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entrevista<br />
Mariana Carvalho<br />
Sócia e membro do Conselho do Grupo Ancar Ivanhoe<br />
os shoppings<br />
preCisarão<br />
proporCionar<br />
Muito Mais do<br />
que CoMpras<br />
Mariana Carvalho, sócia do Grupo<br />
Ancar Ivanhoe – uma das principais<br />
empreen<strong>de</strong>doras e administradoras <strong>de</strong><br />
shopping centers do Brasil –, respon<strong>de</strong><br />
hoje pela área <strong>de</strong> inovação da companhia e se mantém<br />
atenta às transformações do varejo. Nesta entrevista,<br />
a executiva aponta algumas tendências, em especial<br />
dos shopping centers. Mariana <strong>de</strong>staca o interesse dos<br />
consumidores por experiências. “O pensamento <strong>de</strong> que<br />
o shopping só <strong>de</strong>ve ocupar seus espaços com lojas é<br />
coisa do passado”, diz. Ela também cita dados do setor,<br />
como os <strong>de</strong> que os brasileiros foram ao shopping sete<br />
vezes no mês, ou seja, mais <strong>de</strong> uma vez por semana.<br />
Claudia Penteado<br />
Afinal <strong>de</strong> contas, em que medida o<br />
futuro do varejo, dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> transações<br />
e o foco na experiência do consumidor<br />
vão <strong>de</strong>terminar o futuro do<br />
mo<strong>de</strong>lo dos shopping centers? Como<br />
essas estruturas se transformarão?<br />
Quando falamos <strong>de</strong> significativas<br />
mudanças no varejo, é impossível<br />
não pensar que os shopping<br />
centers também terão <strong>de</strong><br />
se adaptar para acompanhar uma<br />
evolução nos <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong>s<br />
dos consumidores transformados<br />
principalmente pelo advento<br />
da internet, pelo crescente<br />
uso da tecnologia e pelo interesse<br />
por viverem experiências e serem<br />
tratados <strong>de</strong> forma personalizada.<br />
Ambos fazem parte do mesmo<br />
ecossistema e precisam conquistar<br />
a atenção e a lembrança do<br />
consumidor, que só vai ao ponto<br />
<strong>de</strong> venda físico hoje se sentir<br />
atraído para isso. Para se reinventarem,<br />
os shopping centers precisarão<br />
proporcionar muito mais do<br />
que apenas compras. A solução<br />
encontrada por muitos é adotar<br />
o conceito multiuso, oferecendo<br />
também espaços para escritórios,<br />
clínicas médicas e serviços diversos,<br />
e entretenimento, que promovam<br />
boas experiências. Além<br />
das alternativas que o shopping<br />
oferece, que precisam sempre focar<br />
nas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos dos<br />
consumidores, é preciso oferecer<br />
um ambiente bem cuidado, on<strong>de</strong><br />
arquitetura, iluminação natural,<br />
mobiliário e aspectos sensoriais<br />
têm papel muito importante na<br />
experiência. A criativida<strong>de</strong> no uso<br />
dos espaços disponíveis também<br />
conta e o pensamento <strong>de</strong> que o<br />
shopping só <strong>de</strong>ve ocupar espaços<br />
com lojas é coisa do passado. Os<br />
ambientes <strong>de</strong> co-working surgindo<br />
nos shoppings são um exemplo<br />
disso. A diversida<strong>de</strong> na forma<br />
<strong>de</strong> atrair o público faz a diferença,<br />
partindo do princípio que a qualida<strong>de</strong><br />
do mix é primordial sempre.<br />
Que exemplos já existem, <strong>de</strong> malls se<br />
transformando ao redor do mundo?<br />
Nos Estados Unidos, por exemplo,<br />
já há um movimento <strong>de</strong> ocupação<br />
dos espaços disponíveis<br />
<strong>de</strong> forma diferenciada. Acompanhando<br />
as mudanças, possivelmente<br />
haverá uma necessida<strong>de</strong><br />
menor <strong>de</strong> estacionamentos com<br />
todas as transformações que a<br />
mobilida<strong>de</strong> urbana sofrerá. Já precisamos<br />
pensar nisso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> agora.<br />
Em Berlim, um hotel modular<br />
substitui um estacionamento<br />
coberto no topo <strong>de</strong> um shopping<br />
center, encontrando um novo uso<br />
para a área. No Brasil, po<strong>de</strong>mos<br />
exemplificar com as festas juninas<br />
que realizamos no shopping<br />
e são tão tradicionais, sobretudo<br />
no Nor<strong>de</strong>ste. São festas que atraem<br />
um significativo público e antes<br />
eram realizadas na rua. Outro<br />
exemplo é o Carnaval na Rua do<br />
Rio, no Shopping Nova América,<br />
e a feirinha orgânica semanal<br />
com produtos frescos, no Iguatemi<br />
Porto Alegre, ou ainda o evento<br />
para cachorros, no Botafogo<br />
Praia Shopping. Vão <strong>de</strong> ações <strong>de</strong><br />
pequeno a gran<strong>de</strong> porte, o que<br />
vale é estar constantemente promovendo<br />
razões para o consumidor<br />
querer ir ao shopping. Outro<br />
conceito importante é o “Edutainment”,<br />
em que o shopping atua<br />
como educador através do entretenimento,<br />
como, por exemplo,<br />
o evento recente que realizamos<br />
no Rio Design Barra em parceria<br />
com a NASA, promovendo conteúdo<br />
relacionado às explorações<br />
espaciais. É uma satisfação enorme<br />
po<strong>de</strong>r usar os shoppings com<br />
bom conteúdo. Aqui o conceito do<br />
multiuso já virou uma realida<strong>de</strong> e<br />
faz parte <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 32% dos shoppings<br />
brasileiros.<br />
Como o consumidor brasileiro po<strong>de</strong><br />
ser comparado ao <strong>de</strong> outros mercados<br />
e que peculiarida<strong>de</strong>s você apontaria<br />
que dificultam ou facilitam a vida<br />
dos varejistas?<br />
A agitação e o caos das cida<strong>de</strong>s<br />
brasileiras, somados a altos índices<br />
<strong>de</strong> violência, fazem com que os<br />
shopping centers sejam os locais<br />
perfeitos para as famílias frequentarem,<br />
pois oferecem segurança e<br />
conforto <strong>de</strong>sejados. O número <strong>de</strong><br />
shoppings vem aumentando no<br />
Brasil, principalmente nas cida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> interior, e existe shopping<br />
para todo o tipo <strong>de</strong> perfil. O fluxo<br />
<strong>de</strong> consumidores é, sem dúvida,<br />
maior aqui do que em shoppings<br />
nos Estados Unidos, por exemplo.<br />
Não apenas por conta da concorrência<br />
menos acirrada, mas porque<br />
há uma forte cultura <strong>de</strong> frequentar<br />
shopping. De acordo com<br />
uma pesquisa da Associação Brasileira<br />
<strong>de</strong> Shopping Centers, em<br />
2016, os consumidores brasileiros<br />
foram ao shopping sete vezes no<br />
mês, ou seja, mais <strong>de</strong> uma vez por<br />
semana. Ainda segundo o levantamento,<br />
os brasileiros estão entre<br />
os consumidores mais engajados<br />
nas re<strong>de</strong>s sociais, participando <strong>de</strong><br />
promoções, montam comunida<strong>de</strong>s<br />
e po<strong>de</strong>m recomendar ou reclamar<br />
dos produtos. Fica claro que<br />
os clientes estão mais conscientes<br />
<strong>de</strong> seus direitos como consumidores<br />
e buscam fundamentalmente<br />
por produtos personalizados,<br />
atendimento <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e um<br />
verda<strong>de</strong>iro engajamento com as<br />
marcas. Antes era só abrir as portas<br />
das lojas e colocar o produto<br />
para ven<strong>de</strong>r. Hoje, o consumidor<br />
está se tornando multicanal e po<strong>de</strong><br />
- e <strong>de</strong>ve - escolher a maneira como<br />
quer consumir o produto, além <strong>de</strong><br />
vivenciar uma bela experiência<br />
nessa jornada. Se antes era tudo<br />
ao redor do produto, hoje precisa<br />
ser ao redor do consumidor.<br />
O que você viu <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na última<br />
feira da National Retail Fe<strong>de</strong>ration,<br />
em Nova York?<br />
Os shoppings vão se transformando<br />
e evoluindo para acompanhar<br />
as preferências <strong>de</strong> um<br />
consumidor em mutação. Uma<br />
das palavras mais faladas hoje é<br />
a conexão. A formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s,<br />
<strong>de</strong> conexão entre pessoas e marcas,<br />
entre pessoas e negócios e<br />
até entre pessoas e pessoas. Na<br />
Ancar Ivanhoe, abraçamos o conceito<br />
<strong>de</strong> ser uma plataforma. Uma<br />
plataforma que conecta tudo e,<br />
através <strong>de</strong> um equilíbrio entre varejo,<br />
serviços e entretenimento,<br />
fortalece nossos produtos, gerando<br />
experiências diferenciadas e<br />
encantadoras para nossos clientes.<br />
Pensar na longevida<strong>de</strong> da<br />
indústria passa por proporcionar<br />
22 2 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark