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dIgItal<br />
Crise gerada por captura <strong>de</strong> dados<br />
leva Facebook a lutar por reputação<br />
Erros na questão <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> e silêncio <strong>de</strong> executivo traz danos<br />
ao valor da marca, que está agora sob observação <strong>de</strong> anunciantes<br />
Felipe Turlão<br />
especial para o propMArK<br />
No último dia 17, os jornais The New<br />
York Times e The Guardian revelaram<br />
que dados <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50 milhões <strong>de</strong> pessoas<br />
capturados no Facebook foram utilizados<br />
sem que elas soubessem pela Cambridge<br />
Analytica. A maneira <strong>de</strong> obter os<br />
dados, sabe-se hoje, foi através <strong>de</strong> “testes<br />
psicológicos” que forneciam informações<br />
relevantes não apenas sobre os usuários,<br />
mas seus amigos na re<strong>de</strong> social. Tais dados,<br />
em tese, teriam sido importantes para<br />
o marketing vitorioso da eleição <strong>de</strong> Donald<br />
Trump à Presidência dos Estados Unidos e<br />
da campanha do Brexit. Daquele dia para<br />
cá, o Facebook atravessou a pior crise <strong>de</strong> reputação<br />
corporativa <strong>de</strong> sua história.<br />
De acordo com especialistas ouvidos<br />
pelo PROPMARK, diversos erros foram cometidos<br />
no processo, o que só agravou a situação<br />
da re<strong>de</strong> social <strong>de</strong> Mark Zuckerberg.<br />
“Durante uma crise pública <strong>de</strong>ssa magnitu<strong>de</strong>,<br />
as atenções são voltadas ao CEO da empresa.<br />
Se ele fica sumido, como ocorreu nos<br />
primeiros cinco dias da crise, cria-se um vácuo<br />
e todos começam a falar sobre o Facebook.<br />
A marca nunca mais consegue reassumir<br />
o controle da comunicação”, explica<br />
Ronald Mincheff, sócio-diretor da agência<br />
<strong>de</strong> comunicação Talquimy e especialista<br />
em gerenciamento <strong>de</strong> crise, que li<strong>de</strong>rou<br />
projetos como a crise após a queda do voo<br />
447 da Air France, em 2009.<br />
Outros ingredientes ajudaram a piorar a<br />
situação, como aponta Mincheff. O Facebook<br />
reconheceu que sabia dos problemas<br />
com a Cambridge Analytica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2015,<br />
quando Aleksandr Kogan, professor da Universida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Cambridge, criou o aplicativo<br />
<strong>de</strong> psicologia que conseguia informações<br />
sobre usuários e as repassava à Cambridge<br />
Analytica. Embora tenha removido o aplicativo<br />
na época, o Facebook nunca foi claro<br />
sobre a questão junto ao público. “Ser pego<br />
no contrapé em <strong>2018</strong> foi um gran<strong>de</strong> problema<br />
<strong>de</strong> reputação. Por causa disso, as pessoas<br />
<strong>de</strong>monstraram não estar confortáveis<br />
com a resposta do Facebook até o momento.<br />
Ela não foi contun<strong>de</strong>nte o suficiente”,<br />
resume o especialista.<br />
Entre os últimos dias 17 e 28, o Facebook<br />
per<strong>de</strong>u quase US$ 100 milhões em valor <strong>de</strong><br />
mercado, refletindo o nervosismo dos investidores.<br />
A empresa agora vale US$ 440<br />
bilhões e é a quinta mais valiosa do mundo,<br />
atrás <strong>de</strong> Apple, Alphabet (dona do Google),<br />
Fotos Divulgação<br />
Mark Zuckerberg, que <strong>de</strong>morou a regir <strong>de</strong>pois da crise<br />
Amazon e Microsoft. Muito <strong>de</strong>sse movimento,<br />
evi<strong>de</strong>ntemente, po<strong>de</strong> estar atrelado<br />
à especulação financeira. Então, o perigo<br />
resi<strong>de</strong> em como o Facebook vai continuar<br />
ganhando dinheiro real <strong>de</strong> quem paga a<br />
conta.<br />
InvestImento em queda?<br />
A gran<strong>de</strong> pergunta que se faz no momento<br />
é o que os anunciantes farão. Evitar o<br />
cenário <strong>de</strong> fuga das marcas é o objetivo da<br />
re<strong>de</strong> social. Recomendações <strong>de</strong> analistas<br />
como Colin Sebastian, da Robert W. Baird<br />
& Co, dão conta que existe o potencial <strong>de</strong><br />
gran<strong>de</strong>s marcas e empresas <strong>de</strong> médio porte<br />
congelarem os investimentos na plataforma<br />
<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Facebook até que<br />
as más notícias cessem. Entretanto, ele<br />
avaliou, poucas plataformas têm o mesmo<br />
alcance para as marcas. E a empresa teria<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer crescer seu negócio <strong>de</strong><br />
publicida<strong>de</strong> no Instagram.<br />
A tendência é que só haja fuga <strong>de</strong> anunciantes<br />
e <strong>de</strong> dinheiro se a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
usuários <strong>de</strong>cair muito ou se regulamentações<br />
ou pressões governamentais limitarem<br />
o uso <strong>de</strong> dados do Facebook. No último<br />
dia 28, segundo o Advertising Age, a empresa<br />
anunciou que iria remover a opção <strong>de</strong> ad<br />
targeting baseada em dados <strong>de</strong> comportamento<br />
<strong>de</strong> consumo oriundos <strong>de</strong> empresas<br />
como Acxiom, Experian e Epsilon, entre<br />
outras. São informações sobre o que e on<strong>de</strong><br />
as pessoas compram, além do tipo <strong>de</strong> carro<br />
que dirigem, que são muito ricas para as<br />
“Durante uma crise<br />
pública Dessa magnituDe,<br />
as atenções são voltaDas<br />
ao ceo Da empresa. se ele<br />
fica sumiDo, cria-se<br />
um vácuo”<br />
marcas. Tudo para proteger a privacida<strong>de</strong><br />
das pessoas.<br />
Em paralelo a isso, o dano à marca Facebook<br />
e sua reputação já são um fato. Segundo<br />
Daniella Bianchi, diretora-geral da Interbrand<br />
em São Paulo, uma marca forte se<br />
constrói a partir <strong>de</strong> diversas dimensões, que<br />
vão dos resultados financeiros a uma agenda<br />
clara, consistente e relevante. Foi isso<br />
que levou o Facebook a um “crescimento<br />
absurdo” no ranking “Best Global Brands”<br />
da Interbrand <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2012, quando apareceu<br />
pela primeira vez, até 2017, quando atingiu<br />
a oitava colocação e obteve o maior crescimento<br />
do mundo, com valorização <strong>de</strong> 48%<br />
e sua marca chegando ao valor <strong>de</strong> US$ 48<br />
bilhões - a Apple li<strong>de</strong>ra o ranking, com US$<br />
184 bilhões. “Nosso próximo ranking sai em<br />
outubro. Precisamos ver como o Facebook<br />
vai respon<strong>de</strong>r à crise, mas a <strong>de</strong>mora <strong>de</strong> cinco<br />
dias para falar foi prejudicial e po<strong>de</strong> trazer<br />
dano à marca. A pressão dos anunciantes<br />
está crescendo e não apenas sobre esse<br />
tema, mas em questões como fake news e<br />
algoritmos”, reflete a executiva. “Estamos<br />
falando <strong>de</strong> uma marca que é uma re<strong>de</strong> social,<br />
então, mais ainda, o consumidor quer<br />
fazer parte <strong>de</strong>sse diálogo. Além da questão<br />
da transparência, eles esperam uma posição<br />
das marcas, e que ela seja colocada <strong>de</strong><br />
forma muito clara”, explica Daniella.<br />
O longo silêncio <strong>de</strong> cinco dias sobre o<br />
escândalo foi quebrado por um post <strong>de</strong> Zuckerberg<br />
em sua página <strong>de</strong> Facebook, em<br />
que ele recapitulou os fatos envolvendo a<br />
Cambridge Analytica, mas que a confiança<br />
com os usuários se quebrou. “Temos a responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> proteger seus dados, e se<br />
não conseguimos, então não merecemos<br />
vocês”, foi a mensagem principal. As medidas<br />
anunciadas no comunicado, como a<br />
investigação <strong>de</strong> apps que tenham tido acesso<br />
a gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> dados, restrito <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>senvolvedores a dados pessoais e a ferramenta<br />
que permite às pessoas visualizarem<br />
os apps que utilizaram, não empolgaram. A<br />
mensagem-chave foi repetida em entrevistas<br />
a veículos como CNN.<br />
36 2 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark