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Revista Apólice #207

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comunicação e expressão<br />

por J. B. Oliveira*<br />

“Vendem-se esses imóveis...”<br />

Em minhas caminhadas diárias (às 06h30 da manhã...),<br />

passo por um pedaço da rua Gabriel Monteiro<br />

da Silva. E lá, no número 470 – próximo à avenida<br />

Brasil – uma faixa estendida entre duas casas diz<br />

“Vendem-se esses imóveis. Tratar com o proprietário”.<br />

Há que se destacar que o verbo está colocado no<br />

plural: vendem-se!<br />

E isso está correto. Corretíssimo, porque se refere<br />

a imóveis, e estamos diante de uma construção frásica<br />

com voz passiva sintética ou pronominal...<br />

Vamos explicar?<br />

A voz passiva sintética ou pronominal é formada<br />

por um verbo transitivo direto mais o pronome – ou<br />

partícula – se, que, nesse caso, recebe a designação<br />

de partícula apassivadora ou pronome apassivador.<br />

Essa forma é equivalente à da voz passiva analítica<br />

ou participial...<br />

Fica mais fácil mostrando do que explicando.<br />

Então vamos lá: a forma sintética “vendem-se<br />

imóveis” equivale à forma analítica “imóveis são<br />

vendidos”.<br />

Ora, a palavra imóveis – que é objeto direto na<br />

passiva sintética –, passa a ser sujeito na analítica.<br />

E aí entra a regra básica da concordância: “O verbo<br />

concorda com o sujeito a que se refere”. Portanto, se<br />

o sujeito é a forma plural imóveis, o verbo obrigatoriamente<br />

tem que estar no plural vendem-se!<br />

É comum encontrarmos por aí construções gramaticais<br />

incorretas, ao estilo de “Vende-se imóveis”;<br />

“Aluga-se salas” etc., por confusão com um dos<br />

casos de sujeito indeterminado! Isso ocorre quando<br />

não temos, na frase, a quem atribuir a ação descrita<br />

pelo verbo: ou seja, a ação foi praticada, mas não<br />

temos como determinar quem a praticou. Dá-se de<br />

duas formas: a primeira é com um verbo qualquer,<br />

na terceira pessoa do plural, sem o termo sujeito,<br />

como, por exemplo: falaram mal de você. Roubaram<br />

o dinheiro...<br />

A segunda forma é com um verbo intransitivo<br />

ou transitivo indireto na terceira pessoa do singular<br />

mais pronome se: “vive-se bem aqui”; “morre-se de<br />

fome”; “precisa-se de pedreiros”; “aspira-se a cargos<br />

políticos” etc.<br />

Entretanto, se os termos vendem-se imóveis, como<br />

foi demonstrado, estão aplicados corretamente, o mesmo<br />

não se pode dizer do vocábulo esses.<br />

Temos aí um pronome, que por definição gramatical,<br />

“São palavras que representam os nomes dos seres<br />

ou os determinam, indicando a pessoa do discurso. ”<br />

Os pronomes podem ser: Pessoais, Possessivos,<br />

Demonstrativos, Indefinidos, Interrogativos ou Relativos.<br />

O que estamos focalizando pertence ao grupo<br />

dos pronomes demonstrativos, que: “São os que indicam<br />

o lugar, a posição, ou a identidade dos seres,<br />

relativamente às pessoas do discurso”. São pronomes<br />

demonstrativos: este, esta, isto; esse, essa, isso; aquele,<br />

aquela, aquilo entre outros.<br />

Ocorre que as formas este, esta, isto referem-se a<br />

algo próximo da primeira pessoa (eu, nós). esse, essa,<br />

isso, fazem referência a algo próximo da segunda<br />

pessoa (tu, você, vós. vocês), enquanto que aquele,<br />

aquela, aquilo se relacionam a algo distante das duas<br />

ou próximo da terceira pessoa.<br />

Há quem erroneamente, escreva: “Envio meu currículo<br />

a esta empresa...”, quando deveria escrever “Envio<br />

meu currículo a essa empresa...” – isto é, à empresa à<br />

qual a mensagem é dirigida.<br />

Para esclarecer melhor: se alguém deseja estabelecer<br />

contatos comerciais entre sua firma e outra, a colocação<br />

pronominal correta é: “esta empresa (aqui, minha)<br />

deseja manter negociação com essa empresa (aí, sua).<br />

O pronome demonstrativo este (e suas flexões no<br />

feminino e no neutro) refere-se ao que esteja próximo<br />

– no espaço ou mesmo no tempo – da primeira pessoa<br />

do discurso: a pessoa que fala: eu, no singular ou nós,<br />

no plural.<br />

Em relação ao tempo, esse alude a fatos anteriores<br />

e este a posteriores. deste modo: “esses assuntos são da<br />

sessão anterior. para a de hoje, os assuntos são estes:....”<br />

Em conclusão, no caso em análise, a expressão<br />

correta seria: “vendem-se estes imóveis” e nunca<br />

“vendem-se esses imóveis”!<br />

* J. B. Oliveira é Consultor de Empresas, Professor Universitário, Advogado e Jornalista.<br />

É Autor do livro “Falar Bem é Bem Fácil”, e membro da Academia Cristã de Letras<br />

www.jboliveira.com.br – jboliveira@jbo.com.br<br />

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