoluções que aqui evocamos fazem das dificuldades das<br />

nações industriais antes um acelerador do que um desencadeador. Esse também é o caso dos<br />

núcleos de industrialização, da urbanização, do nacionalismo e do recuo constatado na<br />

economia de escambo. Contudo, essa aceleração é sem dúvida portadora de rupturas, como a<br />

demografia que tende a se tornar explosiva e as novas relações financeiras que se instauram,<br />

com operadores preocupados muitas vezes em rentabilidade de curto prazo. As relações entre<br />

população e subsistência e a dependência fundada no círculo vicioso ajudas/endividamento<br />

estão prestes a se tornar os dois principais problemas do mundo dominado.<br />

Com certeza, podemos considerar como hipótese verossímil a conclusão do relatório geral<br />

de um colóquio organizado em 1976, “A África e os anos 1930”: “Tudo contribui para fazer<br />

do período 1931-1936, graças à crise mundial e à margem dela, a fase-chave da gênese, no<br />

seio do imperialismo contemporâneo, de um fenômeno específico, o subdesenvolvimento do<br />

Terceiro Mundo”. 10<br />

7. Komintern, abreviatura em russo de Internacional Comunista. Fundada em março de 1919, por iniciativa de Lenin e do<br />

Partido Comunista russo, a organização tinha como objetivo reunir os partidos comunistas de diferentes países na luta pela<br />

superação do capitalismo a partir de uma revolução feita pelo proletariado. (N.E.)<br />

8. Stakhanovismo: doutrina na União Soviética que fazia a apologia do trabalhador esforçado e dedicado como forma de<br />

aumentar a produtividade. (N.T.)<br />

9. Agência governamental com poder monopolista que fixa o preço do trigo e regula importações e exportações. (N.E.)<br />

10. Relatório geral de C. Coquery-Vidrovitch, Revue française d’histoire d’outre-mer, 1976, p. 422. (N.A.)

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