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edição de 2 de abril de 2018

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marketinG & neGócios<br />

Imilian/iStock<br />

Ganância ou<br />

ignorância?<br />

O comportamento e os atos do<br />

Facebook representam falta <strong>de</strong> respeito<br />

Rafael Sampaio<br />

Mais do que a simples ganância por po<strong>de</strong>r<br />

e dinheiro soma-se a ignorância<br />

que a ganância cria ao esquecer um ponto<br />

básico do mundo dos negócios: a ética. O<br />

comportamento e os atos do Facebook nos<br />

últimos anos têm sido <strong>de</strong> uma sistemática<br />

falta <strong>de</strong> respeito com seus consumidores,<br />

seus anunciantes e seus acionistas.<br />

Não se trata apenas do escândalo mais<br />

recente, <strong>de</strong> repercussões globais, da esperteza<br />

da obtenção <strong>de</strong> dados e <strong>de</strong> seu mau<br />

uso por parte da CA - Cambridge Analytica,<br />

mas <strong>de</strong> uma longa sequência que revela<br />

uma forma <strong>de</strong> fazer negócios que se veste<br />

com o nome <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, mas é a melhor<br />

tradução <strong>de</strong> ganância por po<strong>de</strong>r. O último<br />

<strong>de</strong>les a gerar perplexida<strong>de</strong> havia sido<br />

em setembro passado, quando o Facebook<br />

foi flagrado pela 10ª vez em um ano com<br />

o fato <strong>de</strong> que havia erro nos números que<br />

divulgava em termos <strong>de</strong> sua audiência e<br />

outros aspectos <strong>de</strong>ssa plataforma, como o<br />

fato <strong>de</strong> alegar atingir 41 milhões <strong>de</strong> americanos<br />

entre 18 e 24 anos enquanto toda a<br />

população daquele país nessa faixa etária<br />

não passava <strong>de</strong> 31 milhões.<br />

Seu fundador e principal executivo,<br />

Mark Zuckerberg <strong>de</strong>morou 5 dias para falar<br />

após a eclosão do atual escândalo e disse<br />

bem menos do que <strong>de</strong>via. Na real, os fatos<br />

eram do seu conhecimento <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2015,<br />

mas ele e seus comandados, na prática, não<br />

fizeram nada a não ser mandar um comunicado<br />

burocrático – e não checado – para<br />

que a CA apagasse os dados dos 50 milhões<br />

<strong>de</strong> usuários.<br />

Em matéria <strong>de</strong> capa, a The Economist pegou<br />

pesado, após lembrar que o fundador<br />

do Facebook mantém o controle das ações<br />

com direito a voto: “O episódio se encaixa<br />

em um padrão estabelecido <strong>de</strong> negligência<br />

em relação à privacida<strong>de</strong>, tolerância à imprecisão<br />

e relutância em admitir erros”.<br />

Também não se <strong>de</strong>ve esquecer que a<br />

primeira ação do Facebook e da CA foi a<br />

<strong>de</strong> tentar impedir, com ameaças legais, a<br />

publicação da matéria pelo The Guardian.<br />

Sabe-se que a CA não é a única <strong>de</strong>senvolvedora<br />

<strong>de</strong> apps a fazer o que fez e a caixa <strong>de</strong><br />

pandora da maior mídia social do planeta<br />

po<strong>de</strong> revelar uma explosão <strong>de</strong> maus-feitos.<br />

Aliás, o Facebook não é a única mídia digital<br />

a fazer bobagem. Muita gente aposta<br />

que o Google, a maior <strong>de</strong> todas, é um queijo<br />

suíço <strong>de</strong> furos. Recentemente, o Google<br />

disse que fez ajustes para cumprir o GDPR<br />

- Regulamento Geral <strong>de</strong> Proteção <strong>de</strong> Dados<br />

europeu (que será obrigatório a partir <strong>de</strong><br />

maio próximo), mas silenciou em relação<br />

ao restante do mundo. O Facebook agora<br />

fala que a adoção <strong>de</strong>sses parâmetros será<br />

global. A conferir.<br />

Vale lembrar que no começo <strong>de</strong>ste ano o<br />

Twitter havia sido flagrado <strong>de</strong> calças curtas<br />

pela falta <strong>de</strong> controle na criação <strong>de</strong> perfis<br />

falsos e da anabolização <strong>de</strong> sua audiência.<br />

Será o começo do fim do faroeste na mídia<br />

digital, como alguns mais afobados estão<br />

se perguntando? Com certeza, não. A <strong>de</strong>ontologia<br />

dos megalí<strong>de</strong>res <strong>de</strong>ssa área está<br />

muito longe dos padrões dos <strong>de</strong>mais meios<br />

e nem eles nem o mercado publicitário parecem<br />

muito dispostos, neste momento, a<br />

mudar essa situação.<br />

O que leva a outra questão importante e<br />

incômoda: o que os anunciantes e agências<br />

e suas políticas <strong>de</strong> compliance estão fazendo?<br />

A rigor, eles não <strong>de</strong>veriam colocar sua<br />

publicida<strong>de</strong> nesses meios inconfiáveis.<br />

A solução <strong>de</strong>sse grave problema, que seria<br />

um resgate da mídia digital, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

todos, inclusive dos governos ao redor do<br />

mundo. Se o mercado publicitário falhar<br />

em fazer sua parte, governos agirão e isso<br />

será muito pior, porque reduzirá a liberda<strong>de</strong><br />

do uso responsável do digital – inclusive<br />

pelas empresas tradicionais <strong>de</strong> mídia, que<br />

ao longo dos anos apren<strong>de</strong>ram que a ganância<br />

por negócios tem <strong>de</strong> estar subordinada<br />

ao máximo respeito aos consumidores e à<br />

velha máxima que a melhor esperteza é a<br />

da honestida<strong>de</strong>.<br />

Rafael Sampaio é consultor em propaganda<br />

rafael.sampaio@uol.com.br<br />

44 2 <strong>de</strong> <strong>abril</strong> <strong>de</strong> <strong>2018</strong> - jornal propmark

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