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edição de 2 de abril de 2018

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entrevista<br />

Mariana Carvalho<br />

Sócia e membro do Conselho do Grupo Ancar Ivanhoe<br />

os shoppings<br />

preCisarão<br />

proporCionar<br />

Muito Mais do<br />

que CoMpras<br />

Mariana Carvalho, sócia do Grupo<br />

Ancar Ivanhoe – uma das principais<br />

empreen<strong>de</strong>doras e administradoras <strong>de</strong><br />

shopping centers do Brasil –, respon<strong>de</strong><br />

hoje pela área <strong>de</strong> inovação da companhia e se mantém<br />

atenta às transformações do varejo. Nesta entrevista,<br />

a executiva aponta algumas tendências, em especial<br />

dos shopping centers. Mariana <strong>de</strong>staca o interesse dos<br />

consumidores por experiências. “O pensamento <strong>de</strong> que<br />

o shopping só <strong>de</strong>ve ocupar seus espaços com lojas é<br />

coisa do passado”, diz. Ela também cita dados do setor,<br />

como os <strong>de</strong> que os brasileiros foram ao shopping sete<br />

vezes no mês, ou seja, mais <strong>de</strong> uma vez por semana.<br />

Claudia Penteado<br />

Afinal <strong>de</strong> contas, em que medida o<br />

futuro do varejo, dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> transações<br />

e o foco na experiência do consumidor<br />

vão <strong>de</strong>terminar o futuro do<br />

mo<strong>de</strong>lo dos shopping centers? Como<br />

essas estruturas se transformarão?<br />

Quando falamos <strong>de</strong> significativas<br />

mudanças no varejo, é impossível<br />

não pensar que os shopping<br />

centers também terão <strong>de</strong><br />

se adaptar para acompanhar uma<br />

evolução nos <strong>de</strong>sejos e necessida<strong>de</strong>s<br />

dos consumidores transformados<br />

principalmente pelo advento<br />

da internet, pelo crescente<br />

uso da tecnologia e pelo interesse<br />

por viverem experiências e serem<br />

tratados <strong>de</strong> forma personalizada.<br />

Ambos fazem parte do mesmo<br />

ecossistema e precisam conquistar<br />

a atenção e a lembrança do<br />

consumidor, que só vai ao ponto<br />

<strong>de</strong> venda físico hoje se sentir<br />

atraído para isso. Para se reinventarem,<br />

os shopping centers precisarão<br />

proporcionar muito mais do<br />

que apenas compras. A solução<br />

encontrada por muitos é adotar<br />

o conceito multiuso, oferecendo<br />

também espaços para escritórios,<br />

clínicas médicas e serviços diversos,<br />

e entretenimento, que promovam<br />

boas experiências. Além<br />

das alternativas que o shopping<br />

oferece, que precisam sempre focar<br />

nas necessida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sejos dos<br />

consumidores, é preciso oferecer<br />

um ambiente bem cuidado, on<strong>de</strong><br />

arquitetura, iluminação natural,<br />

mobiliário e aspectos sensoriais<br />

têm papel muito importante na<br />

experiência. A criativida<strong>de</strong> no uso<br />

dos espaços disponíveis também<br />

conta e o pensamento <strong>de</strong> que o<br />

shopping só <strong>de</strong>ve ocupar espaços<br />

com lojas é coisa do passado. Os<br />

ambientes <strong>de</strong> co-working surgindo<br />

nos shoppings são um exemplo<br />

disso. A diversida<strong>de</strong> na forma<br />

<strong>de</strong> atrair o público faz a diferença,<br />

partindo do princípio que a qualida<strong>de</strong><br />

do mix é primordial sempre.<br />

Que exemplos já existem, <strong>de</strong> malls se<br />

transformando ao redor do mundo?<br />

Nos Estados Unidos, por exemplo,<br />

já há um movimento <strong>de</strong> ocupação<br />

dos espaços disponíveis<br />

<strong>de</strong> forma diferenciada. Acompanhando<br />

as mudanças, possivelmente<br />

haverá uma necessida<strong>de</strong><br />

menor <strong>de</strong> estacionamentos com<br />

todas as transformações que a<br />

mobilida<strong>de</strong> urbana sofrerá. Já precisamos<br />

pensar nisso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> agora.<br />

Em Berlim, um hotel modular<br />

substitui um estacionamento<br />

coberto no topo <strong>de</strong> um shopping<br />

center, encontrando um novo uso<br />

para a área. No Brasil, po<strong>de</strong>mos<br />

exemplificar com as festas juninas<br />

que realizamos no shopping<br />

e são tão tradicionais, sobretudo<br />

no Nor<strong>de</strong>ste. São festas que atraem<br />

um significativo público e antes<br />

eram realizadas na rua. Outro<br />

exemplo é o Carnaval na Rua do<br />

Rio, no Shopping Nova América,<br />

e a feirinha orgânica semanal<br />

com produtos frescos, no Iguatemi<br />

Porto Alegre, ou ainda o evento<br />

para cachorros, no Botafogo<br />

Praia Shopping. Vão <strong>de</strong> ações <strong>de</strong><br />

pequeno a gran<strong>de</strong> porte, o que<br />

vale é estar constantemente promovendo<br />

razões para o consumidor<br />

querer ir ao shopping. Outro<br />

conceito importante é o “Edutainment”,<br />

em que o shopping atua<br />

como educador através do entretenimento,<br />

como, por exemplo,<br />

o evento recente que realizamos<br />

no Rio Design Barra em parceria<br />

com a NASA, promovendo conteúdo<br />

relacionado às explorações<br />

espaciais. É uma satisfação enorme<br />

po<strong>de</strong>r usar os shoppings com<br />

bom conteúdo. Aqui o conceito do<br />

multiuso já virou uma realida<strong>de</strong> e<br />

faz parte <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 32% dos shoppings<br />

brasileiros.<br />

Como o consumidor brasileiro po<strong>de</strong><br />

ser comparado ao <strong>de</strong> outros mercados<br />

e que peculiarida<strong>de</strong>s você apontaria<br />

que dificultam ou facilitam a vida<br />

dos varejistas?<br />

A agitação e o caos das cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras, somados a altos índices<br />

<strong>de</strong> violência, fazem com que os<br />

shopping centers sejam os locais<br />

perfeitos para as famílias frequentarem,<br />

pois oferecem segurança e<br />

conforto <strong>de</strong>sejados. O número <strong>de</strong><br />

shoppings vem aumentando no<br />

Brasil, principalmente nas cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> interior, e existe shopping<br />

para todo o tipo <strong>de</strong> perfil. O fluxo<br />

<strong>de</strong> consumidores é, sem dúvida,<br />

maior aqui do que em shoppings<br />

nos Estados Unidos, por exemplo.<br />

Não apenas por conta da concorrência<br />

menos acirrada, mas porque<br />

há uma forte cultura <strong>de</strong> frequentar<br />

shopping. De acordo com<br />

uma pesquisa da Associação Brasileira<br />

<strong>de</strong> Shopping Centers, em<br />

2016, os consumidores brasileiros<br />

foram ao shopping sete vezes no<br />

mês, ou seja, mais <strong>de</strong> uma vez por<br />

semana. Ainda segundo o levantamento,<br />

os brasileiros estão entre<br />

os consumidores mais engajados<br />

nas re<strong>de</strong>s sociais, participando <strong>de</strong><br />

promoções, montam comunida<strong>de</strong>s<br />

e po<strong>de</strong>m recomendar ou reclamar<br />

dos produtos. Fica claro que<br />

os clientes estão mais conscientes<br />

<strong>de</strong> seus direitos como consumidores<br />

e buscam fundamentalmente<br />

por produtos personalizados,<br />

atendimento <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e um<br />

verda<strong>de</strong>iro engajamento com as<br />

marcas. Antes era só abrir as portas<br />

das lojas e colocar o produto<br />

para ven<strong>de</strong>r. Hoje, o consumidor<br />

está se tornando multicanal e po<strong>de</strong><br />

- e <strong>de</strong>ve - escolher a maneira como<br />

quer consumir o produto, além <strong>de</strong><br />

vivenciar uma bela experiência<br />

nessa jornada. Se antes era tudo<br />

ao redor do produto, hoje precisa<br />

ser ao redor do consumidor.<br />

O que você viu <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na última<br />

feira da National Retail Fe<strong>de</strong>ration,<br />

em Nova York?<br />

Os shoppings vão se transformando<br />

e evoluindo para acompanhar<br />

as preferências <strong>de</strong> um<br />

consumidor em mutação. Uma<br />

das palavras mais faladas hoje é<br />

a conexão. A formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s,<br />

<strong>de</strong> conexão entre pessoas e marcas,<br />

entre pessoas e negócios e<br />

até entre pessoas e pessoas. Na<br />

Ancar Ivanhoe, abraçamos o conceito<br />

<strong>de</strong> ser uma plataforma. Uma<br />

plataforma que conecta tudo e,<br />

através <strong>de</strong> um equilíbrio entre varejo,<br />

serviços e entretenimento,<br />

fortalece nossos produtos, gerando<br />

experiências diferenciadas e<br />

encantadoras para nossos clientes.<br />

Pensar na longevida<strong>de</strong> da<br />

indústria passa por proporcionar<br />

22 2 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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