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comunicação e expressão<br />
por J. B. Oliveira*<br />
“Vendem-se esses imóveis...”<br />
Em minhas caminhadas diárias (às 06h30 da manhã...),<br />
passo por um pedaço da rua Gabriel Monteiro<br />
da Silva. E lá, no número 470 – próximo à avenida<br />
Brasil – uma faixa estendida entre duas casas diz<br />
“Vendem-se esses imóveis. Tratar com o proprietário”.<br />
Há que se destacar que o verbo está colocado no<br />
plural: vendem-se!<br />
E isso está correto. Corretíssimo, porque se refere<br />
a imóveis, e estamos diante de uma construção frásica<br />
com voz passiva sintética ou pronominal...<br />
Vamos explicar?<br />
A voz passiva sintética ou pronominal é formada<br />
por um verbo transitivo direto mais o pronome – ou<br />
partícula – se, que, nesse caso, recebe a designação<br />
de partícula apassivadora ou pronome apassivador.<br />
Essa forma é equivalente à da voz passiva analítica<br />
ou participial...<br />
Fica mais fácil mostrando do que explicando.<br />
Então vamos lá: a forma sintética “vendem-se<br />
imóveis” equivale à forma analítica “imóveis são<br />
vendidos”.<br />
Ora, a palavra imóveis – que é objeto direto na<br />
passiva sintética –, passa a ser sujeito na analítica.<br />
E aí entra a regra básica da concordância: “O verbo<br />
concorda com o sujeito a que se refere”. Portanto, se<br />
o sujeito é a forma plural imóveis, o verbo obrigatoriamente<br />
tem que estar no plural vendem-se!<br />
É comum encontrarmos por aí construções gramaticais<br />
incorretas, ao estilo de “Vende-se imóveis”;<br />
“Aluga-se salas” etc., por confusão com um dos<br />
casos de sujeito indeterminado! Isso ocorre quando<br />
não temos, na frase, a quem atribuir a ação descrita<br />
pelo verbo: ou seja, a ação foi praticada, mas não<br />
temos como determinar quem a praticou. Dá-se de<br />
duas formas: a primeira é com um verbo qualquer,<br />
na terceira pessoa do plural, sem o termo sujeito,<br />
como, por exemplo: falaram mal de você. Roubaram<br />
o dinheiro...<br />
A segunda forma é com um verbo intransitivo<br />
ou transitivo indireto na terceira pessoa do singular<br />
mais pronome se: “vive-se bem aqui”; “morre-se de<br />
fome”; “precisa-se de pedreiros”; “aspira-se a cargos<br />
políticos” etc.<br />
Entretanto, se os termos vendem-se imóveis, como<br />
foi demonstrado, estão aplicados corretamente, o mesmo<br />
não se pode dizer do vocábulo esses.<br />
Temos aí um pronome, que por definição gramatical,<br />
“São palavras que representam os nomes dos seres<br />
ou os determinam, indicando a pessoa do discurso. ”<br />
Os pronomes podem ser: Pessoais, Possessivos,<br />
Demonstrativos, Indefinidos, Interrogativos ou Relativos.<br />
O que estamos focalizando pertence ao grupo<br />
dos pronomes demonstrativos, que: “São os que indicam<br />
o lugar, a posição, ou a identidade dos seres,<br />
relativamente às pessoas do discurso”. São pronomes<br />
demonstrativos: este, esta, isto; esse, essa, isso; aquele,<br />
aquela, aquilo entre outros.<br />
Ocorre que as formas este, esta, isto referem-se a<br />
algo próximo da primeira pessoa (eu, nós). esse, essa,<br />
isso, fazem referência a algo próximo da segunda<br />
pessoa (tu, você, vós. vocês), enquanto que aquele,<br />
aquela, aquilo se relacionam a algo distante das duas<br />
ou próximo da terceira pessoa.<br />
Há quem erroneamente, escreva: “Envio meu currículo<br />
a esta empresa...”, quando deveria escrever “Envio<br />
meu currículo a essa empresa...” – isto é, à empresa à<br />
qual a mensagem é dirigida.<br />
Para esclarecer melhor: se alguém deseja estabelecer<br />
contatos comerciais entre sua firma e outra, a colocação<br />
pronominal correta é: “esta empresa (aqui, minha)<br />
deseja manter negociação com essa empresa (aí, sua).<br />
O pronome demonstrativo este (e suas flexões no<br />
feminino e no neutro) refere-se ao que esteja próximo<br />
– no espaço ou mesmo no tempo – da primeira pessoa<br />
do discurso: a pessoa que fala: eu, no singular ou nós,<br />
no plural.<br />
Em relação ao tempo, esse alude a fatos anteriores<br />
e este a posteriores. deste modo: “esses assuntos são da<br />
sessão anterior. para a de hoje, os assuntos são estes:....”<br />
Em conclusão, no caso em análise, a expressão<br />
correta seria: “vendem-se estes imóveis” e nunca<br />
“vendem-se esses imóveis”!<br />
* J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.<br />
É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras<br />
www.jboliveira.com.br – jboliveira@jbo.com.br<br />
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