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edição de 2 de abril de 2018

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dIgItal<br />

Crise gerada por captura <strong>de</strong> dados<br />

leva Facebook a lutar por reputação<br />

Erros na questão <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> e silêncio <strong>de</strong> executivo traz danos<br />

ao valor da marca, que está agora sob observação <strong>de</strong> anunciantes<br />

Felipe Turlão<br />

especial para o propMArK<br />

No último dia 17, os jornais The New<br />

York Times e The Guardian revelaram<br />

que dados <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 50 milhões <strong>de</strong> pessoas<br />

capturados no Facebook foram utilizados<br />

sem que elas soubessem pela Cambridge<br />

Analytica. A maneira <strong>de</strong> obter os<br />

dados, sabe-se hoje, foi através <strong>de</strong> “testes<br />

psicológicos” que forneciam informações<br />

relevantes não apenas sobre os usuários,<br />

mas seus amigos na re<strong>de</strong> social. Tais dados,<br />

em tese, teriam sido importantes para<br />

o marketing vitorioso da eleição <strong>de</strong> Donald<br />

Trump à Presidência dos Estados Unidos e<br />

da campanha do Brexit. Daquele dia para<br />

cá, o Facebook atravessou a pior crise <strong>de</strong> reputação<br />

corporativa <strong>de</strong> sua história.<br />

De acordo com especialistas ouvidos<br />

pelo PROPMARK, diversos erros foram cometidos<br />

no processo, o que só agravou a situação<br />

da re<strong>de</strong> social <strong>de</strong> Mark Zuckerberg.<br />

“Durante uma crise pública <strong>de</strong>ssa magnitu<strong>de</strong>,<br />

as atenções são voltadas ao CEO da empresa.<br />

Se ele fica sumido, como ocorreu nos<br />

primeiros cinco dias da crise, cria-se um vácuo<br />

e todos começam a falar sobre o Facebook.<br />

A marca nunca mais consegue reassumir<br />

o controle da comunicação”, explica<br />

Ronald Mincheff, sócio-diretor da agência<br />

<strong>de</strong> comunicação Talquimy e especialista<br />

em gerenciamento <strong>de</strong> crise, que li<strong>de</strong>rou<br />

projetos como a crise após a queda do voo<br />

447 da Air France, em 2009.<br />

Outros ingredientes ajudaram a piorar a<br />

situação, como aponta Mincheff. O Facebook<br />

reconheceu que sabia dos problemas<br />

com a Cambridge Analytica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2015,<br />

quando Aleksandr Kogan, professor da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Cambridge, criou o aplicativo<br />

<strong>de</strong> psicologia que conseguia informações<br />

sobre usuários e as repassava à Cambridge<br />

Analytica. Embora tenha removido o aplicativo<br />

na época, o Facebook nunca foi claro<br />

sobre a questão junto ao público. “Ser pego<br />

no contrapé em <strong>2018</strong> foi um gran<strong>de</strong> problema<br />

<strong>de</strong> reputação. Por causa disso, as pessoas<br />

<strong>de</strong>monstraram não estar confortáveis<br />

com a resposta do Facebook até o momento.<br />

Ela não foi contun<strong>de</strong>nte o suficiente”,<br />

resume o especialista.<br />

Entre os últimos dias 17 e 28, o Facebook<br />

per<strong>de</strong>u quase US$ 100 milhões em valor <strong>de</strong><br />

mercado, refletindo o nervosismo dos investidores.<br />

A empresa agora vale US$ 440<br />

bilhões e é a quinta mais valiosa do mundo,<br />

atrás <strong>de</strong> Apple, Alphabet (dona do Google),<br />

Fotos Divulgação<br />

Mark Zuckerberg, que <strong>de</strong>morou a regir <strong>de</strong>pois da crise<br />

Amazon e Microsoft. Muito <strong>de</strong>sse movimento,<br />

evi<strong>de</strong>ntemente, po<strong>de</strong> estar atrelado<br />

à especulação financeira. Então, o perigo<br />

resi<strong>de</strong> em como o Facebook vai continuar<br />

ganhando dinheiro real <strong>de</strong> quem paga a<br />

conta.<br />

InvestImento em queda?<br />

A gran<strong>de</strong> pergunta que se faz no momento<br />

é o que os anunciantes farão. Evitar o<br />

cenário <strong>de</strong> fuga das marcas é o objetivo da<br />

re<strong>de</strong> social. Recomendações <strong>de</strong> analistas<br />

como Colin Sebastian, da Robert W. Baird<br />

& Co, dão conta que existe o potencial <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong>s marcas e empresas <strong>de</strong> médio porte<br />

congelarem os investimentos na plataforma<br />

<strong>de</strong> publicida<strong>de</strong> do Facebook até que<br />

as más notícias cessem. Entretanto, ele<br />

avaliou, poucas plataformas têm o mesmo<br />

alcance para as marcas. E a empresa teria<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer crescer seu negócio <strong>de</strong><br />

publicida<strong>de</strong> no Instagram.<br />

A tendência é que só haja fuga <strong>de</strong> anunciantes<br />

e <strong>de</strong> dinheiro se a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

usuários <strong>de</strong>cair muito ou se regulamentações<br />

ou pressões governamentais limitarem<br />

o uso <strong>de</strong> dados do Facebook. No último<br />

dia 28, segundo o Advertising Age, a empresa<br />

anunciou que iria remover a opção <strong>de</strong> ad<br />

targeting baseada em dados <strong>de</strong> comportamento<br />

<strong>de</strong> consumo oriundos <strong>de</strong> empresas<br />

como Acxiom, Experian e Epsilon, entre<br />

outras. São informações sobre o que e on<strong>de</strong><br />

as pessoas compram, além do tipo <strong>de</strong> carro<br />

que dirigem, que são muito ricas para as<br />

“Durante uma crise<br />

pública Dessa magnituDe,<br />

as atenções são voltaDas<br />

ao ceo Da empresa. se ele<br />

fica sumiDo, cria-se<br />

um vácuo”<br />

marcas. Tudo para proteger a privacida<strong>de</strong><br />

das pessoas.<br />

Em paralelo a isso, o dano à marca Facebook<br />

e sua reputação já são um fato. Segundo<br />

Daniella Bianchi, diretora-geral da Interbrand<br />

em São Paulo, uma marca forte se<br />

constrói a partir <strong>de</strong> diversas dimensões, que<br />

vão dos resultados financeiros a uma agenda<br />

clara, consistente e relevante. Foi isso<br />

que levou o Facebook a um “crescimento<br />

absurdo” no ranking “Best Global Brands”<br />

da Interbrand <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2012, quando apareceu<br />

pela primeira vez, até 2017, quando atingiu<br />

a oitava colocação e obteve o maior crescimento<br />

do mundo, com valorização <strong>de</strong> 48%<br />

e sua marca chegando ao valor <strong>de</strong> US$ 48<br />

bilhões - a Apple li<strong>de</strong>ra o ranking, com US$<br />

184 bilhões. “Nosso próximo ranking sai em<br />

outubro. Precisamos ver como o Facebook<br />

vai respon<strong>de</strong>r à crise, mas a <strong>de</strong>mora <strong>de</strong> cinco<br />

dias para falar foi prejudicial e po<strong>de</strong> trazer<br />

dano à marca. A pressão dos anunciantes<br />

está crescendo e não apenas sobre esse<br />

tema, mas em questões como fake news e<br />

algoritmos”, reflete a executiva. “Estamos<br />

falando <strong>de</strong> uma marca que é uma re<strong>de</strong> social,<br />

então, mais ainda, o consumidor quer<br />

fazer parte <strong>de</strong>sse diálogo. Além da questão<br />

da transparência, eles esperam uma posição<br />

das marcas, e que ela seja colocada <strong>de</strong><br />

forma muito clara”, explica Daniella.<br />

O longo silêncio <strong>de</strong> cinco dias sobre o<br />

escândalo foi quebrado por um post <strong>de</strong> Zuckerberg<br />

em sua página <strong>de</strong> Facebook, em<br />

que ele recapitulou os fatos envolvendo a<br />

Cambridge Analytica, mas que a confiança<br />

com os usuários se quebrou. “Temos a responsabilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> proteger seus dados, e se<br />

não conseguimos, então não merecemos<br />

vocês”, foi a mensagem principal. As medidas<br />

anunciadas no comunicado, como a<br />

investigação <strong>de</strong> apps que tenham tido acesso<br />

a gran<strong>de</strong>s volumes <strong>de</strong> dados, restrito <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvedores a dados pessoais e a ferramenta<br />

que permite às pessoas visualizarem<br />

os apps que utilizaram, não empolgaram. A<br />

mensagem-chave foi repetida em entrevistas<br />

a veículos como CNN.<br />

36 2 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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