30.03.2018 Views

edição de 2 de abril de 2018

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

última página<br />

EHStock/iStock<br />

Cada um no<br />

seu quadrado<br />

Claudia Penteado<br />

saída <strong>de</strong> alguns gran<strong>de</strong>s jornais <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s<br />

sociais como o Facebook talvez se-<br />

A<br />

ja, afinal <strong>de</strong> contas, um ajuste necessário<br />

neste gran<strong>de</strong> vale-tudo em que se transformou<br />

a internet. E po<strong>de</strong> não ser <strong>de</strong> todo<br />

ruim. Um dos equívocos que passaram o<br />

ocorrer no mundo das notícias é que as pessoas<br />

se habituaram a transformar as re<strong>de</strong>s<br />

sociais em fonte quase que única e exclusiva<br />

<strong>de</strong> informações - no lugar <strong>de</strong> enxergá-las<br />

essencialmente como espaço para cultivar<br />

relações com amigos.<br />

Um estudo do MIT, o Massachusetts<br />

Institute of Tecnology, que analisou 126<br />

mil boatos e notícias falsas espalhadas no<br />

Twitter ao longo <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> 11 anos,<br />

<strong>de</strong>scobriu que a fake news foi<br />

e continua sendo (muito) mais<br />

compartilhada por pessoas do<br />

que notícias reais, sugerindo que<br />

a curiosida<strong>de</strong>, a criativida<strong>de</strong> e a<br />

originalida<strong>de</strong> das notícias falsas<br />

costumam atrair mais do que<br />

a vida real. Notícias falsas têm<br />

uma propensão 70% maior <strong>de</strong><br />

serem retuitadas do que notícias<br />

verda<strong>de</strong>iras.<br />

Nas re<strong>de</strong>s sociais há <strong>de</strong> tudo<br />

um pouco - até informações confiáveis - e<br />

a enxurrada <strong>de</strong> fake news e outros absurdos<br />

só ganhou esta dimensão porque em algum<br />

ponto <strong>de</strong>ssa história nos recostamos na ca<strong>de</strong>ira<br />

da passivida<strong>de</strong> e passamos a esperar<br />

que o mundo <strong>de</strong>rramasse sobre nós informações<br />

interessantes, a cada segundo, on<strong>de</strong><br />

estivermos. Quando foi que nos tornamos<br />

essas criaturas preguiçosas, incapazes <strong>de</strong><br />

procurar as fontes mais bacanas para as informações<br />

que nos interessam, nos lugares<br />

a<strong>de</strong>quados, <strong>de</strong>ixando as re<strong>de</strong>s sociais para<br />

os besteiróis, os contatos pessoais, as fotos<br />

e ví<strong>de</strong>os <strong>de</strong> bichinhos, as opiniões pessoais<br />

e as discussões mais subjetivas?<br />

Demos peso <strong>de</strong>mais a plataformas <strong>de</strong><br />

conteúdo que nunca mereceram todo esse<br />

crédito, pois nunca provaram merecer 100%<br />

“Demos peso<br />

Demais a<br />

plataformas<br />

De conteúDo<br />

que nunca<br />

mereceram<br />

toDo esse<br />

créDito”<br />

da nossa confiança, não é mesmo? O próprio<br />

Mark Zuckerberg anunciou, no início<br />

<strong>de</strong>ste ano, sua <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> priorizar conteúdos<br />

publicados por familiares e amigos dos<br />

usuários, no lugar dos <strong>de</strong> marcas, empresas,<br />

meios <strong>de</strong> comunicação. Ele não está errado:<br />

esta sempre foi, afinal <strong>de</strong> contas, a essência<br />

da re<strong>de</strong> social.<br />

Até bem pouco tempo, sempre buscávamos<br />

as informações que nos interessavam<br />

in loco: em jornais e revistas impressos, em<br />

uma <strong>de</strong>terminada rádio, na programação <strong>de</strong><br />

um canal <strong>de</strong> TV, nos sites jornalísticos favoritos,<br />

nos blogs <strong>de</strong> colunistas <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado<br />

assunto. Proponho, em meio a tantos<br />

escândalos e polêmicas, que voltemos<br />

ao básico, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> terceirizar nossas<br />

escolhas e buscando a informação <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> ela realmente está.<br />

E checando sua veracida<strong>de</strong>. Sem<br />

preguiça!<br />

Outro dia, lendo o artigo <strong>de</strong><br />

Farhad Manjoo, do NYT, sobre<br />

sua experiência <strong>de</strong> <strong>de</strong>splugar<br />

completamente das muitas fontes<br />

<strong>de</strong> notícias que costumava<br />

acompanhar no mundo digital<br />

para concentrar sua atenção<br />

nas versões impressas <strong>de</strong> seus<br />

jornais favoritos, foi interessante<br />

acompanhar alguns fenômenos que se passaram<br />

com ele. Em primeiro lugar, a troca<br />

do “apocalipse da informação” por fontes<br />

analógicas lhe permitiu ler mais livros, e ser<br />

um pai e marido mais presente. Ele também<br />

afirma ter aprendido muito sobre as armadilhas<br />

das notícias online, e como evitá-las.<br />

Uma <strong>de</strong>las é, sem dúvida, se fiar nos comentários<br />

sobre as notícias, muitas vezes mais<br />

do que nas notícias em si - quem nunca cometeu<br />

este erro que atire a primeira pedra.<br />

É claro que ninguém precisa ler somente<br />

a versão impressa dos jornais para se manter<br />

informado, mas o meu ponto é: priorizar<br />

Facebook, Twitter e outras re<strong>de</strong>s como fontes<br />

<strong>de</strong> informação foi o grave erro que cometemos,<br />

valorizando velocida<strong>de</strong> no lugar<br />

da qualida<strong>de</strong>. É tempo <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar!<br />

50 2 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!