edição de 26 de março de 2018

Pedro Pablo Kuczynski/Divulgação
Zuckerberg foi à CNN na semana passada se desculpar
usuários na rede social, o Brasil também
anunciou que vai abrir investigações sobre
o caso. Isso porque a consultoria de
marketing político Ponte Estratégia, do publicitário
André Torretta, operava desde dezembro
passado como braço da Cambridge
Analytica no Brasil. Segundo a BBC, o Ministério
Público do Distrito Federal instaurou
inquérito civil para apurar se dados de
brasileiros também foram obtidos.
Torretta explicou que a sua empresa estava
tendo problemas em tropicalizar a metodologia
de sua parceira, e que não tinha
acesso aos dados dela. Optou então por desenvolver
paralelamente o próprio método
de segmentação e gestão de canais, levando
em consideração a cultura e o comportamento
do brasileiro. Segundo o executivo,
assim que recebeu informações sobre o
vazamento, ele encerrou contrato com sua
parceira. Ainda assim, o publicitário deve
ser notificado para prestar esclarecimentos
à Justiça.
“Há questões Como
a transparênCia na
regulamentação de
CampanHas publiCitárias
que eu adoraria ver”
rios devem estar cientes dos riscos de segurança
que correm. “As informações fornecidas
nas redes sociais podem ter utilização
comercial ou para outras finalidades, uma
vez que a pessoa concorda em participar
ao se submeter positivamente aos termos
de uso. O usuário possui grande responsabilidade,
assim como a própria plataforma,
que precisa garantir a inviolabilidade dessas
informações”, ressalta.
Nenhuma das tarefas é tão simples. Do
lado do usuário, é política padrão do Facebook
para seus desenvolvedores o pedido
Segurança e tranSparência
No último dia 17, as edições dos jornais
The New York Times e The Guardian traziam
denúncias do cientista da computação
Christopher Wylie, ex-funcionário da
Cambridge Analytica. O canadense explicou
que as informações privadas dos usuários
foram obtidas em 2014 por meio de um
aplicativo no Facebook. Nele, as pessoas
respondiam algumas perguntas em troca
de receberem ao final do teste seu perfil psicológico.
O Facebook alega que o projeto tinha
fins acadêmicos e orientou a Cambridge
Analytica a se desfazer da base de dados,
algo que não foi realizado. As informações
foram cruzadas a fim de determinar perfis
eleitorais mais propensos a receber propaganda
política, beneficiando a campanha
de Trump e os favoráveis ao Brexit.
Bruno Prado, CEO da UPX Technologies
e especialista em segurança digital, explica
que apesar de, no incidente, as informações
terem sido obtidas de forma ilegal, os usuáde
autorização para o acesso aos dados dos
usuários, mas esses documentos são excessivamente
técnicos e longos, levando grande
parte das pessoas a simplesmente aceitar
os termos sem de fato ler o conteúdo.
Para Marcelo Sousa, presidente nacional da
Associação Brasileira dos Agentes Digitais
(Abradi), a decisão do consumidor é sempre
soberana e deve ser respeitada. Nesse
sentido, a entidade defende como boa prática
entre os desenvolvedores de serviços
digitais maior transparência, inclusive,
nos processos de comunicação com o usuário.
“Reconhecemos que esses processos
de autorização podem ser mais simples e
transparentes para os usuários, mas o mercado
brasileiro já caminha nesse sentido.
Ao mesmo tempo, é preciso cuidado com
certas restrições. Como efeito colateral, não
podemos deixar as plataformas de tecnonologia
como detentoras totalitárias dessas
informações, porque senão as marcas serão
reféns e terão como única alternativa ter de
anunciar nessas redes”.
A discussão é longa e passa certamente
pela regulamentação, algo admitido pelo
próprio Zuckerberg em entrevista à CNN.
“Há questões como a transparência na regulamentação
de campanhas publicitárias
que eu adoraria ver”.
jornal propmark - 26 de março de 2018 43