Desvairadas: histórias de pessoas LGBT em Florianópolis, capital de Santa Catarina (2014)
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
Este livro-reportagem foi produzido de maneira independente e apresentado como TCC do curso de Jornalismo da UFSC em 2014, com o intuito de oferecer narrativas jornalísticas sobre pessoas LGBT que fujam do olhar de exotificação e patologização habitualmente encontrado em reportagens dos meios de comunicação hegemônicos. Por esse motivo, a reprodução deste material é livre e fortemente estimulada.
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notoriedade na época, mas que quase não se percebia olhando
da rua, porque a porta de entrada ficava em um paredão sem
janelas. Discreta e alternativa, a Oppium tocava músicas estrangeiras
de bandas como Pet Shop Boys e The Cure, e suas
festas eram consideradas as mais elaboradas, com shows pagos
toda semana. Embora no início a casa não tivesse nada de
GLS, a fama foi conquistada aos poucos com algumas reportagens
de jornal sobre o público de má-reputação, que incluía
ainda certos jornalistas e escritores da cidade.
Naquele final de ditadura militar, em razão da movimentação
noturna nos arredores da Praça XV, a polícia fazia rondas
de rotina, em geral acompanhada do Conselho Tutelar e
o Juizado de Menores. Quem fosse menor de idade e estivesse
nas festas já voltava para casa no camburão. Numa dessas
noites, o fusca do Departamento de Ordem Política e Social
(DOPS) desceu a rua do Masmorra, o policial botou a cabeça
para fora e advertiu: “Saiam agora, porque daqui a cinco minutos
nós voltamos e vamos prender mesmo”. No final, eles
sempre voltavam.
Nessa cidade pequena dos anos 1980, em que todo mundo
ficava sabendo de tudo, ser homossexual exigia discrição
e cautela. Um casal de lésbicas que quisesse sair às ruas tinha
que imitar o padrão binário de gênero, ou seja, homem e mulher.
Ainda dentro dos limites, as namoradas podiam sair com
roupas mais “femininas”, mas se estivessem ambas de “homem”,
apanhavam. Nessa época, algumas amigas de Guilhermina
foram proibidas de entrar em certos estabelecimentos e
até mesmo de usar o banheiro feminino. Para evitar os olhares
de esguelha, as piadinhas, os cochichos e as agressões, as meninas
inventavam mil artimanhas: em Porto Alegre, a prima
de Guilhermina fingia mancar quando andava abraçada com
a namorada. Desta forma, incomodavam-se menos e tinham
desculpa caso alguém resolvesse se intrometer.
Remonta a essa época o sonho que Guilhermina tem de
poder andar na praia de mãos dadas com a namorada. Na parte
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